Primeiro reality brasileiro apresentado por drags estreia com segunda temporada confirmada
"Será uma ode às mulheres". A frase é de Ikaro Kadoshi, uma das três drags apresentadoras do "Drag Me As a Queen" ("Vista-me como rainha", em tradução livre), nova produção nacional do canal E!. Ao lado de Ikaro, estão Penelopy Jean e Rita Von Hunty, que conduzirão mulheres por uma verdadeira transformação.
Será a primeira produção da América Latina a ser comandada por drags queens e exibida em toda a região. No Brasil, o programa será às segundas-feiras, às 22h. Antes mesmo da estreia, o canal confirmou uma segunda temporada.
No reality, mulheres comuns são apresentadas às três drags. Elas se conhecem, conversam e passam o dia "entre amigas", trabalhando juntas. Divididas entre roupa, maquiagem e coreografia, as três apresentadoras vão sugerir nomes de "queen" para a convidada, que vai ser "montada" e, ao fim do dia, irá fazer uma performance para sua família.
Marcello Coltro, vice-presidente de marketing do E!, explica que a ideia do programa surgiu a partir de um curta documental chamado "Jessy" [direção de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge, 2013], no qual a atriz e dramaturga soteropolitana Paula Lice passa por todo um processo para se transformar na drag queen Jéssica Cristopherry.
Questionado se o programa pode ser considerado a versão brasileira de "RuPaul’s Drag Race", reality de competição entre drags que está em sua 9ª temporada (além de alguns "spin-offs"), Coltro afirma que não é esta a ideia. "Apesar dos dois realities serem apresentados por drag queens, 'Drag me as a Queen' não é uma disputa entre drags e está muito longe disso."
CORAÇÃO, CÉREBRO E CORPO
As três apresentadoras são personalidades distintas, mas uma brincadeira entre elas explica como se complementam. Ikaro é o coração, Rita é o cérebro e Penelopy é o corpo todo. E Ikaro, como o "coração do programa", se emocionava sempre.
"É muito bacana você ver as mulheres utilizando da nossa arte como terapia. Não somos três drags, somos três espelhos. A gente apenas reflete o que elas nos jogam, enquanto inseguranças, e fazemos com elas repensem", diz Ikaro.
A ideia do show é ajudar mulheres a reencontrar suas "drags interiores". A diferença, no entanto, está na transformação em si e na maneira como ela é conduzida. "Engana-se quem acha que nós vamos ensinar às mulheres alguma coisa. Aprendemos muito mais com elas do que ensinou", explicou Ikaro.
"A gente não está ensinando, só estamos lembrando-as do que elas nos ensinaram”, acrescenta Penelopy. Já Rita diz que o processo é lindo exatamente por isso. "Quanto mais ela se abria e se doava, mais a gente se abria e se doava. Por exemplo: elas contavam segredos obscuros e a gente se sentia confortável para contar os nossos."
Penelopy foi quem definiu melhor a postura das apresentadoras. "Somos Coaching Drags", brincou. "Não só elas foram transformadas como nós também. Aprendemos muito com as histórias de vida, com as lições que as participantes nos deram."
Carolina Jardim, 28, foi uma das participantes da primeira temporada. "Mudou minha autoestima e muito. Minha confiança, eu como mulher, mudei completamente. Eles sugeriram que eu cortasse meu cabelo, para sair da transição capilar e eu aceitei. Gostei tanto da mudança que já cortei mais três ou quatro vezes até hoje."
FEITO POR MULHERES
Com cerca de 90% da equipe formada por mulheres, a produção buscou tornar o ambiente mais confortável para as participantes. As apresentadoras relatam que o processo de produção do programa foi inclusivo e colaborativo.
"Desde o dia um é sempre assim: 'vocês, o que vocês acham?', 'vocês, o que vocês fariam?', 'vocês, como fariam a partir daqui?'. É um programa construído de forma coletiva, e isso é coisa de mulher. O coletivo é feminino", comentou Rita.
O programa continua na linha tênue entre empoderamento feminino e melhora da autoestima. Nem as apresentadoras nem a produção acreditam que o enredo invada o terreno do feminismo.
As drags acreditam que, como homens travestidos, suas vivências no "papel feminino" não são semelhantes às vivências de uma mulher e, por isso, não faria sentido falar de um movimento do qual não fazem parte. "Respeitar o lugar de fala", resume Ikaro. Elas falam da magia de ser uma queen e o poder transformador dessa "persona".
"Não queremos levantar nenhuma bandeira, mas mostrar um lado poderoso que toda mulher tem. É preciso ser confiante. Afinal, há uma força e uma beleza interna que também pode ser explorada externamente", afirma Coltro.
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