Música

Vocalista do Years e Years afirma ter ouvido 'apenas coisas ruins' sobre Bolsonaro

Olly Alexander vê onda da direita como reação aos avanços LGBT

Da esq. para dir., Mikey Goldsworthy, Olly Alexander e Emre Türkmen, do trio inglês 'Years & Years'
Da esq. para dir., Mikey Goldsworthy, Olly Alexander e Emre Türkmen, do trio inglês 'Years & Years' - Instagram/Years and Years
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São Paulo

Vocalista do trio britânico Years & Years, Olly Alexander, 28, é gay e busca trazer isso para as letras das músicas. Em "Valentino", hit do álbum "Palo Santo" (2018), segundo do grupo que chegou ao topo das paradas no Reino Unido em 2015, o cantor usa o pronome masculino para descrever a paixão incontrolável provocada por um rapaz.

Foi nos palcos que o vocalista adquiriu confiança após sofrer bullying durante toda a adolescência por causa da própria sexualidade, experiência que contou em um documentário produzido da BBC. Mesmo ouvindo músicas de popstars abertamente gays, como George Michel, um ícone homossexual, Olly não identificava isso nas letras.

“Uma das razões de usar pronomes masculinos nas músicas é porque isso não é tão usual. Eu não havia ouvido antes e isso é muito importante pra mim”, afirma o vocalista, que encerrou o festival Lollapalooza no início do mês de abril, em São Paulo. Foi a primeira vez que  Alexander, o tecladista Emre Türkmen e o baixista Mikey Goldsworthy se apresentaram no Brasil. 

A relação deles com a música começou cedo. Mikey conta que começou a tocar piano aos quatro anos, influenciado pelo pai, que é músico. Emre diz que a primeira banda que ouviu foi Beatles e que aprendeu a tocar guitarra aos 15, com o desejo de fazer solos como Slash. Já Olly afirma que sempre gostou de atrair a atenção das pessoas e fez sua primeira composição aos dez.

Performatico, o vocalista se tornou ícone para o movimento LGBTs. Em entrevistas, ele aborda temas sobre saúde mental, depressão e suicídio entre jovens gays. Não por acaso, as letras do Y&Y falam sobre não se esconder e criticam a pressão da sociedade ao trazer experiências do cantor.

Após "Communion" (2015), que alcançou o topo das paradas britânicas com os hits "King" e "Shine", a concepção do segundo álbum da banda, "Palo Santo", vem justamente do desejo de encontrar um universo livre de padrões de gênero e regras, no qual a sexualidade possa ser vivida livremente.

Assim como Britney Spears e Christina Aguilera, artistas nas quais Olly conta ter se inspirado na juventude, ele também diz ter o desejo de deixar sua marca no cenário musical e ir além de um álbum pop. 

"Palo Santo", um universo em que humanos são usados para entreter androides, é apresentado ao público em um curta-metragem que faz referências à realidade distópica criada por Philip K. Dick em "Blade Runner".

Além dele, as autoras Ursula Le Guin e Margaret Atwood também foram citadas pelo grupo como fonte de inspiração. "Eu simplesmente queria criar esse universo em que você pudesse se livrar de tudo que conhece", disse Olly. "Estamos aguardando um convite da Netflix", sugeriu Emre. 

INSANIDADE COLETIVA DA DIREITA

Atentos à realidade, os integrantes observam com preocupação o crescimento de governos de direita pelo mundo. Olly define o momento como de "insanidade coletiva" e diz ver nisso uma reação ao apoio aos LGBTs. "Não fico surpreso quando vejo o apoio ao orgulho LGBT, mais pessoas LGBT visíveis, em posições de poder e influência, o que é incrível. Parece que há uma onda reacionária se movendo contra isso."
 
“Acho que há várias razões para isso, mas no momento penso que uma delas é que vivemos num momento de polarização e a internet está parcialmente por trás disso. Essas vozes extremas ganham alcance e querem ser ouvidas”, completa Emre.

A banda preferiu não opinar sobre o cenário no Brasil, mas Olly disse que ouviu "apenas coisas ruins" sobre o presidente Jair Bolsonaro. Admirador da cantora Pabllo Vittar, ele expressou “total respeito e solidariedade às pessoas LGBTs do Brasil, que são tão valentes, corajosas e inspiradoras".
  
Olly disse que sabia que tinha fãs há muito tempo no país, que sempre pediam a presença do grupo, mas que ficou completamente impressionado com a paixão das pessoas. No palco do Lollapalooza, o cantor recebeu e retribuiu às declarações de amor do público. Envolto numa bandeira LGBT, Olly disse ter sido essa uma das experiências mais loucas de sua vida. "Eu nunca esquecerei esse momento."

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