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Estilo

Reuniões virtuais fazem homens aderirem à cirurgia plástica no rosto

Procura por preenchimentos e botox aumentaram na pandemia

"Tinha um pescoço de peru extremo", diz Jude Endres, um importador de Miami que fez um lifting de pescoço neste ano Gesi Schilling/The New York Times

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RUTH LA FERLA
The New York Times

Como muitos de seus contemporâneos, Eddie Wunderlich, personal trainer e cabeleireiro em Manhattan, passou boa parte do último ano no FaceTime e Zoom, e não se sentia preparado para os close-ups.

"Ao me ver na tela todos os dias, minha impressão era que eu parecia cansado", diz. As marcas por sob os olhos e a perda de definição na mandíbula o incomodavam. "Era exaustivo, olhar para mim mesmo."

Ele embarcou em uma série de intervenções estéticas. Começou por aplicações de Botox, mas não demorou a avançar para preenchimento facial nas bochechas e queixo, para a aplicação de plasma rico em plaquetas, e para o Morpheus 8, um procedimento que combina a aplicação de radiofrequências e microagulhas, para tornar a pele mais rija.

Essa "coleção de ajustes" lhe custou cerca de US$ 20 mil. (R$ 100, 4 mil, na cotação atual). "É muito dinheiro, mas considero como um investimento", diz Wunderlich. "Um personal trainer não pode parecer cansado. Agora, se estou cansado, os clientes não percebem." "Mudei de perfil", ele acrescenta. "Agora me sinto enérgico e descansado."

A pandemia intensificou o interesse por cirurgias plásticas, permitindo às pessoas que têm tempo e dinheiro de sobra passem por uma sutil renovação cosmética. Muitos homens, especialmente, aproveitaram o lockdown prolongado (e o período longe do escritório) para realizar procedimentos eletivos.

"Um dos segmentos de maior crescimento na cirurgia plástica é a fatia de mercado representada pelos homens", afirma Jacob Steiger, cirurgião plástico em Miami cujos clientes homens incluem pilotos de companhias de aviação, administradores de fundos de hedge e alguns operários da construção civil. Eles respondem por 25% de seus clientes, agora, diz Steiger, ante cerca de 10% antes da pandemia.

Amy Shecter, presidente-executiva da EverBody, uma clínica de dermatologia cosmética em Manhattan, à qual Wunderlich recorreu, registrou alta semelhante de demanda. "Vimos uma alta notável no número de clientes homens ou que se identificam como homens", diz Shecter, ao acrescentar que a idade média dos clientes é de 37 anos. Alguns homens da geração milênio não hesitam em avaliar rigorosamente a aparência.

"Vejo-me na tela e penso que seria bom mudar isso ou aquilo", diz Moti Ankari, 29, influenciador de mídia social que se especializa em estilo e cuidados pessoais masculinos. "Posto fotos minhas no Instagram e sou muito crítico com relação à minha aparência. Mas também me preocupo com o que as outras pessoas pensam."

Ankari passou por 15 sessões de Emsculpt, um aparelho que usa energia eletromagnética para deflagrar contrações musculares intensivas e promete promover um tom abdominal firme. Ele planeja começar a fazer aplicações de Botox, dentro de um ano. "Especialmente com a aproximação do verão, todos queremos nos exercitar mais e comer saudavelmente, mas algumas pessoas procuram atalhos."

Tim Cush, 31, executivo de relações públicas cujos clientes incluem a EverBody, começou a fazer aplicações de Botox aos 28 anos, e não é avesso a intervenções mais invasivas. "Minhas rugas foram quase inteiramente alisadas", diz Cush, que gasta entre US$ 1.000 e US$ 2.000 (entre R$ 5.000 e R$ 10 mil, na cotação atual) ao ano por aplicações trimestrais de Botox.

"Refrescar a aparência do rosto está se tornando parte regular das rotinas de 'wellness'", diz Cush. "À medida que envelhecer, não hesitarei em avaliar outras categorias de intervenção". Homens mais velhos também começam a examinar seus rostos de maneira mais atenta.

"Atendia ligações via Zoom das pessoas e a imagem parecia ter um filtro de maionese", afirma Ed Burstell, consultor de varejo em Nova York que descreve sua idade como "entre os 50 anos e a morte". Ele faz visitas regulares ao dermatologista para tratamentos com laser de modo a remover manchas causadas pelo sol, preencher suas bochechas e tratar a testa com Botox. "Se você vai se encontrar pela primeira vez com um cliente novo via Zoom, não quer parecer com o naufrágio do Hesperus."

Há colegas dele que sentem a mesma coisa. Na New York Dermatology Group, a clínica a que ele recorre para tratamentos, "antigamente era raro encontrar outro homem na sala de espera', diz Burstell. "Agora há um monte de homens esperando."

O marketing via mídia social pode estar contribuindo para o recuo visível daquilo que um dia foi um tabu. "Esse negócio tem um lado viral", diz Shecter, da EverBody, que trabalha com influenciadores, como Ankari. "Quando eles postam, vê-se uma reação imediata de homens que nos enviam imagens de influenciadores e fazem reservas conosco."

Kevin Sadati, cirurgião plástico em Los Angeles e especialista em plásticas faciais, posta vídeos em suas contas do YouTube e Instagram que mostram homens fazendo preenchimentos faciais, lipoaspiração e implantes no queixo.

"As pessoas se sentem confortáveis ao me ver nos bastidores entrevistando homens rejuvenescidos", diz Sadati. "Assim é possível atrair seguidores que podem se dispor a atravessar o continente para uma consulta com você."

"Especialmente com a aproximação do verão, todos queremos nos exercitar mais e comer saudavelmente, mas algumas pessoas procuram atalhos", diz Moti Ankari
"Especialmente com a aproximação do verão, todos queremos nos exercitar mais e comer saudavelmente, mas algumas pessoas procuram atalhos", diz Moti Ankari - Donavon Smallwood/NYT

O TikTok também emergiu como plataforma para que cirurgiões plásticos promovam Botox, plásticas nas nádegas e redução de peito para homens. No começo do mês, o cirurgião plástico Douglas Steinbrech, de Manhattan, postou um vídeo no TikTok demonstrando uma "transformação de dez minutos" que dá a um rapaz jovem a aparência de um modelo masculino, com preenchimento da mandíbula e das bochechas, e a ponta de nariz erguida por meio de preenchimento.

A Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos está tentando reduzir o estigma da cirurgia plástica para homens e divulgou um vídeo curto em março promovendo cirurgia nas pálpebras, lipoaspiração e outros "ajustes masculinos". "A maioria dos homens que nos procuram já está em forma, mas ainda resta alguma área teimosa", diz a cirurgiã plástica Karen Horton, no vídeo. "E com isso a lipoaspiração é o caminho."

Embora as mulheres há muito recorram a cirurgias para corrigir pálpebras e definir melhor as bochechas, os homens, em geral, pedem por um look mais convencionalmente masculino. "Os homens não se preocupam por ter bochechas grandes", diz Sadati. "O mais frequente é quererem um pescoço definido e sem papada, ou uma linha de mandíbula mais pronunciada e aguda."

E os homens que passam por plásticas nas pálpebras superiores tendem a fugir aos olhos arredondados "tipo Bambi" que muitas pacientes mulheres escolhem. Quanto ao Botox, os homens optam por parecerem naturais e refrescados, mas não congelados. A meta é a sutileza.

"Trabalhei na área de construção e convivi com muitos operários, e não queria que eles soubessem que faço esse tipo de coisa", diz Bill Reardon, 62, que está semiaposentado de seu posto como diretor de uma companhia de gás natural, e mora em Tampa, na Flórida. Ele se tornou mais franco quanto ao seu uso de Botox, relaxantes musculares e preenchimentos, após se afastar do trabalho cotidiano.

"Os amigos me viam e comentavam que alguma coisa parecia diferente, e perguntavam o que eu estava fazendo, se estava malhando", diz. Já as amigas mulheres percebiam na hora. "E por isso eu falava com elas sobre o que tinha feito. E depois comecei a contar para os seus maridos e namorados".

Essa franqueza, ele sabe, tende a ser geracional. "Gente mais jovem, como meu filho —ele tem 27 anos e já usou Botox como preventivo— conversa sobre esses assuntos o tempo todo", diz Reardon. Mas alguns dos contemporâneos dele continuam ressabiados, e têm medo de sair de uma cirurgia parecendo um boneco Ken.

Jude Endres, 62, não está preocupado, porém. "Não sou o cara que vai se transformar no homem de plástico." Importador semiaposentado, ele vive em Miami e não gostava da frouxidão da pele de seu pescoço “Eu estava sofrendo de um caso extremo de pescoço de galinha", diz.

"Chegou ao ponto de eu sempre colocar a mão na frente do pescoço para escondê-lo quando falava com as pessoas. Isso se tornou um hábito, e estava mexendo comigo psicologicamente", afirma. No começo do ano, ele procurou Steiger para uma plástica de pescoço e da porção inferior do rosto. E gosta dos resultados. “Agora posso abrir os braços e conversar com as pessoas”, diz. "Minha vida mudou.”

Na visão de Endres, o procedimento nada tem de extraordinário. "Se você tem uma enorme verruga peluda no nariz, não hesita em removê-la", diz. "Qual é a diferença entre isso e um problema no pescoço?"

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci.

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