Diversão

Cenário de 'O Tempo Não Para', Freguesia do Ó vira ponto turístico e atrai novos consumidores ao bairro

Milton Gonçalves lembra quando morou na região: 'Matei saudade'

Luizinho do Pandeiro, 62, no largo da Matriz, onde foram gravadas cenas do folhetim
Luizinho do Pandeiro, 62, no largo da Matriz, onde foram gravadas cenas do folhetim - Rubens Cavallari/Folhapress
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Descrição de chapéu Agora
Tatiana Cavalcanti
São Paulo

O tradicional largo da Matriz, na Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo, virou cenário da novela "O Tempo Não Para", da Globo, e moradores e comerciantes do bairro fazem festa quando Dom Sabino ou Eliseu, personagens interpretados por Edson Celulari e Milton Gonçalves, respectivamente, entram em cena no bairro. Nos bares, nos restaurantes e na igreja não se fala outra coisa.

Na trama, a rica família de Dom Sabino fica congelada nas geladas águas da Patagônia, em 1886. Os corpos foram conservados em icebergues, que chegam ao litoral paulista nos dias atuais. Um dos maiores choques para Dom Sabino é voltar à sua antiga fazenda e encontrar, no lugar, o imenso bairro da Freguesia do Ó, terras que não mais lhe pertencem.

Um dos marcos da Freguesia, que completou 438 anos quarta-feira, é o largo da Matriz, onde se passa parte da novela. O bairro é famoso pela gastronomia variada, com comida alemã, nordestina, massas e coxinhas.

A corretora de imóveis Adriana Barboza Capeloci, 53, se enxerga na novela quando vê, nas cenas, os locais que frequenta desde criança. "Vejo na tela a paróquia [Nossa Senhora do Ó, no largo da Matriz], da qual participo ativamente. Foi lá onde fiz a primeira comunhão e a crisma. Quando passam as imagens do bairro, é como um reconhecimento, uma satisfação."

Até o comércio está feliz com o aumento de clientes “estrangeiros”, de diversas regiões da cidade, grande parte para ver “a igreja do Dom Sabino e do Eliseu”. A trama trouxe mais fregueses para o restaurante O Alemão, conta a gerente Ingrid Zoppi, 25. “Sabemos que esse aumento é por causa da novela pelos comentários”, afirma.

Morador do bairro há 50 anos, o garçom José Pereira Guimarães, 64, pede à mulher para chamá-lo quando a novela começa. “Espero que eles [atores] voltem para gravar aqui”, diz, sobre as cenas iniciais, gravadas no bairro (agora, a novela é feita no cenário cenográfico, no Rio).

Até a página do Facebook Portal do Ó ganhou mais adeptos, segundo o editor Rodrigo Carvalho, 37.  "Havia média de 50 mil visualizações por dia e esse número chegou a 250 mil quando a novela começou.”

REPERCUSSÃO SURPREENDE ATORES

O ator Edson Celulari afirma que a reação dos moradores do bairro aos personagens “é surpreendente, porque todo mundo vem falar e traz diversos ângulos diferentes, seja pelo fato do personagem Dom Sabino ser divertido ou porque a novela tem uma inteligência de vocabulário e história”. A reação é das melhores, segundo ele. “E a gente torce para que continue assim.”

O ator mineiro Milton Gonçalves lembra dos tempos em que morou na região. “Matei uma saudade que tinha, porque cresci em São Paulo. Obviamente, o bairro, de quando eu tinha meus 17, 18, 19 anos, era diferente. Mas é sempre muito bom a gente ter coisas que nos alimentam, que façam com que nos lembremos da nossa adolescência, do nosso começo no teatro e nas artes. Isso para mim é fantástico.

 

Ele comenta sobre a reação dos moradores. “Quando a gente leva para as pessoas alguma coisa tão bonita como essa novela, que está engrandecendo e agradando, fico muito feliz. Faz com que eu me lembre daquele passado acreditando que, quando a gente luta e briga, a gente consegue ir além.”

O autor da novela, Mario Teixeira, que nasceu na Vila Mariana (zona sul), diz que guarda lembranças de uma outra São Paulo, mais amena. “Minha ligação [com a Freguesia] não é geográfica, mas afetiva. Até hoje frequento com a minha família os bares e restaurantes do bairro. No meu escritório tem uma foto da minha filha nas escadarias do largo da Matriz e uma linda imagem de Nossa Senhora do Ó.”
 

DOM SABINO NÃO É UMA FIGURA HISTÓRICA

Dom Sabino não passa de um personagem fictício, sem relação direta com nenhuma figura histórica, segundo Benedito Camargo, 75 anos, diácono da Arquidiocese de São Paulo na Freguesia do Ó.

Camargo conta que em 1886, quando começa a trama da novela, o largo da Matriz e a atual paróquia não existiam. “Dom Sabino não reconheceria nada ali, porque não sobrou nada de seu tempo.” Camargo contou à equipe de pesquisa da novela que uma das ruas do bairro, Professor João Machado, homenageia um professor primário.

"Não sei se é coincidência, mas o sobrenome de Dom Sabino é Machado”. Ele diz que o personagem interpretado por Edson Celulari faz menções de fatos históricos. “O Dom Sabino diz que é parente direto do bandeirante português Manoel Preto, considerado o fundador do bairro, no século 17”, afirma Camargo.

MÚSICO COMPÕE CANÇÃO PARA O BAIRRO

O músico Luiz Alberto Paulino, 62, o Luizinho do Pandeiro, foi desafiado por membros da equipe da novela a compor uma música ali no largo da Matriz. “Chamei um amigo e fizemos a letra que conta a história do dia em que o bairro virou novela”, afirma.

Dentre os trechos da canção, que ele garante que será usada na novela, há: “Foi no largo da Matriz onde tudo começou. Manuel Preto foi o fundador. Hoje tudo é diferente na Freguesia do Ó. Quem conhece também percebe: o tempo não para”.

Nascido na Freguesia do Ó, o professor e contador Denis Gomes Santana, 76, também acompanha “O Tempo Não Para”. “Eu pescava e nadava no rio Tietê. Fico envaidecido por terem lembrado de nós. Antes, quem morava depois do rio, zoava a gente. Agora, nosso bairro é sucesso na TV”, diz.

Na quarta-feira, o supervisor de logística Marcelo Bartholo, 40, que mora na Vila Guilherme (zona norte), foi conhecer “a igreja de Dom Sabino”. “É legal porque geralmente abordam mais os lados nobres da cidade. Agora, divulgaram o outro lado da cidade."

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