Banida da TV americana, Roseanne Barr tem longo histórico de controvérsias
Atriz sempre se meteu em encrencas dos mais variados matizes
Nesta terça-feira (29), terminou de forma abrupta um dos retornos mais triunfais da história do showbiz. A série “Roseanne”, de volta ao ar depois de um hiato de mais de vinte anos, foi subitamente cancelada pela rede ABC. E isto, apesar de ser um enorme sucesso e já ter uma nova temporada confirmada para o segundo semestre.
Tudo porque a estrela e criadora do programa, Roseanne Barr, atacou Valerie Jarrett, uma ex-assessora do ex-presidente Barack Obama com um tuíte islamofóbico e racista. Valerie é negra e nasceu no Irã, mas não é muçulmana. Mesmo assim, Roseanne achou que seria engraçado dizer que “a irmandade islâmica & o planeta dos macacos tiveram um bebê = vj” (sic).
A reação foi imediata. Não só “Roseanne” foi cancelada, como reprises de antigos episódios foram tiradas da plataforma de streaming Hulu e de todas as emissoras a cabo do grupo Viacom. A agência ICM, que empresariava a carreira da atriz, também a removeu de sua lista de clientes.
Roseanne Barr nunca foi famosa no Brasil. Seu seriado original só foi exibido por aqui em 1999, pelo canal pago Multishow, dois anos depois de terminar nos Estados Unidos, e não teve muita repercussão. Por isto, sua fama de encrenqueira também não é muito conhecida pelo público brasileiro.
O fato é que Roseanne sempre se envolveu em polêmicas, desde os tempos em que era apenas uma comediante “stand-up”. Em 1990, ela estraçalhou o hino americano com sua voz desafinada antes de um jogo de beisebol, e foi acusada de inimiga da pátria. Em 2009, posou vestida de Hitler para uma revista satírica (ela é de origem judaica). Em 2012, revelou pelo Twitter o endereço dos pais de George Zimmerman, um branco que assassinou um jovem negro alegando legítima defesa, e provocou um pequeno tumulto.
Nos últimos tempos, Roseanne ganhou as manchetes por seu apoio explícito a Donald Trump. Foi muito criticada por isto, mas ganhou de volta um tuíte do presidente comemorando os altos índices de audiência da reestreia de “Roseanne”, como se fosse uma vitória pessoal dele, Trump.
Sentindo-se empoderada, Roseanne perdeu o controle no Twitter. Saiu atirando contra todos a quem via como inimigos dos republicanos. Chegou a dizer que Chelsea, filha de Bill e Hillary Clinton, é casada com um sobrinho do bilionário George Soros, que seria um ex-nazista (tudo mentira).
Em sua defesa, alegou que o tuíte fatal fora escrito sob o efeito de Ambien, um remédio para dormir. Poderia ter jogado a culpa também em sua infância e adolescência conturbadas. Quando pequena, sua família judia fingia ser mórmon para não ter problemas no estado de Utah, onde viviam, que é de maioria mórmon. Roseanne também teve uma filha aos 16 anos, entregue à adoção. As duas só se reencontraram décadas depois.
Tudo isso explica um pouco o comportamento errático da estrela, mas não o desculpa. Aos 65 anos de idade e desfrutando de uma segunda chance que raros artistas conseguem, Roseanne Barr pôs tudo a perder com uma única frase. Por causa disso, cerca de 200 pessoas, entre atores, roteiristas e técnicos, perderam seus empregos.
Todo racista é burro por definição, mas a burrice de Roseanne Barr extrapola qualquer limite. Como que ela se esqueceu de que Channing Dungey, a presidente da rede ABC, é negra? Como que ela não mediu as consequências de sua estupidez?
Quando o escândalo começou a se espalhar nesta terça, Roseanne apagou o tuíte, pediu desculpas e avisou que estava deixando a rede social. Nova mentira: doze horas depois, quando sua série já estava cancelada, ela voltou a postar memes racistas e palavras de apoio de seguidores, além de algumas críticas pesadas. Seria um sinal de bipolaridade?
Não importa. Doença mental não é justificativa para mau-caratismo. Roseanne Barr está sofrendo uma forma moderna de excomunhão, que é o banimento pela mídia. Bem feito.
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