Factoides

HUMOR: Curtindo a Copa adoidado

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Vocês me perdoem pelo caráter monotemático desta coluna nas últimas semanas, mas não dá pra falar de outra coisa. Quando até num jogo pelo qual não se dava nada, tipo Argélia x Coreia do Sul, saem seis gols e o Brasil, apesar de golear no fim, toma sufoco de Camarões (que primeiro tempo medonho foi aquele?), não há dúvida: está tendo MUITA Copa. Certeza que terei síndrome de abstinência nesta sexta-feira, primeiro dia sem jogos do Mundial desde que ele começou.

Pra quem gosta de futebol, o nível geral está tão bom que a gente acaba esquecendo coisas como os cara do Charlie Brown invadindo a cidade —digo, a horda de chilenos invadindo o Maracanã, derrubando parede etc. E zebras como a Costa Rica acabam com os apostadores de qualquer bolão, mas deixam tudo mais divertido: Copa do Mundo equivale a falência total das tentativas "estatísticas" de previsão (alô, Nate Silver!), a Garrincha driblando o "futebol científico" dos russos em 1958.

E, pra quem não gosta do jogo em si, sempre há os jogadores com aquelas camisas coladinhas da Puma. Fora o anedotário em torno do evento: alemães cantando o hino do Bahia, japoneses faxinando estádio, ingleses pelados na torcida (argh!), gringos bêbados de um modo geral. A Copa da Zoeira tem diversão pra todo mundo -exceto talvez pra você, pobre morador do miolo da Vila Madalena que não conseguiu fugir antes das invasões bárbaras (minha inteira solidariedade).

Crédito: Michael Dalder/Reuters É, Felipão, aquele 1º tempo contra Camarões foi mais feio que essa sua cara. Com todo o respeito.
É, Felipão, aquele 1º tempo contra Camarões foi mais feio que essa sua cara. Com todo o respeito.

O que me leva a uma ideia comum entre alguns homens que querem proteger o esportezinho deles: "Copa é pra mulher e criança, quem curte futebol MESMO gosta de clubes" (principalmente os europeus, é o que fica implícito). É claro que todos que acompanham futebol o ano todo torcem por algum time, mas a frase é essencialmente babaca: é uma tentativa mal disfarçada de trancar uma porta que foi pelos ares há muito tempo e manter o futebol como um Clube do Bolinha só de nerds metidos a PVC ("gata, você é mais linda que a campanha do Nottingham Forest na Football League de 1977-78").

Não apenas o barato da Copa é justamente a inclusão de todos (torcedores profissionais e amadores) como ela continua sendo o lugar onde mitos se constroem sob os olhos do mundo. Maradona é MARADONA, com maiúsculas, muito em razão do que fez na Copa de 1986 -ninguém no mundo vai me convencer que é por causa do que ele jogou no Napoli. Vale o mesmo para Cristiano Ronaldo, que está pra "melhor do mundo" nesta Copa como meu dedão do pé esquerdo está para o Alain Delon; pode ser o excelente jogador que de fato é, mas ainda longe da estatura mítica de alguém como o artilheiro Eusébio. Enfim, deixem os Ferris Buellers, homens e mulheres, curtirem a Copa adoidado. Às vezes até se joga (muito) futebol nelas.


Breve retorno ao assunto da semana anterior: posso estar enganado (devo estar), mas até agora não vi uma crítica à "elite branca" que não tivesse sido feita por gente branca e de elite (com a possível exceção do Sakamoto, que seria, segundo o IBGE, "elite amarela"). É aquele tipo de coisa feia que, como o mau gosto e a classe média, é sempre defeito dos outros.

Não que a dita elite brasileira seja melhor que cocô de cavalo com desarranjo. Mas desconfio muito desse pessoal que vai à rede social mais à mão e sobe no caixotinho, com o megafone, pra gritar ao mundo o quanto é bonzinho. Nesses casos, apontar o dedo pra elite espoliadora (mostrar que está muito contra ela, apesar de pertencer a ela, e muitão a favor do povão) não deixa de ser uma forma fácil de "ser" povão sem passar pelos perrengues, pela miséria, pelo desrespeito, pela arbitrariedade do Estado. Procuração pra falar pelo povo todo mundo quer, mas o pacote "pobreza plus" ninguém compra.


RUY GOIABA não tem procuração nem pra falar por si mesmo, sobretudo depois da segunda dose de uísque.

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