Juliana Lírio realiza sonho de desfilar na SPFW após vender pirulitos de chocolate nas ruas
Baiana correu atrás mesmo sofrendo bullying e preconceito
"Dizem que estudar é bom, mas em parte da minha vida estudar foi ruim para mim. Sofria bullying por ser magra demais e preconceito por ser negra e ter cabelo crespo. Todo mundo ria de mim. Foi quando eu vi nas revistas mulheres tão magras quanto eu que eram aplaudidas. Nesse dia decidi que seria modelo."
Definitivamente, não foi fácil para a baiana Juliana Lírio, hoje com 20 anos, deixar para trás a pequena cidade de Brumado, na Bahia, com pouco mais de 65 mil habitantes, e chegar a São Paulo, onde mora há dois meses. Mais do que o sonho de desfilar nas passarelas, ela queria trabalhar e dar uma vida melhor para sua família. Também queria provar para quem a criticava que era merecedora do sucesso.
E nesta sexta-feira (18), Lírio conseguiu. A jovem desfilou pela grife Apartamento 03 e também pela Isaac Silva na 48ª edição da SPFW, que acontece no parque Ibirapuera. Os passos mais importantes e significativos da vida dela. "Agora com a São Paulo Fashion Week no currículo, espero ter mais oportunidades, que o mercado se abra para mim e me absorva da melhor forma", conta.
O momento de glória das passarelas de um dos principais eventos de moda do mundo, porém, só foi conquistado com muito esforço e persistência. Decidida a participar de um workshop e das posteriores etapas da seleção de uma equipe que desembarcou em Brumado atrás de novos talentos, Juliana começou a vender pirulitos de chocolate pelas ruas e faróis do município. Ela queria bancar os custos de uma iminente viagem para tentar a sorte na cidade grande.
"Esse workshop custava R$ 240 e eu fiz até rifa para tentar pagar. Mas como o dinheiro não chegou ao total uma amiga minha bancou o restante. Comecei a produzir os pirulitos, primeiramente, para pagar a minha amiga. Com outra grana da rifa eu bancava os custos para fazer mais pirulitos”, lembra a modelo.
Em uma dessas saídas para vender seus doces de porta em porta, acabou conhecendo um empresário do ramo de produtos esportivos que resolveu ajudar. De acordo com Juliana, foi esse homem quem bancou transporte, alimentação e hospedagem para ela fazer as demais etapas do concurso.
"Mas nem tudo foi de mão beijada. De 50 pirulitos, eu comecei a produzir cem para poder eu mesma pagar meu agenciamento na Bahia", conta Juliana, que a essa altura, também publicava vídeos nas redes sociais falando sobre as vendas de pirulitos de chocolate e do sonho que tinha em se tornar uma modelo.
"Paulo Borges [gestor da semana de moda] compartilhou a história e chamou seguidores dele para me ajudar. Viralizou e eu nem acreditei na repercussão. Fui convidada a desfilar na São Paulo Fashion Week. Até então eu só tinha feito dois trabalhos como modelo na vida. Comecei esse sonho em agosto deste ano e olha onde cheguei", revela.
A modelo baiana já mora em São Paulo com algumas amigas modelos. A avó dela está em festa, mas assustada na pequena Brumado. "Falo que minha avó está surtando. Ela morre de medo de cidade grande, mas me apoia em tudo. Me dá forças. É minha base para seguir em frente”, diz a jovem, já emocionada.
Seu pai é alcoólatra e sua mãe sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e não teve mais condições de cuidar dela. Certa de que está apenas no começo de um sonho, Juliana dá dicas importantes para quem, assim como ela, luta por um lugar ao sol. "Diria para que não desista, tenha persistência. Nada vem fácil (se emociona)... É preciso acreditar em Deus, levantar e correr atrás", conclui.
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