'Jogos Sagrados', série indiana da Netflix, é uma joia a ser descoberta
Baseada em romance policial, atração tem trama envolvente e cenários exóticos
É impossível acompanhar tudo o que chega semanalmente aos canais pagos e plataformas de streaming disponíveis no Brasil. No meio de tanta oferta, é inevitável que muitas séries não ganhem a devida atenção do público.
Parece que esse é o caso de “Jogos Sagrados”, a primeira produção original da Netflix na Índia. Baseada em um romance de Vikram Chandra com mais de mil páginas, o programa não vem sendo muito comentado por aqui. É uma pena, pois vai muito além dos serial killers em remotas aldeias da Escandinávia que se tornaram frequentes de uns tempos para cá.
Apesar de alguns clichês do gênero – o protagonista, Sartaj Singh (interpretado por Saif Ali Khan, um dos maiores astros de Bollywood), é um tira honesto e amargurado, em meio a um sistema quase todo corrupto – a trama se destaca pela originalidade, temperada pelo exotismo (para nós) da paisagem.
Sartaj recebe um telefonema anônimo, avisando que a cidade de Mumbai corre o risco de ser destruída em 25 dias. O autor da chamada, logo ficamos sabemos, é o gângster Ganesh Gaitonde (Nawazuddin Sidiqqi, outro consagrado ator indiano), desaparecido há anos. Para complicar ainda mais, Ganesh se mata antes que termine o primeiro episódio.
Começam então duas histórias paralelas. No presente, Sartaj corre atrás das pistas de uma conspiração que pode levar à aniquilação total da maior metrópole da Índia. Em flashback, acompanhamos a ascensão de Ganesh: de menino de rua a um dos maiores senhores do crime do país.
Tudo isto sob o pano de fundo das disputas políticas e religiosas que sacodem há décadas o subcontinente indiano, com ênfase nos conflitos entre hindus e muçulmanos. Mas há também estrelas de cinema envolvidas em uma rede de prostituição, dance music cantada em hindi e uma transexual com o nome sugestivo (para nós) de Kukoo.
Muito bem escrita e dirigida, “Jogos Sagrados” também é mais explícita do que a média da produção indiana, com bastante sangue e alguma nudez. Mas o que realmente provocou polêmica na Índia foi uma palavra proferida por Ganesh no quarto episódio. Ele se refere ao ex-premiê Rajiv Gandhi, assassinado em 1991, como “pussy” - um palavrão em inglês referente ao órgão sexual feminino, usado de maneira insultuosa para chamar alguém de covarde.
O Partido do Congresso, ao qual Gandhi pertencia, está processando a plataforma, os produtores e até o ator Nawazuddin Sidiqqi. Ainda não saiu o veredito, mas a Netflix já alterou o termo ofensivo nas legendas internacionais da série.
“Jogos Sagrados” termina de maneira abrupta, mas a segunda temporada ainda não foi confirmada. Tomara que o seja em breve, pois ainda faltam três quartos da história. Mas, para isto, mais gente precisa descobrir esta joia, escondida no meio de tantas séries banais.
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