BBB 22: Saída de Lina prova que o verdadeiro vilão do programa é o público
Eliminação da cantora é ruim para todos, inclusive para quem votou nela
Olá, querido público. Tudo bem com vocês? Espero que este texto encontre todos com saúde. Pelo menos a física, pois tenho sérias dúvidas quanto à saúde mental.
Onde é que vocês estão com a cabeça? Por que eliminaram Linn da Quebrada com 77,6% dos votos, um placar digno das piores vilãs? Ela não merecia isto. O Brasil não merecia isto. Nem vocês mereciam isto, pois a saída de Linn é ruim para todo mundo.
A moça errou, eu sei. Indicou P.A. ao Paredão depois que ele e seus comparsas Douglas Silva e Pedro Scooby desistiram da Prova do Líder e deram a ela a liderança. Um dos momentos mais lindos de toda a história do Big Brother Brasil.
Mas a cantora não soube ler o jogo. Tampouco desconfiou que seria vista como traidora por vocês, querido público. Engraçado: vocês não perdoaram esse gesto dela, mas fazem vista grossa para as 16 traições confessas que um outro brother cometeu aqui fora.
Mesmo assim, quero muito crer que Linn foi eliminada por causa dessa mancada, e não por transfobia. Numa coluna da semana passada, eu disse que a posição dela no pódio final, ou sua ausência, revelaria como anda a aceitação de travestis e transexuais pelo brasileiro médio. Fui atacado nas redes sociais. Até mensagem direta eu recebi. Meus críticos berravam que Linn cairia não por ser trans, mas por ser má jogadora. "Nada a ver, não existe transfobia no Brasil", disse um deles.
Negar a existência de problemas reais como a transfobia, a homofobia, o racismo e o machismo é uma tática comum da extrema-direita, que prefere centrar fogo em quimeras como a mamadeira de piroca ou a ideologia de gênero. Mas vocês não são da extrema-direita, não é mesmo, querido público? Por favor, me garantam que não.
Quando eu digo que a saída de Linn da Quebrada é ruim para todo mundo, estou me referindo à ausência de uma pessoa LGBTQIA+ na reta final do programa. A cantora conseguiu dobrar o preconceito de muita gente, dentro e fora da casa. Infelizmente, pelo jeito, não quebrou o de todo mundo.
Mas também digo que é ruim porque, sem Linn, o BBB 22 fica ainda mais chato e previsível do que já estava. Ela fazia um contraponto interessante a Arthur, o favorito disparado. Os dois eram adversários sem serem inimigos e sempre se tratavam com cortesia, algo raro nos dias de hoje. Um duelo entre ambos deixaria a final mais interessante. Agora já era.
Não é a primeira vez que vocês agem assim, público queridíssimo. Poucos entre vocês votam com a cabeça, estrategicamente, pensando no próprio entretenimento. É raro um reality que não tem seu andamento prejudicado por causa de uma escolha equivocada da audiência, e o BBB 22 não foi exceção.
Vocês tiraram Linn da Quebrada do BBB 22, mas não suas vitórias: a pessoal e a profissional. No primeiro quesito, Linn se deu maravilhosamente bem, porque foi das poucas que percebeu que o maior prêmio do programa é participar dele. Ela descobriu novas camadas de sua personalidade, se viu obrigada a reagir em situações para as quais não estava preparada, descobriu novas contradições internas. Errou muitas vezes e, mesmo assim, acertou na mosca.
No quesito profissional, então, nem se fala. Antes do BBB, Linn da Quebrada era um nome cult, restrito aos círculos mais antenados. Agora até a mães e as avós do querido público já ouviram falar dela, e não duvido que a adorem.
Com tanta fama e afeto, Linn tem pela frente um horizonte repleto de possibilidades. A próxima coisa que fizer, qualquer coisa, atrairá atenção nacional. Se for bem orientada, sua carreira vai longe. Talento ela já tem.
Enfim, querido público, já desabafei. Como colunista de entretenimento, eu também dependo de vocês, e longe de mim querer ser cancelado para sempre. Mas vamos votar com mais critério no próximo Paredão, vamos? Vocês prometem? Ah, e mais importante do que isso: vamos votar direito em outubro?
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