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Autora de 'Éramos Seis' diz que foi difícil matar Carlos, mas tragédia era necessária para trama

Danilo Mesquita fala sobre o desafio de dar vida ao personagem

Carlos (Danilo Mesquita)
Carlos (Danilo Mesquita) - Paulo Belote/Globo
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São Paulo

A morte de Carlos (Danilo Mesquita) era algo conhecido do público de outras versões de "Éramos Seis", mas, ainda assim, o diretor artístico Carlos Araújo e autora Angela Chaves contam que receberam muitos pedidos para manter o personagem na trama. 

 

Diferentemente de Lola (Gloria Pires) e Afonso (Cássio Gabus Mendes), que pela primeira vez terão um final juntos, neste caso, dizem eles, não seria possível atender ao apelo dos telespectadores, já que a morte do filho mais velho é essencial para o desenrolar da trama. 

"É necessária para contarmos a história desta família, por mais querido que seja o personagem, por mais injusta que seja a situação e por mais que me doa mantê-la [a morte] nesta versão [...] A tragédia transforma a vida dos irmãos e da mãe ", afirma Chaves.

A autora acrescenta que a forma como ela acontece, por Carlos estar na hora e no lugar errados, é um dos momentos mais bonitos e impactantes da adaptação de Sílvio de Abreu e Rubens Ewald Filho (1945-2019) –ela se refere à novela de 1994, do SBT, no qual se baseia esta versão da Globo. No livro "Éramos Seis", de Maria José Dupré, o primogênito morre de úlcera, assim como o pai. 

Conservador e crítico ao irmão Alfredo (Nicolas Prattes) por se envolver em lutas políticas, Carlos é atingido por uma bala justamente no meio de uma manifestação dos paulistas contra o governo de Getúlio Vargas. Ele está ali por acaso, quando ia conversar com Felício (Paulo Rocha), homem casado que se apaixona pela sua irmã, Isabel (Giullia Buscacio).  

"Ele [Carlos] que defendia que as pessoas não fossem às ruas, é morto pelas mãos do estado. Ele defendia o estado, e o estado mata ele", diz Danilo Mesquita, intérprete do personagem.

A morte faz referência a uma manifestação histórica, que aconteceu em São Paulo, no dia 23 de maio de 1932 e que resultou nas mortes de três jovens oposicionistas: Miragaia, Martins e Camargo. No dia 28, morreria também Dráusio Marcondes de Souza. O movimento que visava derrubar o presidente Vargas ficaria conhecido pelas iniciais dos quatro: M.M.D.C. Logo depois, estoura a Revolução de 1932, que também será retratada na novela, já a partir da próxima semana. 

Para Mesquita, é essencial a novela falar sobre política, sobretudo no momento em que o país está vivendo. "​Essa é a forma histórica com que o Brasil se relaciona com esse tipo de manifestação, criminalizando. Nossa história é violenta nesse sentido. Nossa colonização foi violenta. (...) Eu acho bonito ter essa sequência, acho que as pessoas precisam refletir sobre isso."

DESAFIOS 

Natural de Salvador, Mesquita, 27, se mudou para o Rio de Janeiro aos 18 anos, onde iniciou a carreira artística trabalhando como modelo. Em seguida, começou a fazer teatro. Estreou em novelas em 2015, na trama das sete "I Love Paraisópolis" (Globo). Ele participou de outras produções, mas foi em "Segundo Sol" (2018) como Valentim, que se tornou conhecido pelo público. 

O ator afirma que interpretar Carlos foi um grande desafio, porque o personagem é muito diferente dele, tanto nas opiniões pessoais quanto nos costumes diários, forma de falar e gestos. 

"Eu sou muito expansivo, sou muito brincalhão, o Carlos não é, é um personagem mais sério (...) Eu acredito que tudo também está um pouco dentro da gente, essa ideia de personagem é muito do que a gente pode tirar de nós mesmos, então, conhecer esse lado meu mais sério, mais na minha junto com o que o Carlos me deu como personagem, foi muito interessante", diz. 

O fato de ser uma novela de época também foi um complicador para Mesquita, já que ele precisava limpar gírias, movimentos e posturais que fazem parte da sua forma de expressão, mas não combinavam com um jovem dos anos 1920. Por isso, conta o ator, no início das gravações ele se sentia "um pouco robotizado".

"Foi um trabalho de ir amaciando isso tudo. Isso foi muito desafiador, mas também foi muito bonito. Eu aprendi muito com a Glória e com o Calloni [Antonio, que deu vida a Julio]."

Segundo ele, toda a sequência em que Carlos é atingido por disparos foi muito especial, embora o ator diga que tenha ficado com medo de sentir alguma dor pelo mecanismo que dispara as balas. "Mas não senti dor nenhuma, foi ótimo. Foi uma experiência muito legal."

Carlos ainda será levado para o hospital e terá uma despedida emocionante da mãe e dos irmãos. Apesar das muitas brigas que teve com Alfredo, os dois vão fazer as pazes e Carlos pedirá que o irmão cuide da família. 

"A gente sempre brigou muito. Todo mundo dizia que você tinha que ser que nem eu. Mas, na verdade, eu que queria ser igual a você. Queria ter sua coragem, sua força para lutar. Mas eu não consegui...", afirma Carlos. "Carlos, isso não tem a menor importância, meu irmão!", responde Alfredo.   

Depois de sua morte, Lola vai descobrir que o filho deixou um seguro de vida que ela usará para quitar a dívida da casa. 


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