Factoides

HUMOR: Ai, que saudade da Copa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

E agora, que metadona a gente vai usar pra conseguir se desintoxicar do mês de FORTES EMOÇÕES que foi esse período de Copa? Ainda mais sabendo que o que vem por aí é a) jogos do tipo Chapecoense x Criciúma; b) a espetacular mediocridade da política brasileira ("padrão Felipão") nos meses que antecedem a eleição –muito conchavinho, muita aliancinha, muitos minutinhos de tempo na TV, muita gentalha a soldo de partidos sendo gentalha nas redes sociais, nenhum projeto sério.

Muita gente por aí, sensata e pomposamente, nos diz que é hora de cair na real e encarar os grandes problemas que "estravancam o pogreço do Braziu", incluindo o legado negativo do Mundial (as dívidas com os estádios-elefantes-brancos, as desapropriações) e indo muito além dele. Estão certíssimos, mas senti falta de algum viciado dizendo ao Sr. Sensatez "nunca é hora de cair na real, amigo. A real é um horror por definição. Dá aqui mais uma dose intravenosa de Copa".

Enquanto 2018 não chega, com o Putin colocando todos os rivais da Rússia pra jogar no norte da Sibéria, acho que dá pra gastar alguma vela com esse defunto ainda quente que é o Mundial de 2014. As cabeças pensantes do jornalismo esportivo já escreveram tudo –e também o contrário– sobre a brilhante contribuição do Brasil para a média de gols do torneio (tomar dez em dois jogos não é pra qualquer um; melhor, só El Salvador, que em 1982 levou os mesmos dez numa partida só).

Crédito: Avener Prado - 18.jun.2014/Folhapress Vantagem do fim da Copa: poder circular pela Vila Madalena sem a horda de bárbaros. E sem nadar em lixo
Vantagem do fim da Copa: poder circular pela Vila Madalena sem a horda de bárbaros. E sem nadar em lixo

Meu ponto é outro: esse torneio deixou clara, de uma vez por todas, a diferença entre "trauma" e "vexame". 1950 foi traumático, com a seleção perdendo em casa uma final que só precisava empatar; leve-se em conta, porém, que são 64 anos de cronistas chegados a um dramalhão, tipo o Nelson Rodrigues, escrevendo sobre esse trauma, a rigor enterrado por Pelé, Garrincha e companhia já em 1958. Além disso, como escreveu alguém (talvez o Ruy Castro), se todo mundo que diz que estava no Maracanã em 1950 realmente tivesse estado lá, seriam umas 700 mil pessoas num estádio para 200 mil. Os três gols do Paolo Rossi contra a seleção de Telê Santana em 1982 –e esses, meninos, eu vi– também foram traumáticos.

Mas não há absolutamente vergonha nenhuma em perder por 2 a 1, placar apertado, para a grande seleção que era aquele Uruguai –e que já fora campeã de uma Copa, diferentemente do Brasil em 1950. Vergonha, vexame, catástrofe, hecatombe, NABA CÓSMICA é uma seleção pentacampeã do mundo, cheia de jogadores que ganham milhões na Europa, levar sete numa semifinal como se fosse um Haiti (quer dizer, se o Haiti conseguisse chegar a alguma semifinal). Diante disso, continuar chamando 1950 de "vexame" não só é ridículo como é desonesto e desrespeitoso com Barbosa, Ademir, Zizinho e os outros craques daquele time. E a história não é imutável: existe pra ser continuamente revista e reescrita.

O próprio "trauma" dos 7 a 1, se é que haverá, só poderá ser avaliado com o tempo e a ação corrosiva das gozações dos argentinos e de outros rivais. Mas espero que vergonha na cara fique entre as sequelas: é uma boa sequela, pedagógica, e pode levar nosso futebol a novas glórias se for bem usada (como em 1950 e em 1966). De todo modo, como lembrou um amigo no Facebook, as múmias da CBF disseram que 2014 faria o Brasil esquecer o Maracanazo. Conseguiram: parabéns!


RUY GOIABA está quebrando a cabeça pra saber o que escrever nas próximas colunas, sem Copa. Mas acha que dificilmente sairá algum texto sobre Chapecoense x Criciúma.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias