SAIU NO NP: Sequestro de cinco aviões marca Setembro Negro
Em setembro de 1970, as páginas do "Notícias Populares" voltaram-se ao noticiário internacional após terroristas aplicarem o golpe do século no ar.
A manchete "Sequestrados 4 aviões com 500 passageiros!", em 7 de setembro, inaugurou no "NP" a série de reportagens sobre o caso do sequestro simultâneo de quatro aeronaves Boeing: a TWA 741, a Swissair 100, a El Al 219 e a Pan Am 93.
Conhecidos como os "sequestros de Dawson Field", realizados no dia 6, os atos criminosos incluíram mais uma aeronave nos dias seguintes, com o sequestro do voo 775 da British Overseas Airways Corporation (BOAC).
Todos os "ataques" foram executados por integrantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP).
Os voos TWA 741, de Frankfurt, e Swissair 100, de Zurique-Kloten Airport, pousaram no campo de Azraq, no leste da Jordânia. Já o Pan Am 93 foi desviado, primeiro, para Beirute e, depois, para o Egito.
O sequestro do Boeing El Al 219, vindo de Amsterdã, que foi tomado pelos militantes Patrick Argüello e Leila Khaled, fracassou. Patrick foi baleado mortalmente por um comissário e sua parceira, Leila, que estava com uma granada, foi dominada e entregue às autoridades britânicas em Londres.
O quinto avião, o BOAC 775, vindo do Bahrein, foi sequestrado no dia 9 de setembro por um guerrilheiro da FPLP para pressionar os britânicos a libertar Leila Khaled.
Após retirarem todos os passageiros dos aviões, os membros da FPLP explodiram os aparelhos, antecipando um contra-ataque. "Terroristas dinamitaram 3 aviões e reféns somem" foi a manchete do "Notícias Populares" em 13 de setembro de 1970.
A maioria dos reféns fora levada para Amã (Jordânia). Depois da intervenção do papa Paulo 4º, 97 passageiros foram separados e libertados pelo comando da Frente Popular para a Libertação da Palestina.
Após o sequestro dos passageiros, a exploração do território jordaniano pelos guerrilheiros da FPLP fez com que a monarquia hachemita do rei Hussein reagisse e declarasse lei marcial em 16 de setembro. Era o início do Setembro Negro (de 17 a 27 de setembro), como ficou conhecido o período durante o qual o Exército da Jordânia entrou em confronto com as organizações guerrilheiras da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) para expulsá-los do país.
A guerra já se tornava regional envolvendo Síria, Iraque e Israel. A Síria fez apelo ao Egito, Argélia, Líbia e Sudão no sentido de intervir, imediatamente, na Jordânia para salvar da matança os revolucionários palestinos.
O "Notícias Populares" relatou no dia 18 de setembro que "Aviões dos EUA descem na Jordânia: Luta Continua", sobre os conflitos entre jordanianos e palestinos e ainda a expectativa de resgate dos passageiros. E o confronto entre o Exército da Jordânia e os guerrilheiros da OLP também foi destacado pelo jornal em 20 de setembro de 1970: "Guerra civil na Jordânia entra na fase do extermínio".
No dia seguinte, a brigada síria penetrou no território jordaniano para apoiar as forças palestinas, fato que ampliou a tensão na região e foi tema de reportagem no "NP": "Tanques sírios na Jordânia: EUA podem intervir".
A crescente tensão levou a Frente Popular para a Libertação da Palestina a declarar os passageiros sequestrados como prisioneiros de guerra. Isso motivou, no dia 23 do Setembro Negro, mais uma ação do papa, que ganhou destaque no "NP": "Papa pede a Israel: Mantenha o cessar-fogo".
O esforço pela paz -ou a pressão exercida por EUA e Israel- levou a Síria a retirar os tanques da Jordânia, e os EUA a deixarem o país. O saldo, porém, foi retratado pelo "Notícias Populares" em 25 setembro, quando relatou em "Caiu norte da Jordânia e cidades estão em chamas" que muitos confrontos entre forças jordanianas e palestinos estavam destruindo cidades, como Irbid.
No dia seguinte, quando o rei Hussein pediu o fim do derramamento de sangue e se comprometeu a respeitar novo cessar-fogo, em comum acordo com Yasser Arafat, líder da OLP, o "Notícias Populares" informou que "Exército jordaniano libera estrangeiros sequestrados". Nessa ocasião, 15 dos 54 reféns foram libertados.
O fim da agonia do restante dos reféns estava condicionado à libertação de Leila Khaled, que estava presa em Londres.
De acordo com a Embaixada da Jordânia em Londres, os últimos reféns dos sequestros dos aviões seriam postos em liberdade em 48 horas em troca de Leila Khaled e três membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina, que estavam em prisões na Alemanha Oriental e na Suíça.
A troca foi feita, e no dia 30 de setembro Leila embarcou rumo ao Cairo.
Já a guerra civil na Jordânia deixou cerca de 20 mil mortos e 100 mil feridos.
"Hussein no Egito deixa irmão herdeiro na Jordânia" foi a última reportagem da série daquele mês de setembro do "Notícias Populares", publicada no dia 28. Nela descreveu que o rei Hussein podia ter vencido no plano militar, mas parecia ter perdido a batalha política com os palestinos. Afinal, o pacto que firmara não impediu que os confrontos do Setembro Negro se prolongassem.
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