Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Estilo
Descrição de chapéu The New York Times

Decorações com comidas falsas, cores e texturas voltam a ser tendência

Após pandemia, maximalismo volta no mundo da decoração de interiores

Sweets in a shopping basket Fake Food ( comidas falsas) Rawpixel.com - stock.adobe.com

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Emma Grillo
The New York Times

Embora um interior minimalista possa ter representado uma aspiração decorativa alguns anos atrás, parece que os lockdowns intermitentes e a escassez de diversos produtos causada por problemas nas cadeias de suprimento levaram as pessoas a reavaliar a estética de uma casa vazia.

O resultado é o ressurgimento do maximalismo na decoração de interiores, abarcando padrões, texturas e cores. Os armários embutidos e estantes, no passado, lisos e simples, agora são facetados; a mobília de linhas enxutas foi substituída por produtos curvilíneos e estofados; tendências com nomes pretensiosos como "cottagecore" e "grandmillenial" aspiram a elevar itens artesanais, de segunda mão e passadistas.

Por isso, não é surpresa que a comida falsa também esteja de volta. Velas em formato de frios e queijos, croissants feitos de resina, e luminárias em forma de gelatina estão em demanda. Bolos falsos em estilo retrô tomaram o Instagram.

A grife de joias Mociun criou falsas taças de vinho derramado e sorvetes derretidos, para acompanhar seus anéis de noivado de US$ 10 mil, cerca de R$ 56 mil. E as luminárias Pampshade, de Yukiko Morita, feitas com produtos de padaria reais preservados, custam até US$ 80, aproximadamente R$ 450.

Para John Derian, fundador da linha de produtos para decoração que leva seu nome, o ressurgimento da comida falsa é um ótimo sinal. Ele tem um bolo falso no balcão de sua cozinha há 14 anos, disse, e estima que esteja vendendo produtos cujo tema é a comida em sua loja há 20 anos, começando por uma boneca estufada criada por Nathalie Lete que tinha braços de salsicha e um filé na cabeça.

"Eu amo coisas engraçadas", ele afirmou. Hoje em dia, Derian também oferece produtos de comida falsa mais sofisticados aos seus clientes que não são tão fãs do kitsch, o que inclui bananas e cerejas de pedra entalhadas na Toscana, Itália, usando mármore da pedreira preferida de Michelangelo.

Há cerca de 10 anos, Derian também vende velas em formato de comida produzidas pela Cereria Introna, uma empresa italiana fundada por volta de 1840. Este ano, a Cereria Introna, cujas velas são todas fabricadas a mão e que fornece produtos a muitas lojas de design, viu uma disparada de tal ordem na demanda por suas velas nos Estados Unidos que não vem sendo capaz de atender todos os pedidos.

Derian muitas vezes exibe essas belezas de cera e parafina –que incluem velas em formato de bolos, roscas e tortas– na vitrine de sua loja. "Todo mundo responde a elas com alegria", ele diz.

UMA QUESTÃO DE GOSTO​

A comida falsa vem sendo usada como objeto decorativo há séculos. A porcelana "trompe l’oeil", fabricada na Europa do século 18, muitas vezes assumia a forma de frutas e verduras, entre as quais melões e ervilhas em suas vagens. Há exemplos de frutas feitas de jade e alabastro na China da dinastia Qing.

Nos últimos séculos, a comida falsa continuou a ser popular em ambientes mais utilitários. No Japão, objetos que simulam comida, conhecidos como "sampuru", são exibidos nas vitrines de restaurantes, e sua produção por artesãos pode custar centenas de dólares.

Nos Estados Unidos, falsos bolos de casamento podem ajudar a preservar a tradição visual de um bolo em camadas e ao mesmo tempo ajudar a reduzir o custo do bolo real. Mas quando o assunto é comida falsa usada como objeto de arte nas residências americanas, a designer Sarah Archer, autora de "The Midcentury Kitchen", livro lançado em 2019, sugere contemplar as décadas de 1950 e 1960, quando a comida falsa era tendência.

"Frutas de vidro eram muito populares nas décadas de 1950 e 1960, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, quando elas se tornaram mais acessíveis e interessantes, e chegavam a atrair americanos a viagens para a Itália", disse Archer recentemente.

Os turistas americanos voltavam de suas jornadas trazendo maçãs ou peras de vidro como recordação. Frutas falsas feitas de cera também eram muito populares, ainda que produtos feitos com esses materiais pudessem ser vistos como kitsch, a depender da audiência.

"Isso mais ou menos representa a domesticidade, e um certo esforço da classe média para embelezar seu ambiente, mas ao mesmo tempo tem um lado cafona", diz Archer. Para alguns dos artesãos e marcas que vendem comida falsa hoje, a questão do gosto –ou do gosto questionável– é o que os atraiu para a tendência, para começar.

