Factoides

HUMOR: Pequeno dicionário de insultos

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O que aconteceu com a criatividade das pessoas para insultar seus semelhantes? Não estou falando dos xingamentos tradicionalíssimos –no estádio de futebol, no trânsito e em outros lugares– envolvendo a mãe do adversário, algum orifício do outro motorista ou órgãos sexuais de variados formatos e tamanhos. As redes sociais oferecem todo um campo de experiências para afrontas novas ou para o resgate de belos insultos antigos, mas os brasileirinhos que as frequentam não saem do básico: "coxinha", "petralha", "reaça", "esquerda caviar", mesmo fora das eleições. É muita pobreza de espírito.

E, no entanto, já houve uma época de ouro dos impropérios. Na Renascença, o monge malucaço François Rabelais (1483-1553) usava capítulos inteiros de seu "Gargântua e Pantagruel" –livro maravilhoso; recomendo especialmente uma passagem em que Gargântua discorre em detalhe sobre as melhores maneiras de limpar a bunda– para descrever a troca de insultos entre vendedores de bolo de países rivais: "parlapatões, desdentados, ruços pacóvios, vagabundos, caga-na-cama, brutamontes, marotos, desordeiros beberrões, fanfarrões, vilões, patifes, ladrões, cretinos, gente sem eira nem beira, boiadeiros de bosta e pastores de merda e outros epítetos difamatórios". (O tradutor para o inglês, não contente em só traduzir, se empolgou e inventou mais umas dez agressões verbais que não constavam do original em francês.)

Mas claro que não precisamos recuar tanto no tempo –nem mesmo sair do Brasil. As pessoas deste país já se desfeitearam com muito mais classe. Assino qualquer petição no Avaaz que defenda a volta dos seguintes termos ao uso corrente:

  • Pulha

Melhor insulto da língua portuguesa. Segundo o dicionário Uai's, trata-se daquele "que é sem brio, sem caráter, sem distinção; cafajeste, calhorda, velhaco". O último brasileiro a usá-lo com regularidade deve ter sido Nelson Rodrigues (sempre este homem fatal): "estava eu conversando com um pulha, realmente pulha, da cabeça aos sapatos". A gente enche a boca pra dizer, e o som que sai é quase uma cuspida de desprezo: PULHA! Não é possível que uma palavra tão expressiva seja tão pouco usada hoje. Até porque o termo saiu de moda, mas os pulhas em si continuam proliferando.

  • Morfético

Reconheço que esse tem dois problemas. Um, óbvio, é a incorreção política. Outro é o fato de que só funciona bem se você tiver nascido no interior de São Paulo e não tiver perdido aquele incrível sotaque com erre retroflexo: MORRRFÉTICO! Percebam como o sinônimo "lazarento" não tem a mesma força –a não ser, talvez, quando serve para adjetivar "calor" ("que calor lazarento!").

  • Pega na benga e diz ailóviu

OK, esse não tem classe nenhuma. E pode ser interpretado como um convite. Mas quem disse que isso necessariamente é um problema, não é mesmo?


Sugestão de negócio para empreendedores culinários: bolos caseiros com recheio de paleta mexicana e cobertura de ceviche. Se separados esses três itens já são hype aqui na cosmopolita Essepê, juntos serão sucesso ao cubo. Certo?

(Aprendi com a pizza de PF da Pizzaria Batepapo que não há limites para a imaginação. MasterChef, aqui vou eu!)


Crédito: Mario Anzuoni/Reuters Nicki Minaj jamais poderá ser acusada de discrição. Mas bem que "my anaconda don't" podia ser jingle do Boston Medical Group
Nicki Minaj jamais poderá ser acusada de discrição. Mas bem que "my anaconda don't" podia ser jingle do Boston Medical Group

Se você está lendo este texto, é porque a Kim Kardashian não conseguiu quebrar a internet, mesmo sentando em cima. O problema é que a "rede mundial de computadores" ficou seriamente avariada –agora mesmo, escrevo soterrado pela avalanche de memes e piadas envolvendo o hiperbólico, faraônico e sesquipedal pandeiro da senhora Kanye West.

Queria muito bancar o sociologão e escrever um texto inteligente associando a impressionante ascensão da bunda em terras americanas –insira aqui hipertexto para Nicki Minaj e aquele clipe da anaconda lá– com o aumento da população negra e hispânica num país antes dominado pelos desbundados WASPs (protestantes brancos anglo-saxões). Em vez disso, apenas destacarei o fato de que, assim como no futebol, os ianques apenas começam a trilhar um caminho em que os brasileiros somos vanguarda, embora na retaguarda. Não troco uma Kim inteira por um décimo da circunferência do quadril da Valesca.


RUY GOIABA constatou que aquilo de "emagreça dormindo" é palha mesmo. Tudo bem que ele continua dormindo mal e não consegue emagrecer nem acordado, mas não caiam nessa, jovens

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