Televisão

'Fina Estampa' traz personagens caricatos, tom cômico e vira alternativa leve ao telespectador

Novela vai substituir 'Amor de Mãe' na grade da Globo por causa do coronavírus

Lília Cabral é Griselda (ou Pereirão) da novela 'Fina Estampa'

Lília Cabral é Griselda (ou Pereirão) da novela 'Fina Estampa' Divulgação

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São Paulo

A novela "Fina Estampa", que fez sucesso na Globo no início dos anos 2010, volta a ser exibida no horário nobre da emissora nesta segunda-feira (23). Ela vai substituir "Amor de Mãe", suspensa em meio às medidas para evitar a disseminação do novo coronavírus.

Ainda não se sabe como será a exibição da trama de Aguinaldo Silva, nem por quanto tempo, mas o público vai poder rever, em versão compacta, dois dos personagens mais emblemáticos da TV brasileira: Griselda (Lília Cabral), mais conhecida como Pereirão, e Crô (Marcelo Serrado).

"Foi um sucesso absoluto, que louvou com um personagem brilhante o talento de Lília Cabral em uma trama que misturou drama, humor, valor social e crítica feroz do autor à hipocrisia social”, avalia Mauro Alencar, especialista em teledramaturgia e pós-doutorando da Universidade Católica Portuguesa.

Exibido entre os anos de 2011 e 2012, o folhetim mostra a história de duas mulheres: a rica e arrogante Tereza Cristina (Christiane Torloni) e a batalhadora Griselda, que se encontram e acabam se tornando rivais, primeiro pelo envolvimento de seus filhos e, depois, ao disputarem o amor de Renê (Dalton Vigh).

A novela se desenrola com um toque mais leve que “Amor de Mãe” e um tom cômico, principalmente com Crô, um gay caricato que trabalha como mordomo de Tereza Cristina, sendo constantemente maltratado pela patroa que ele idolatra. Destaque também para a relação dele com o motorista machão Balthazar (Alexandre Nero).

Para Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia pela USP (Universidade de São Paulo), a escolha por "Fina Estampa" pode ter tudo a ver com o momento atual de pandemia a quarentena: "É como se a Globo dissesse ‘novela não é mundo cão, vamos mostrar algo mais alegre’, e assim volta para o formato clássico de novela, com comédia, ação, vilão."

"É um incentivo às pessoas que estão em casa para mostrar Griselda e toda a luta dessa mulher. É uma metáfora para as nossas vidas. Vamos lutar com o pouco que temos", completa Mayer, que recorda também que toda a luta de Griselda é recompensada no desenrolar da trama, quando ela ganha na loteria.

A atriz Lilia Cabral, que viveu sua primeira protagonista na pele de Griselda, pensa da mesma forma. "Ela era solar, mesmo com todos os problemas que ela tinha com os filhos e com a vida sofrida dela. Em nenhum momento ela era chata; era sempre divertida. Mesmo nos piores momentos, ela sabia tirar lições e também dava lições de vida para todos."

Lília afirma que recentemente tentou ver algumas cenas de "Fina Estampa" no Globoplay e acabou maratonando os 20 primeiros capítulos. "Abdiquei de tudo na minha vida para poder me dedicar à novela porque sabia que durante um bom tempo seria chamada de Pereirão. Foi através dela que eu pude me colocar diante de grandes personagens e de grandes protagonistas que vieram depois."

Com todos esses elementos, "Fina Estampa" foi uma das novelas de maior público na última década, com uma média de 39,1 pontos na Grande SP (cada ponto do Ibope representava na época 67 mil lares). "Amor de Mãe", por exemplo, teve pico de 37 pontos na semana passada (cada ponto do Kantar Ibope representa 74,9 mil lares).

Mas há especialistas que ponderam esses dados e afirmam não ter tanta certeza de que a fórmula teria o mesmo desempenho hoje. Valmir Moratelli, pesquisador de teledramaturgia e doutorando da PUC-Rio, afirma que as questões trazidas em "Fina Estampa" eram latentes na sociedade daquela época.

"Griselda foi muito importante naquele momento, a gente tinha a primeira presidente mulher no Brasil, e discutia qual era o papel da mulher na sociedade. Assim como era também o crescimento da classe C, por que era mesmo um público crescente, uma realidade daquela época."

OUTRAS MUDANÇAS

"Fina Estampa" será a primeira das mudanças envolvendo as novelas da Globo. Depois dela, voltarão à grade "Novo Mundo" (2017) e "Totalmente Demais" (2015-2016), respectivamente nas faixas das 18h e das 19h, a partir de 30 de março. Elas vão substituir "Éramos Seis", que chega ao fim, e "Salve-se Quem Puder", que também será interrompida.

Já "Malhação - Todas as Formas de Amar" seguirá até abril, mas terá seu final antecipado para o retorno da bem-sucedida "Malhação - Viva a Diferença" (2017-2018). Concebida por Cao Hamburger e dirigida por Paulo Silvestrini, essa temporada foi vencedora do Emmy Internacional Kids 2018 e, recentemente, o Globoplay anunciou série derivada do folhetim, "As Five", com previsão de estreia neste primeiro semestre.

Segundo Mauro Alencar, as telenovelas já enfrentaram diversas intempéries ao longo dos 70 anos da TV brasileira, mas nenhuma com proporção que está tendo. Na década de 1970, por exemplo, foi a censura da ditadura militar que suspendeu produções, como "Roque Santeiro" (1975) e "Despedida de Casado" (1977).

Já em 1983, foi a morte do ator Jardel Filho, protagonista de "Sol de Verão", que impediu a continuidade da história, que foi encerrada em 17 dias --tempo de preparação para a nova atração. "Isso tudo atesta a maleabilidade e criatividade dos profissionais da TV e, em sentido mais amplo, o engajamento com a sociedade."

Mas como ficará "Amor de Mãe"? "Não creio que a suspensão temporária do folhetim irá afetar o seu desempenho. Estou em grande expectativa acompanhando o desenrolar de toda essa história enovelada entre vida e arte que sempre pautou a Globo", afirma o especialista.

Já em relação ao futuro de Thelma (Adriana Esteves), ele afirma não acreditar que ela se tornará uma Carminha na segunda etapa da novela, se referindo à vilã feita pela mesma atriz em "Avenida Brasil" (2012), que atualmente faz sucesso no Vale a Pena Ver de Novo. Mas algum toque de vilã deve atingir a personagem, segundo a autora Manuela Dias.

"Normalmente, vemos uma vilã durante toda a novela e no final ela se humaniza. Com Thelma estamos vendo o nascimento da vilã. Quando se vê encurralada pela possibilidade de perder seu bem maior [o filho Danilo], ela é capaz de fazer qualquer coisa. Perde freios sociais e afetivos que fazem com que nos importemos com os outros”, diz a autora.

Para saber de fato o futuro da personagem e de todos os outros de "Amor de Mãe" os fãs terão que aguardar.

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