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Descrição de chapéu The New York Times

Tatuagem de pandemia? Pessoas marcam a pele para recordar momento atual

Celebrar a vida e a força e lembrar entes queridos são motivações

Rachael Sunshine mostra a tatuagem que fez de um coração com pico do coronavírus - NYT
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Alyson Krueger
The New York Times

A cada dia, durante o lockdown, Samantha Barry, 39, editora da revista Glamour, caminhava ou corria pela West Side Highway, em Nova York. “Eu ia de Chelsea à Estátua da Liberdade”, ela disse. “Era meu momento diário de sanidade”.

Foi o maior período que ela passou em Nova York sem visitar sua família na Irlanda. Durante a pandemia, ela desenvolveu uma apreciação maior pela cidade que se tornou seu lar.

Barry sempre tinha admirado tatuagens. “Se forem feitas do jeito certo, são como joias”, ela disse. Mas nunca tinha chegado a uma ideia convincente sobre o que tatuar. “Era preciso que significasse alguma coisa se ficaria permanentemente em meu corpo”.

Mas, então, ela descobriu exatamente o que queria: um esguio “skyline” de Nova York. O tatuador Jonathan Valena, conhecido como JonBoy, que trabalha no Moxy Times Square, um hotel da cidade, fez a tatuagem que Barry queria, em seu pulso, no final de 2020.

“Vamos falar de 2020 quando estivermos velhos, mas agora tenho algo no meu corpo que simboliza onde estive”, ela disse. “É minha maneira de reconhecer o fato”.

Embora a pandemia possa ser um momento que muita gente quer esquecer, outras pessoas estão escolhendo o exato oposto e fazendo tatuagens para comemorar suas experiências. Alguns querem marcar o lugar em que passaram o ano, ou uma lição aprendida com o acontecido.

E algumas pessoas que sobreviveram à Covid-19 estão recebendo tatuagens que as lembram de que estão vivas e têm força. Alguns estão recebendo tatuagens para recordar pessoas que eles perderam.

Essas tatuagens relacionadas à Covid podem ser significativas não apenas para seus portadores, mas para as pessoas que as vejam. “Lembro-me do dia em que Sam fez sua tatuagem”, disse Valena. “Ela representava a força de Nova York e serviu para me lembrar de que eu não estava sozinho”.

Barry disse que muita gente de Nova York repara na tatuagem, quando ela participa de reuniões via Zoom. “Todo mundo ama”, ela disse. “Tentam identificar os edifícios no panorama”.

Valena diz que 90% de seus clientes o procuram em busca de uma primeira tatuagem e que depois da pandemia ele registrou uma alta em pedidos de desenhos relacionados à Covid.

Quando os clientes chegam ao estúdio de Valena, estão prontos para falar. O processo de fazer uma tatuagem já basta como uma espécie de terapia.

“Eles me contam suas histórias e estou lá para ouvir”, ele disse. “É aquele o tempo que terei em companhia deles, e eles podem descarregar. É uma sensação especial”. As pessoas parecem sentir uma urgência, como se não pudessem adiar mais a feitura da tatuagem.

“As pessoas tatuam palavras que lhes pareceram importantes, como ‘força’ ou ‘aceitação’”, ele disse. “Um dos meus clientes perdeu o pai por causa da Covid e mandou tatuar uma rosa em memória dele”. Para as pessoas que sobreviveram à Covid, uma tatuagem pode ser especialmente significativa.

Rachael Sunshine, que hoje vive em Coxsackie, Nova York, tem uma doença nervosa degenerativa que a coloca em alto risco de sofrer um caso sério de Covid-19. “Quando a doença surgiu, eu era uma das pessoas que supostamente morreriam caso a contraíssem”, ela disse. “Fui hospitalizada sete vezes”.

Em 26 de maio de 2021, seu 44º aniversário, ela foi a Cape Cod, Massachusetts, para celebrar ter sobrevivido e fez uma tatuagem que mostra um coração cercado por proteínas como as do coronavírus, que é o logotipo do Survivor Corps, organização que reúne sobreviventes da Covid-19.

“As lágrimas escorriam de meus olhos”, ela contou. “Eu disse ao artista que o ano tinha sido longo demais. Conversamos por duas horas sobre todas as coisas pelas quais passei”. “Meu tatuador agora se tornou parte da minha jornada e da minha história”, ela disse. “Temos esse vínculo”.

“As pessoas perguntam por que quero esse lembrete constante daquilo pelo que passei”, ela conta. “E lhes digo que já tenho lembretes constantes. Cicatrizes de cirurgia cardíaca. Medicação permanente. Ainda não consigo caminhar normalmente pela rua. Continuo a lutar contra a doença, e a tatuagem é meu distintivo de combate. Quando as pessoas falarem de Covid daqui a dez anos, vou poder dizer que a derrotei”.

Courtney Henley, 48, fundadora do Henley Content Lab, teve um caso menos sério da doença. Mas ainda assim ficou apavorada ao contrair o vírus em março de 2020. “A cada hora, eu verificava minha temperatura, minha respiração”, ela disse. “Ouvia ambulâncias passando lá fora o tempo todo, sem parar, todos os dias”.

No segundo trimestre deste ano, ela fez diversas tatuagens que a lembram de celebrar a cada dia. Entre outras há borboletas brancas e pretas em estágios diferentes de voo, e o símbolo de “respiração”, em sânscrito. “Quis me lembrar de que preciso respirar mais”, disse Henley. “Às vezes você fica tão tenso que se esquece de respirar”.

Depois de um ano tão pesado, algumas pessoas optam por imagens mais descontraídas. Katie Tompkins, 28, trabalha em um laboratório médico em Warren, Michigan. Ela viu em primeira mão a seriedade e custo da pandemia. “Eu trabalhava no laboratório que realizava todos os testes, e ver todas as coisas insanas que o vírus causava nas pessoas me deixou chocada”, ela disse.

Ela nunca vai conseguiu esquecer aquilo por que passou. Por isso, em vez de se concentrar no negativo, decidiu levar algum humor para a situação e tatuar um rolo de papel higiênico do lado interno de seu cotovelo esquerdo.

“Lembro muito de entrar nas lojas e ver as prateleiras vazias porque todo mundo estava fazendo estoques de papel higiênico”, ela disse. “Foi completamente insano”.

Foi a primeira tatuagem de Tompkins, e a imagem já serviu de assunto para muitas conversas com desconhecidos. Eles param para contar suas histórias sobre papel higiênico. O mais importante é que a tatuagem a faz sorrir e rir em voz alta, coisas que deseja fazer com mais frequência agora que está vacinada.

“Eu queria ter algo para o que pudesse olhar e pensar: 'meu Deus, lembra de quando aquela loucura toda aconteceu?'”, ela disse. “É minha maneira de levar alguma luz a uma situação nem tão boa”.

Tradução de Paulo Migliacci

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