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Tony Goes
Descrição de chapéu lei rouanet

A asquerosa hipocrisia do sertanejo Zé Neto foi rapidamente desmascarada

Show em que o cantor atacou Anitta foi pago com verbas públicas

Zé Neto (à esq.) e Cristiano - Allysson Moreno/Divulgação
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No Brasil de Bolsonaro é assim: um artista é "acusado" de usar os mecanismos de incentivo oferecidos pela Lei Rouanet, e imediatamente fica com a fama de mamar nas tetas do Estado. Mesmo que ele não use a Lei Rouanet. Mesmo que usar a Rouanet não signifique mamar nas tetas do estado.

Curioso é que quem mama também é crítico do governo Bolsonaro. Os apoiadores do presidente não dependem de lei nenhuma e têm seus cachês pagos pelo "povo".

Esse raciocínio torto veio à luz em todo seu asqueroso esplendor durante um show da dupla sertaneja Zé Neto e Cristiano em Sorriso, no Mato Grosso, no dia 12 de maio.

Conversando com a plateia, Zé Neto disse que "nós somos artistas e não dependemos de Lei Rouanet. O nosso cachê quem paga é o povo. Nós não precisamos fazer tatuagem no toba para mostrar se a gente está bem ou não".

Quem fez tatuagem no "toba" foi Anitta, uma das líderes da campanha para que jovens entre 16 e 18 anos tirassem título de eleitor, que incomodou muito os bolsonaristas. A indireta à cantora, logo após a menção à Lei Rouanet, insinua que ela mama nas tetas do estado.

A hipocrisia de Zé Neto começou a ser desmascarada logo no dia seguinte. Muitos internautas lembraram que ele posou com uma sunga reveladora para fotos postadas em seu Instagram –portanto, não teria lugar de fala para criticar Anitta por usar o próprio corpo para se promover.

Mas o mais grave surgiu depois que o jornalista Demétrio Vechiolli postou um fio no Twitter demonstrando que o show de Zé Neto e Cristiano em Sorriso foi pago pela prefeitura da cidade. Ou seja, com dinheiro público.

Ao dizer que é pago pelo "povo", Zé Neto dá a entender que o público comprou ingressos para seu show. Não foi isto o que aconteceu. Cidades pequenas como Sorriso costumam oferecer gratuitamente shows de artistas sertanejos, como atrações de feiras do agronegócio ou festas de aniversário do município.

Como ressaltou uma reportagem da Folha, o show de Zé Neto e Cristiano custou R$ 400 mil aos cofres de Sorriso. E tudo isso sem os inúmeros controles impostos pela Lei Rouanet, que exige recibos de todos os custos do evento, por menores que sejam.

É ótimo que prefeituras de cidades pequenas e médias contratem grandes astros para apresentações gratuitas. É uma maneira de trazer cultura e diversão para alguns dos rincões mais distantes do país. De qualquer forma, esses gastos precisavam ter mais transparência.

Mas é terrível que os artistas sertanejos, em sua maioria apoiadores incondicionais de Bolsonaro, se finjam de paladinos da moralidade e ainda insinuem que outros artistas sejam parasitas das verbas estatais.

Aliás, esta é uma das táticas favoritas de Jair Bolsonaro: acuse seus inimigos daquilo que você mesmo costuma fazer. Mas a mentira tem perna curta.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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