Factoides

HUMOR: O Brasil só precisa de mil anos para dar certo

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Os fiéis leitores desta coluna talvez tenham estranhado os textos mais recentes. Enquanto o país chorava em desespero com o desmoronamento da Seleção, a besta do Aran falava de temas completamente nada a ver, tipo Brasília e Conan, o Bárbaro. Ok. Eu confesso. Usei o truque mais velho do jornalismo: a coluna fria.


A malandragem consiste em sair de férias e deixar alguns textos prontos para que o leitor não perceba que você deu o fora. Nunca funciona direito, claro. Mesmo uma coluna de humor precisa ter alguma ligação com os fatos ou corre o risco de ignorar a realidade, feito militante petista.


Fiz uma viagem pela Toscana, região central da Itália. Enquanto bebia Chianti Clássico e visitava cidades medievais muradas, pensei um troço. Tudo o que o Brasil precisa para dar certo são de mil anos. Um milênio. Só isso. As cidades toscanas que hoje atraem turistas alemãs com shorts mais curtos que a expectativa de vida na Faixa de Gaza foram favelões na Idade Média. Ruas de casas tortas que antes viviam entupidas de dejetos e Peste Negra, abrigam atualmente restaurantes e "osterias".


Hordas de godos, visigodos e engodos passaram mil anos na ignorância e ignomínia, mas acabaram por produzir uma cultura pulsante e dinâmica que influencia o mundo até hoje. Foi dali que saíram Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio e o Renascimento. Dos mesmos povos vândalos que vandalizaram o Império Romano. Sejamos otimistas. Mil anos passam rápido.

Crédito: Edson Aran

Aliás, por falar em vândalos, li nos jornais que o funcionamento do underground revolucionário brasileiro acaba de ser exposto pela polícia carioca. Pelo que entendi, a coisa é mais ou menos assim: o Exército das Lésbicas Maoístas Deprimidas (ELMD) é ligado ao Coletivo Anarquista Gororoba Unificado (CAGU) que, por sua vez, é financiado pela Igreja Materialista Rosa de Luxemburgo Bipolar (IMRLB), com apoio do PSOL (Partido Sem-Noção do Oba-oba e Lepo-Lepo) e liderado pela perigosíssima Sininho (Tinkerbell).


O bacana é que todo o esquema foi revelado por uma ativista chamada —rufem os tambores!— Anne Josephine Louise Marie Rosencrantz. Vou repetir o nome da moça. Anne. Josephine. Louise. Marie. Rosencrantz. Olha, na boa, pelo nome, só pode ser elite branca. Segundo o IBGE (Instigante Balacobaco de Sei Lá o Quê) é praticamente desconhecida a existência de Rosencrantz entre a parcela menos favorecida da população. "Aí, Rosencrantz, vai rolar o maior funk proibidão com o DJ MCBeth lá no Morro do Dinamarquês Maluco. Vamo' aí, mermão?"

Não rola, né?


Enfim, como eu dizia, Anne Josephine Louise Marie Rosencrantz era namorada do ativista Game Over, mas foi trocada pela badalada Sininho. O ódio cresceu no coraçãozinho revolucionário de Anne Josephine Louise Marie Rosencrantz e ela, claro, entregou todo o esquema da revolução.


Sexo! Inveja! Traição! Ambição! Tudo igualzinho a uma peça do William Shakespeare. Rosencrantz, falar nisso, é personagem de "Hamlet". Ele e Guildenstern são o alívio cômico da tragédia. Quando o príncipe dinamarquês fica doidão, andando feito barata tonta pelo castelo, a mãe manda buscar os dois colegas de faculdade dele, Rosencrantz e Guildenstern. O Guildenstern é da Mídia Ninja e o Rosencrantz é aluno do Pablo Ortellado. Não, tô brincando. Eles são dois cabeças-de-bagre, mas não chegam a tanto.


O inglês William Shakespeare é um autor renascentista, como o italiano Leonardo Da Vinci e o espanhol Miguel de Cervantes. Se eu fosse um idealista, veria na emergência de uma Anne Josephine Louise Marie Rosencrantz a evidência de que estamos finalmente abandonando a Idade das Trevas para entrar no Iluminismo. Só que não.


Falar nisso sabe qual é a diferença entre um cínico e um idealista? É o seguinte: o cínico é um cara que acha que o ser humano não vale nada. Já o idealista é um cara que acha que o ser humano não vale nada —exceto ele. Justamente por isso, os cínicos são os primeiros a ir para a guilhotina quando os idealistas tomam o poder. Ah! E também gente de nome pomposo tipo Anne Josephine Louise Marie Rosencrantz. Cheers!


EDSON ARAN é autor de seis livros. O mais recente, "O amor é outra coisa" (Jardim dos Livros), fala sobre o sentido da vida e tem mais de duzentos pensamentos cretinos. Também é roteirista. Seu site é o www.sitedoaran.com.br

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