Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Tony Goes

Em gravação para a série 'Galera FC', estádio suburbano tem seu dia de Wembley

Campo da Portuguesa da Ilha serviu de locação para programa da TNT

Cena da série "Galera FC" - Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Eu nunca tinha ouvido falar da Associação Atlética Portuguesa, apesar de ser tão carioca quanto ela. Acontece que futebol não é o meu forte: não sei o nome de um único jogador do time para o qual supostamente eu torço, o Botafogo.

Imagine se eu ia tomar conhecimento da chamada Portuguesa da Ilha, uma equipe que raramente ultrapassa a segunda divisão. Mas acabei tomando, e lá estava eu no Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, na noite de 20 de fevereiro de 2020.

Para assistir a um jogo falso, veja só: uma partida do time inglês em que joga o fictício brasileiro Elton Jr., contra um adversário não especificado. Elton Jr., vivido pelo ator Maicon Rodrigues, é o protagonista de “Galera FC”, série brasileira que estreia nesta segunda (10) na TNT, às 21h30.

Convidado pelo canal e pela produção do programa, fui acompanhar as gravações da cena que abre a história. Durante um jogo decisivo na Europa, Elton Jr. leva uma bolada na cara e desmaia. Ele então tem uma visão mística e encontra o pai, já falecido. Quando acorda, quer voltar para o Brasil e se reconectar com suas raízes.

Descrito assim parece um drama, mas “Galera FC” é uma comédia das boas. Mais de um ano depois dessa noite, assisti aos dois primeiros episódios da série, e me diverti bastante. Mesmo com o futebol não sendo o meu forte.

“Nossa história é a de um popstar em crise”, me contou o diretor e roteirista Luiz Noronha naquela noite no ano passado. “Podia ser um cantor de rock, mas escolhemos que fosse um jogador de futebol porque tem mais identidade com a cultura brasileira”.

Também não faltam fontes de inspiração: são muitos os casos de atletas nacionais que não se adaptam à vida no exterior. O frio, o idioma, a comida, tudo parece hostil a um rapaz que, na imensa maioria das vezes, veio da pobreza absoluta, sem muita estrutura para lidar com um mundo complexo.

É por isto que vários deles se cercam de amigos: os chamados “parças”, que moram com o astro e fingem que não são parasitas dele. Elton Jr. tem dois parças, Pança (Leo Bahia) e Truco (Bernardo Marinho), e também uma mãe perua, Idalice (a hilária Dadá Coelho) —todos vivendo no maior luxo em Londres, às custas do craque.

Por isto, eles tentam dissuadi-lo de voltar para o Rio de Janeiro. Até porque, se o contrato com o clube inglês for rompido unilateralmente, a multa rescisória é altíssima. “Nesta primeira temporada, a cada episódio o Elton Jr. tenta quebrar o contrato de um jeito diferente, para escapar dessa multa”, prossegue Luiz Noronha.

“Ele tenta se machucar num jogo não-oficial, forçando um adversário a dar uma porrada nele. Também dá uma festa de arromba, com cenas escandalosas que vão parar na internet. Mas o dono do time, um empresário russo, se recusa a liberá-lo."

Maicon Rodrigues precisou demonstrar uma certa intimidade com a bola para conseguir o papel de Elton Jr. “Eu jogo pelada no fim de semana, faço embaixadinha, mas estou longe de ser um craque”, me admitiu o ator, durante um intervalo das filmagens. “Tenho um dublê para as cenas de jogo mais intensas, até por uma questão física”.

As cenas que eu presenciei eram de fato puxadas. Mas não havia sequer dois times completos em campo: só os jogadores necessários para encher o quadro. Muito menos, é claro, as arquibancadas lotadas do estádio de Wembley.

Como muitos times suburbanos, a Portuguesa da Ilha tem um estádio pequeno, com capacidade para pouco mais de 5.000 pessoas. Os aficionados por futebol adoram: dizem, pela a distância entre os torcedores e os times ser pequena, a experiência de assistir a um jogo é muito mais intensa.

Mas naquela noite não há público. Só a equipe da produtora A Fábrica, e está todo mundo trabalhando. Depois, na pós-produção, efeitos especiais transformarão o modesto Luso-Brasileiro num moderno estádio europeu.

Um vídeo no YouTube explica em detalhes esta metamorfose. E eu, que já vi os dois episódios, posso garantir: a mágica ficou perfeita. Wembley foi parar na Ilha do Governador.

O colunista viajou ao Rio de Janeiro a convite da TNT.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem