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Tony Goes

Com os gays mais visíveis na mídia, a homofobia se torna mais sutil

Pabllo Vittar e Nego do Borel se apresentam no programa "Altas Horas"
Pabllo Vittar e Nego do Borel se apresentam no programa "Altas Horas" - Júlia Rodrigues-27.dez.2017/Globo


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"Em nenhum momento eu quis ofender nenhum gay. Até porque eu trabalho com todos eles, todos eles gostam muito de mim e eu gosto muito deles. Não tem nada a ver, eu fiz uma brincadeira. Uma brincadeira para a gente brincar na internet."

Essa é a versão de Ratinho para a clássica desculpa eu não sou homofóbico, tenho muitos amigos gays com que os famosos tentam se safar quando insultam os homossexuais.


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O apresentador tentava limpar a própria barra depois da tempestade virtual que lhe caiu sobre a cabeça ao divulgar um vídeo no qual dizia que a Globo colocou viado até em filme de cangaceiro (na verdade, na minissérie Entre Irmãs).

O episódio deve terminar por aqui mesmo, com os internautas rachados entre pró e contra. Agora, imagine se Ratinho tivesse dito que hoje em dia tem negro demais nas novelas. Seu contrato com o SBT só não seria rescindido porque a emissora de Silvio Santos não liga muito para essas coisas.

Ratinho é um sujeito afável no trato pessoal e, como praticamente todos os brasileiros, não se considera homofóbico. Talvez ache que a homofobia só se manifesta através da violência física, como alguns pastores evangélicos gostam de proclamar.

Só que, deveria ser óbvio, o preconceito também aparece nesse tipo de brincadeira que vem se tornando mais frequente, já que gays, lésbicas e transexuais também estão mais presentes no showbiz brasileiro. Das novelas às paradas de sucesso, viados e afins é o que não falta.

Como é feio atacá-los explicitamente, a saída encontrada para os homofóbicos extravasarem sua homofobia é brincar. Como se essas brincadeiras não estivessem apoiadas em um sistema opressivo que, se levado à última consequência, resulta mesmo em violência e morte.

Outra saída bastante popular no momento é o tal do gosto pessoal. É comum, por exemplo, ouvir que o problema de Pabllo Vittar não é ela ser uma drag queen fechativa, mas sim o fato dela cantar mal.

Pabllo canta bem pacas, como provou no "Altas Horas" (Globo) do último sábado (30). Tem uma voz possante e afinada. O mesmo já não se pode dizer de dezenas de outras cantoras, como Gretchen ou Valesca --que, no entanto, raramente têm seus dotes vocais questionados.

Num mundo ideal, não bastaria Ratinho dizer que não quis ofender. Ele retiraria o primeiro vídeo do ar, coisa que não fez, pediria desculpas sinceras e doaria cascalho para alguma ONG de amparo aos gays em situação de rua.

Mas vai ficar por isso mesmo, porque ele talvez tenha atingido seu objetivo maior: voltar aos holofotes, já que seu programa não tem mais muita repercussão.

Pois é, pessoal. Ratinho se aproveitou do mesmo recurso que Daniela Mercury costuma lançar mão, segundo os homofóbicos. Usou a homossexualidade para se promover.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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