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Big Festival: Finalista, drag queen Amanda Sparks fala sobre preconceito entre gamers

'Não se pode fazer um personagem LGBT ou mulher, que os homens já colocam política no meio'

Amanda Sparks é finalista na categoria Big Diversity no Big Festival 2019
Amanda Sparks é finalista na categoria Big Diversity no Big Festival 2019 - Instagram/amandrag
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São Paulo

Se por muitas vezes o universo gamer é visto como machista, o Big Festival procura contornar esse estereótipo e promover a diversidade nos jogos eletrônicos.

A 7ª edição do evento, que começou nesta quarta-feira (26) e vai até este domingo (30) em São Paulo, procura divulgar jogos independentes da América Latina e expor novidades do mundo inteiro com encontros, palestras, workshops, competições e outras atividades. Em 2018, foram recebidos 36 mil visitantes.

Nesta edição, dentre as 20 categorias de premiação foi incluída a Big Diversity, que abraça a diversidade e as minorias. Quatro jogos concorrem o prêmio: “After Hours” (desenvolvido na África do Sul), sobre uma jovem com transtorno da personalidade borderline, “She Dreams Elsewhere” (Estados Unidos), um RPG que foca em uma mulher ansiosa, e dois brasileiros, “Huni Kuin: Yube Baitana” baseado no povo indígena Huni Kuin (Kaxinawá) do Acre e “Spikes on High Heels”, um jogo de vôlei estrelado por uma Drag Queen.

“Por incrível que pareça, em 2019, o ambiente gamer está mais machista e homofóbico do que nunca”, diz o carioca Henrique Oliveira, 36, idealizador do jogo de drags. “Não se pode fazer um personagem LGBT ou mulher, que os homens já colocam política no meio.” 

Sobre o conceito do jogo, desenvolvido em cinco meses, ele relata que “sempre quis jogar vôlei mas nunca tive tamanho". "Jogava com meus amigos, mas sempre errava. É uma das minha maiores frustrações. Sempre achei legal a mecânica de vôlei em jogos e queria brincar com esse negócio de drag queen de salto alto, algo impensável. Se bem que eu acho que eu conseguiria jogar...”

Surpreso por estar entre os finalistas, Oliveira conta que sempre se interessou por videogames e que eles o ajudaram especialmente na época da escola, quando sofreu bullying.

“Isso foi a chave para eu começar a me interessar por jogos. Com o tempo, comecei a pensar em fazer meus próprios games. Eu não tinha com quem jogar, então jogava com minha irmã, que é lésbica”, conta.

Mais tarde, já na faculdade, ele se encontrou dentro de um grupo de rapazes e começou a se montar como drag queen. A partir daí, virou Amanda Sparks, uma das drag queens que animam mais festas pop em São Paulo. Junto às amigas Penelopy Jean e Tiffany Bradshaw, formou o Trio Milano.

No entanto, o gosto por games persistiu, quebrando todas as barreiras de estereótipos. Em 2014, com o sucesso do jogo Flappy Bird, um amigo sugeriu a Oliveira que ele fizesse uma versão com sua Amanda Sparks.

“É algo tão fácil de fazer, que lancei o jogo. Foi bem no final de semana que Flappy Bird saiu do ar, porque o criador não aguentou a pressão e o sucesso. E acabou que meu jogo fez sucesso, com mais de 100 mil pessoas jogando”, diz ele, que na época, já era pós-graduado em games.

Hoje, o jogo, que leva o nome de “Flappy Dragqueen”, é o de maior sucesso em seu catálogo, junto com "Shade Forest”. Além desses e do que concorre ao prêmio no Big Festival, ele ainda tem mais quatro jogos –"Snapshot Diva", "Meon Party Games", "Punchin & Kickin" e "Double Dragqueens"– e está trabalhando em “Shade Forest 2”.

Na produção dos jogos, ele se encarrega das particularidades do início ao fim. “Eu desenho, animo, programo e lanço. Só nas músicas que eu não mexo, não entendo muito”.

Ainda assim, ele lamenta que seus jogos sejam mais jogados por terem o teor que tem. “Nos fóruns de desenvolvimento que frequento, parece que usam uma lupa para achar erros no meu jogo, sendo que elogiam outros bem piores. Eu apenas acredito que meus jogos são bons, e vou lançando. Não conheço muita gente que faça temáticas específicas como eu faço. Claro, teve o jogo do RuPaul, mas ele tem uma mecânica muito ruim, um estilo velho. É um tipo de jogo que foi feito por alguém que não entende de jogo.”

 Os comentários negativos são tão frequentes que Oliveira já os prevê no lançamento de um novo game. “Sempre tem alguém que questiona: 'Mas o que importa a sexualidade no jogo?”.

Para além dos palcos, da maquiagem e dos jogos, ele ainda mantém outra paixão: o cosplay. Oliveira costura suas próprias roupas para usar em eventos como Comic Con Experience, e se espelha principalmente em personagens da Marvel, como os de X-Men e Vingadores, e japoneses, como Sailor Moon.

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