Copa do Mundo: a prova cabal de que futebol é coisa de macho. Tá um tal de uniforme laranja, chuteira rosa choque, turquesa, quadriculada, camiseta justinha, coxa depilada, sobreposição de blusas, tiras elásticas prendendo o cabelo, meião branco com detalhe rosé.

E tudo com muito símbolos e nomes de marca. Merchan ostentação.

No jogo contra Costa do Marfim, assim que o gol do Japão foi marcado por um tal de Honda, minha primeira suspeita foi de "product placement". Será que assistiríamos a uma goleada executada por Hondas, Suzukis, Toyotas e congêneres?

Daí para imaginar o Silvio Santos tentando rebatizar um dos nossos jogadores de Jequiti foi um passo. Estou ficando paranoico.

Até das propagandas das placas laterais dos campos eu tenho acumulado pinimba. Porque, convenhamos: com o coió de 2 a 0 que a Espanha levou do Chile, e o Brasil empatando com o México, essa Copa está mais para Dreher: "Desce macio e reanima".

Está faltando uma pitada mais tupiniquim. Na condição de Capital Emérita e Elite-Mor do Brasil, São Paulo deveria apostar em um Itaquerão salpicado com banners de "Filtro Europa by Hebe". Para filtrar o volume morto feat. ressuscitado feat. zumbizado.

Ou poderíamos radicalizar de vez. Imaginem a final do Maracanã com as laterais dos campos repletas de "Pai Ambrósio traz a pessoa amada em 3 dias" lado a lado com "Pagode do Boladão Damas Grátis a noite inteira"? Sem esquecer do "Motel com almoço executivo grátis" e o hit das kombis com caçamba: "Não faço à frete".

Mesmo sem saber que seleções estarão no gramado, seria sucesso garantido. Trend topics no Twitter. A Copa das Copas instagramizada, mesmo sem wi-fi nos estádios. Porque "brasileiro não desiste nunca". Um consolo para os que não puderam comprar ingressos, como eu. Ou isso ou dava o calote no crediário da Renner.

E como o circo é de concreto armado, não dá nem pra levantar a lona e dar aquela espiadinha.

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DIEGO REBOUÇAS, 31, é roteirista e jornalista. Lançou em 2012 "Travessia", livro de poesias, pela Livros Ilimitados.