Leanne Rodriguez, artista de Oakland, Califórnia que usa o nome artístico Elrod, começou a fazer luminárias de falsa gelatina durante a pandemia. Em entrevista recente, ela disse que queria que o efeito fosse "ligeiramente repulsivo".

Usando ideias para gelatinas mistas obtidas em livros de receitas da metade do século passado como inspiração, ela suspende cachorros quentes, legumes e frutas picadas feitas de argila em uma resina reluzente.

As criações dela, que portam a marca Mexakitchen e são vendidas como parte de sua linha de objetos de arte Mexakitsch, produzem um brilho fantasmagórico por conta das luzes de LED instaladas no interior. Rodriguez disse que o fascínio pelo kitsch foi o que a atraiu a produzir as luminárias, para começar, e que, quanto mais as produz, mais opulentas se tornam.

"Muita gente não entende", disse a artista, cujas criações custam de US$ 100 a US$ 3.500, o que equivale a cerca de R$ 562 a R$ 19,6 mil. "Mas as pessoas que entendem, amam".

CORRIDA DE BOLOS​

A alegria da comida falsa é algo que Jazmine Rogers, criadora de conteúdo em San Diego, recorda de sua infância. A avó dela tinha uma coleção de frutas falsas, e quando Rogers estava decorando sua casa, fez questão de incluir frutas falsas.

"Há alguma coisa nesse costume que me parece muito caseira", disse Rogers, 25. "É meio que brincar com a comida, como se a comida estivesse em lugares em que não deveria estar. Há algo de divertido nisso".

O bolo falso que decora a casa de Rogers foi feito por Jasmine Archie, artista de Austin, Texas, que se surpreendeu e deliciou ao descobrir que existe um mercado para suas criações excêntricas, coloridíssimas e inspiradas por doces.

"As pessoas ficaram chapadas", disse Archie, 25, sobre os primeiros bolos que fez. "Eles já existiam no mercado, mas era algo muito pouco explorado pela minha geração, em minha opinião. E eu pensei que poderia colocar aquilo à venda e ver o que aconteceria".

Archie acredita que parte da razão para a popularidade de suas peças está naquilo que os bolos, especialmente os mais coloridos e decorados, representam. "Quando vejo um bolo, sempre penso que existe uma celebração acontecendo", ela disse. "Acho que, quando as pessoas olham para um bolo, isso lhes traz felicidade. Comigo é assim".

É essa felicidade e diversão que inspiraram a Mociun, uma grife de joias finas, a começar a vender comida falsa em sua loja, em 2018. Caitlin Mociun, designer e fundadora da empresa sediada em Brooklyn, tem uma coleção pessoal de comida falsa cujos itens a marca usava como adereços em sessões fotográficas de produtos e para decoração de vitrines na loja.

Tantos clientes perguntavam se os produtos estavam à venda que Mociun começou a oferecê-los em companhia de suas cerâmicas e produtos de vidro. "Acho que o aspecto divertido disso atrai muita gente, com certeza", disse Marney Zaslav, diretora de compras e operações da Mociun.

Especialmente nos últimos anos, a comida falsa se tornou uma categoria de produtos distinta na Mociun, e os itens da coleção variam em preço de US$ 15 a US$ 400, cerca de R$ 84 a R$ 2.250. "Muitas dessas coisas, mesmo que só as usemos para decorar vitrines, fazem com que as pessoas parem para olhar, quando estão passando pela loja", disse Zaslav.

E recentemente, os consumidores não estão se limitando a devorar os falsos alimentos com os olhos. Também estão procurando por eles online. De acordo com o mercado Etsy, houve um aumento de 36% nas buscas por bolos falsos no site, nos últimos três meses, ante o período em 2020.

Também houve uma alta de 32% nas buscas por velas em formato de frutas, e de 16% nas buscas por ornamentos inspirados em frutas ou comida, no mesmo período. Além disso, houve um aumento de 1.113% nas buscas por velas em formato de cereais matinais –talvez a tendência mais quente no ramo da falsa comida, graças ao TikTok.

Dayna Isom Johnson, especialista em tendências no Etsy, atribuiu a alta nas buscas a dois fatores. "O primeiro é que os consumidores estão em busca de maneiras criativas e brincalhonas de criar brilho e energia em seus espaços", ela escreveu em um email. "A comida falsa é uma maneira fácil de injetar um senso de frescor em qualquer espaço, e dura mais que a versão real".

"A outra é a influência da mídia social", ela acrescentou. "Os vendedores do Etsy reagem rápido a tendências emergentes, mais rápido que as grandes lojas, e por isso vemos uma renovação constante de produtos que reflete algo que surja no ‘zeitgeist’ –nesse caso, as velas inspiradas por cereais".

Archer, a designer e jornalista, disse acreditar que os consumidores estejam em busca de escolhas de decoração reconfortantes e fantasiosas. A comida falsa "é uma forma relativamente barata, simples e criativa de tornar uma casa mais alegre e excêntrica", ela disse. "Creio que com certeza exista um desejo e uma vontade de brincar".

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem