Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Tony Goes

'Nos Tempos do Imperador' estreia com sequências espetaculares e ritmo ágil

Nova ocupante da faixa das 18h é a 1ª novela inédita da Globo na pandemia

Leticia Sabatella, Selton Mello, Mariana Ximenes, Michel Gomes e Gabriela Medvedovski - Paulo Belote/Globo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Dom Pedro 2º é o personagem dominante do Brasil do século 19. Também é sobejamente desconhecido pelos brasileiros de hoje. A imagem que temos do nosso segundo imperador é a da velhice: o senhor de barbas brancas, amante das artes e das ciências. Uma imagem, no entanto, que não é 100% positiva, pois há quem o acuse de ter postergado a abolição da escravatura pelo maior tempo possível.

"Nos Tempos do Imperador" pode reposicionar Pedro 2º no imaginário popular. A primeira novela totalmente inédita da Globo em mais de um ano e meio finalmente estreou nesta segunda (9), depois de sucessivos adiamentos.

A trama deslancha em 1856, quando o monarca tinha apenas 31 anos de idade. Na verdade, deslancha até antes: com as cenas de seu nascimento em 1825, gravadas em 2017 para a novela “Novo Mundo”, cujos protagonistas eram seus pais Pedro 1º (Caio Castro) e Leopoldina (Letícia Colin).

Corta para a deslumbrante Chapada Diamantina, onde Pedro 2º (Selton Mello) e sua mulher, a imperatriz Teresa Cristina (Leticia Sabatella), estão de visita. Uma maneira interessante de mostrá-los como os soberanos interessados de um país imenso e ainda pouco explorado.

O Pedro de “Nos Tempos do Imperador” é um personagem complexo, mas firme e íntegro. Provas dessas qualidades aparecem no encontro fictício com Francisco Solano López, ainda “herdeiro” da presidência do Paraguai, então ocupada por seu pai Carlos. O futuro tirano e sua entourage conseguiram cavalgar até o sul da Bahia sem serem molestados ou sequer percebidos, mas tudo bem. Novela tem dessas coisas.

Solano López veio pedir a mão da princesa Isabel, ainda criança. Não só ouve um sonoro “não” da boca de Pedro, como também que “o Brasil jamais se curvará a um ditador”. A cena foi ao ar diversas vezes nos últimos dias, incluída nas chamadas do programa, e é irresistível pensar que a Globo quis mandar uma indireta para Jair Bolsonaro.

Outros personagens foram introduzidos no capítulo de estreia. Luísa, condessa de Barral (Mariana Ximenes), enterra o pai e recusa uma oferta pelas terras que herdou. A jovem Pilar (Gabriela Medvedeski) planeja fugir para o Rio de Janeiro, para escapar de um casamento arranjado com o pérfido Tonico Rocha (Alexandre Nero). Na fazenda deste, uma revolta de escravizados termina com a morte de seu pai, o coronel Ambrósio (Roberto Bonfim), depois de um entrevero com o líder da rebelião, Jorge (Michel Gomes).

As cenas do conflito entre os negros e os capangas dos fazendeiros impactaram pela beleza plástica, com silhuetas delineadas por chamas. Também impressionou o fato de os revoltosos falarem árabe entre si (com direito a legendas). O cuidado da emissora com suas produções subiu a um novo patamar.

O capítulo ainda teve o primeiro encontro entre Jorge e Pilar, que protagonizarão o romance jovem da trama, e Pedro discutindo com Teresa Cristina a contratação de Luísa como preceptora das filhas do casal. Mal sabe a imperatriz que a condessa e seu marido irão se apaixonar.

Foi uma boa estreia, mas os críticos de TV sabem que não devem se entusiasmar muito. No entanto, “Nos Tempos do Imperador” está em produção há quase dois anos. As gravações foram interrompidas em fevereiro de 2020 e só retomadas em novembro, a um ritmo lento. A novela finalmente estreia com cerca de 70 episódios finalizados, quase a metade do total, algo inédito na história da Globo. Em entrevista a este colunista, o diretor artístico Vinícius Coimbra admitiu que gostou de ter tempo para gravar a novela com calma, cuidado de cada detalhe.

“Nos Tempos do Imperador” não tem a pegada adolescente de sua antecessora “Novo Mundo”, também dos autores Alessandro Marson e Thereza Falcão. O período coberto pelo novo folhetim inclui a Guerra do Paraguai, mas termina antes da Proclamação da República –falta, portanto, um evento definidor como a Independência. Mesmo assim, este primeiro capítulo permite esperar uma novela sóbria, de produção suntuosa –e, tomara, com muitas luzes sobre uma fase importante da nossa história.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem