Festival Eurovision confirma previsões e dá vitória arrasadora à Ucrânia
Edição de 2023 do evento deverá ser no país, ainda em guerra com a Rússia
Não deu outra. Há pelos menos três meses, as casas de apostas e os especialistas em Eurovision vinham apontando a vitória da Ucrânia na edição deste ano. Na grande final realizada na noite deste sábado (14) em Turim, na Itália, a canção "Stefania", defendida pela Kalush Orchestra, venceu com um total de 631 pontos, somados os resultados dos júris especializados e do voto popular – 165 pontos de vantagem sobre a segunda colocada, "Space Man", do britânico Sam Ryder.
Foi uma virada e tanto. O festival sempre divulga antes os favoritos dos júris de cada país concorrente, que manifestaram uma preferência clara pela candidata do Reino Unido. Mas o público não quis nem saber. Votando por telefone, SMS ou aplicativo, espectadores do mundo inteiro – e não só da Europa – deram mais de 400 pontos aos ucranianos.
É claro que há uma onda enorme de simpatia pelo país, invadido covardemente pela Rússia e, há quase três meses, palco do conflito mais sangrento em solo europeu desde o final da Segunda Guerra Mundial. Mas isto não desmerece a qualidade musical de "Stefania". A canção é uma interessante combinação de sonoridades do folclore da Ucrânia com rap. E a letra, uma homenagem à mãe de um dos integrantes da Kalush Orchestra, acabou ampliando seu sentido no contexto atual e virou um tributo à pátria-mãe dos ucranianos.
Agora o Eurovision tem um abacaxi nas mãos. Esta é a primeira vez, nos mais de 60 anos de história do festival, que a vitória vai para um país em guerra com um de seus vizinhos. Pior: um país que está tendo boa parte de sua infraestrutura estruída pelos russos, e de onde, segundo a ONU, já fugiram mais de seis milhões de pessoas.
Pela tradição, o país vitorioso no Eurovision hospeda a edição do festival no ano seguinte. Mas o que terá sobrado da Ucrânia em 2023? Kiev terá condições de receber um evento deste porte, e garantir a segurança de todos os visitantes? A guerra já terá acabado até lá?
São perguntas impossíveis de serem respondidas neste momento. O lado bom é que este triunfo ucraniano também é um abacaxi para os russos, que se retiraram ofendidos da União Europeia de Radiodifusão depois que vários países ameaçaram boicotar o Eurovision se eles participassem do festival de 2022.
Foi uma noite de inegável caráter político para um evento que sempre tentou se manter neutro em tudo. O festival não aceita canções de protesto, e desclassificou a Geórgia em 2009 depois que a pequena nação do Cáucaso inscreveu a música "We Don’t Want Put In", uma óbvia crítica ao mandatário da Rússia.
Este ano, a política se fez presente, ainda que de maneira suave, já no número de abertura da grande final. Numa praça em Turim, dezenas de músicos e cantores interpretaram "Give Peace a Chance", o hino pró-paz imortalizado por John Lennon.
Mais tarde, ao terminar sua apresentação, o próprio vocalista da Kalush Orchestra, pediu – em ucraniano – que o público se lembrasse de Mariupol, a cidade portuária ucraniana que está sendo arrasada pela Rússia.
Foi um resultado histórico para um festival que sempre primou pela alienação e pelo divertimento fugaz. Mas agora o Eurovision tem poucos meses para resolver onde e como será realizada a edição do ano que vem.
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