Factoides

HUMOR: Toma jeito, Bastião!

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Faz uns quatro ou cinco anos, sites do tipo "faça você mesmo sua história em quadrinhos", como o Witty Comics, viraram modinha de internet e atraíram um monte de quadrinistas wannabe antes de a moçada se desinteressar e ir fazer outra coisa, como sói acontecer. Eram excelentes para quem queria brincar de fazer HQs, mas nunca soube desenhar nem uma letra O com o copo, como o signatário (o copyright de "signatário" é do Elio Gaspari; todos os direitos reservados).

Pensei em alguns personagens que, por preguiça, incompetência e/ou falta de tempo, nunca se materializaram. Um deles era baseado em "Sina", aquela música do Djavan que explica que a luz de um grande prazer é irremediável néon. O Irremediável Néon era um personagem esfuziante, sempre elétrico, que brilha no escuro 24 horas por dia e não deixa ninguém dormir num raio de mais ou menos dois quilômetros. Sim, bem parecido com aqueles seus amigos cheiradores.

Mas agora estou pensando seriamente em desenvolver outro personagem perfeito para o Brasil destes tempos: o Bastião da Elite Conservadora©. Toda vez que tropeço nessa expressão em algum texto –e ela já me deu uma rasteira INÚMERAS vezes– não consigo deixar de imaginar uma pessoa, com nome completo ("Sebastião da Elite Conservadora de Jesus dos Santos de Orléans e Bragança, muito prazer"), hábitos de Rei do Camarote e o cabelo todo penteadinho do João Dória Jr.

Não se deixem enganar, porém, pelo cabelinho: Bastião é um vilão sórdido, responsável por todos os males que assolam a pátria amada (principalmente em SP, onde ele deita, rola e aparece na coluna da Mônica Bergamo). É como o Sandman do conto do E.T.A. Hoffmann, jogando areia nos olhos das crianças que não dormem –só que, em vez de os olhos caírem, as crianças crescem escrotinhas e reacionárias, lendo a "Veja" e acorrentando a empregada na casinha do cachorro.

Saiba, portanto: quando você ler sobre a desaprovação ao prefeito Fernando Haddad, ela não se compõe de um misto de gente que não vota no PT nem que Deus mande com gente que votou e, por algum motivo, não está satisfeita. Também não acredite quando disserem que a cidade de São Paulo costuma eleger a oposição, seja qual for. Não: é o Bastião que joga areia nos olhos da criançada para que ela não ame (como é que pode?) um carinha tão legal quanto o prefeito. E ainda faz uma cidade cheia de amor virar "protofascista" entre uma eleição e outra, dependendo do resultado. Toma jeito, Bastião!

Crédito: Danilo Verpa/Folhapress O Bastião não gosta desses cartazes fofinhos. Mas o Irremediável Néon acha tudo "lindo de viver".
O Bastião não gosta desses cartazes fofinhos. Mas o Irremediável Néon acha tudo "lindo de viver".

Textos como este do amigo Guy Franco já abordaram a lei que proíbe publicidade destinada às crianças e seus efeitos ruinosos na produção de quadrinhos ou de animações destinadas ao público infantil no Brasil. Eu acho que é mais uma manifestação de algo que parece ser TENDÊNCIA: o Estado-bedel, ou Estado-tia-do-prezinho. Você deve se lembrar: bastava gritar "tia, olha ele!" e a professora resolvia o problema, levando o mau elemento pra um passeio até a diretoria.

Hoje, pais e mães incompetentes pra dizer "não" aos filhos ou incapazes de desligar o botão da TV gritam "tia, olha ele!" e empurram sua responsabilidade para um ente superior. Aí o Estado, que é exatamente um misto de superpaizão com a tia do prezinho (entes superioríssimos), atende ao chamado e desliga tudo –inclusive a TV e os meios de patrocínio de quem preferia resolver o problema de outras maneiras. Não sei vocês, mas eu já tenho idade demais pra viver numa grande creche.


O signatário entra em férias na próxima semana. Cuidem-se, meninos: nada de destruir o mundo na minha ausência. Até.

RUY GOIABA acha graça em você praça, acha um tédio você prédio e acha batuta sua mãe, aquela distinta senhora.

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