Tony Goes

Demissões de Rodrigo Constantino mostram a força das mulheres no mundo moderno

Colunista perdeu 4 empregos em 2 dias após comentário polêmico sobre caso Mariana Ferrer

O jornalista e escritor Rodrigo Constantino
O jornalista e escritor Rodrigo Constantino - Instagram/rodrigoconstantino1976
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A Jovem Pan e o Grupo Record não podem ser considerados bastiões do progressismo. A rádio conta em seu elenco com nomes como Augusto Nunes, assumidamente conservador, e já demitiu comentaristas que eram críticos a Jair Bolsonaro (sem partido). As emissoras ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus costumam pegar leve no noticiário sobre o atual governo, e seus programas defendem os chamados "valores tradicionais".

Por isto, foi surpreendente quando tanto uma quanto a outra anunciaram o desligamento de Rodrigo Constantino de seus quadros. A Jovem Pan o fez ainda nesta quarta (4), quando uma onda de repúdio ao jornalista se levantou na internet e por parte dos artistas –entre eles, Anitta.

A campanha foi detonada por uma declaração chocante de Constantino sobre o julgamento de André de Camargo Aranha, acusado de estupro pela influenciadora digital Mariana Ferrer. Constantino disse ainda que, se sua filha voltasse bêbada ou entorpecida de uma festa e depois dissesse que havia sido estuprada, ele não só a poria de castigo como não processaria o suposto processador.

Nesta quinta (5), foi a vez do Grupo Record soltar um email comunicando a demissão de Constantino. Ele havia sido contratado em julho passado para participar de telejornais da Record e da Record News, depois que o presidente Bolsonaro o elogiou publicamente.

Logo em seguida, a rádio Guaíba e o jornal Correio do Povo, ambos do Rio Grande do Sul e também integrantes do Grupo Record, avisaram que Constantino não faz mais parte de seu time de colaboradores.

O caso lembra dois outros episódios recentes. O primeiro foi a ameaça de motim entre as mulheres do jornalismo da Globo depois que Caio Ribeiro disse, durante o Globo Esporte, que Robinho merecia o benefício da dúvida, mesmo após o atacante ter sido condenado por estupro de incapaz pela Justiça italiana (mais tarde, o jornalista se retratou).

O segundo caso foi mais rumoroso. Vítimas de assédio moral e sexual de Marcius Melhem não se conformaram com a saída honrosa que a Globo tentou dar ao antigo diretor de seu departamento de humorismo. Puseram a boca no mundo, e criaram uma saia justíssima para a emissora.

Todos esses estardalhaços acontecem por uma única razão: as mulheres estão em todas. Presentes na internet, nas redações, nas empresas patrocinadoras, elas simplesmente não vão mais ouvir que são culpadas pelos abusos que sofrem.

Rodrigo Constantino não entendeu isto, e duvido muito que vá entender. Mesmo tendo perdido quatro empregos em dois dias, ele agora diz que suas falas foram tiradas de contexto, mas não se desculpa por elas. E se gaba de ter conseguido milhares de seguidores para seu canal no YouTube, o que de fato costuma acontecer com quem solta declarações ultrajantes nesses tempos que correm.

Mas, veja bem, os tempos estão mudando. A mulherada já está aí, e vai estar cada vez mais. Com voz, com exigências crescentes e com tolerância zero para qualquer desrespeito. Quem quiser desafiá-las, que o faça por sua conta e risco.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem