Nova geração de vinicultores de Jundiaí diversifica negócios e atrai turistas para região
Pertinho de São Paulo, Rota da Uva percorre adegas e restaurantes
Vinho escolhido pelo papa, adega tocada só por mulheres e até produtor que conversa com a uva. A menos de uma hora da capital paulista, em Jundiaí (a 58 km de SP), é possível conhecer essas e outras curiosas histórias de uma nova geração de produtores de vinho que retoma os negócios familiares e, de quebra, aquece o turismo da região.
Essa história começa no fim do século 19, quando os primeiros imigrantes italianos se fixaram no município e começaram a plantar uva. Como na Itália, eles logo passaram a fazer vinho também.
Com o passar do tempo, porém, muitos filhos e netos desses imigrantes decidiram abandonar a lavoura em busca de outros sonhos. Mas, recentemente, uma nova geração resolveu retornar ao campo com novas ideias de negócios. Ao mesmo tempo, cuidou de preservar as tradições e a cultura do passado.
Foi assim que um grupo de descendentes de imigrantes decidiu se unir e criar a Rota da Uva, em 2016. O objetivo era simples: atrair turistas para dividir histórias e conhecimento. Hoje, nove adegas integram o roteiro, que também conta com restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.
Em sua maioria, são adegas pequenas, que fazem vinho artesanal, vendido por cerca de R$ 20 a garrafa. Uma delas é a Marquesim, tocada hoje por Evandro Marquesim, 41 anos, ex-caminhoneiro que largou a estrada para investir no negócio do pai. "Quem compra o nosso vinho compra compra a nossa história", diz.
Marquesim afirma ter um cuidado todo o especial com seu vinho. “Eu chego pela manhã, falo bom dia. Se vou mexer, peço licença. Não é misticismo, não, ele fica mais gostoso, mesmo, porque o vinho é vivo, e ele absorve tudo ao seu redor”, garante.
Já a Adega do Português é a única da Rota que não tem a genética italiana. Foi fundada por imigrantes portugueses e hoje quem cuida são três mulheres. Angela Moniz, filha dos fundadores, até pensa em mudar o nome para Adega das Portuguesas.
“Um dia me dei conta de que, se eu fosse tocar a adega, não faria como uma adega machista dos anos 1960. A mulher merece e tem capacidade de ocupar espaço na agricultura”, diz. Ela também investe em técnicas diferentes de plantio e novos produtos, como no cooler, bebida servida gelada e feita com vinho de mesa, suco e gás.
Já na Na Adega Maziero é possível encontrar um vinho que já foi servido até a papas. Quem conta a história é Clemente Natal Maziero, 53 anos, um dos responsáveis pela adega, que tem 127 anos de história em Jundiaí. Segundo ele, em 2007, quando o papa Bento 16 visitou o Brasil, uma comissão da Igreja católica pegou 23 amostras de vinho rosé fabricadas no país para uma seleção.
O produzido na adega foi o escolhido para a missa realizada pelo sumo pontífice no campo de Marte, em São Paulo. Em 2013, quando o papa Francisco esteve no Brasil, novamente, o vinho rosé Maziero foi servido na missa realizada no santuário de Aparecida. Desde então, a demanda pelos vinhos da família Maziero dobrou.
UVA NIÁGARA DÁ ORIGEM AO VINHO ROSADO TÍPICO DE JUNDIAÍ
Uma mutação natural ocorrida em Jundiaí em 1933 foi responsável por dar à uva niágara, até então branca, um tom rosado. Essa semente foi, então, multiplicada pelos produtores e se tornou a principal produzida na região.
Ela também dá origem ao vinho rosado, tradicional nas adegas da cidade. Mas outros tipos de uva também são plantados por lá, como moscatel, corbina, sauvignon e até uma híbrida, desenvolvida especialmente para o solo local: a máximo, a partir da mistura da isabel e seibel.
Os próprios produtores ponderam, porém, que não se deve comparar os vinhos desenvolvidos ali com importados, como chilenos ou argentinos, já que o tipo de uva e as condições de plantação são diferentes.
Além dos vinhos, as adegas de Jundiaí também já investem em outros produtos, como cachaça, espumantes e cooler (bebida formada por vinho de mesa, suco e gás).
A Rota da Uva conta também com cervejarias artesanais e restaurantes. E há, ainda, uma gigante do setor: a Cereser, que oferece muitas bebidas além da famosa sidra.
COMO CHEGAR
De carro: o trajeto mais rápido leva em torno de 50 minutos (sem trânsito) e vai pela rodovia Bandeirantes por quase todo o caminho. Já chegando em Jundiaí, o motorista deve pegar a saída 47 para a rodovia Anhanguera por mais nove quilômetros. O pedágio sai R$ 9,20
De ônibus: a Cometa tem passagens a R$ 17,37 por trecho, e a Rápido Fênix a R$ 23,50 por trecho, ambas saindo do Terminal Rodoviário Tietê. A viagem dura cerca de uma hora
De trem: Aos sábados, com exceção do segundo sábado de cada mês, é possível ir até Jundiaí no Expresso Turístico, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O passeio a bordo de uma locomotiva da década de 50 sai às 8h30, da Estação da Luz, e retorna às 16h30, da Estação Jundiaí. Durante a viagem, que dura cerca de 1h30, monitores fornecem informações históricas sobre a ferrovia. Custa R$ 50 para uma pessoa, preço que vai diminuindo conforme o número de turistas. Bilhetes devem ser comprados com antecedência na Estação da Luz. Informações no www.cptm.sp.gov.br
Passeio guiado
É possível fazer a Rota da Uva por conta própria, mas também existem tours guiados todos os sábados, com exceção do segundo sábado de cada mês. Eles partem da estação ferroviária de Jundiaí, por volta das 10h30. O passeio é feito de ônibus e inclui duas adegas, um restaurante e uma loja especial. Custa R$ 25 por pessoa. Informações pelo telefone (11) 95778-0811
A jornalista viajou a convite da Associação da Rota da Uva
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