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Mariliz Pereira Jorge

A militância no BBB evoluiu, assim como já acontece no mundo

Participantes da 19ª edição têm dado exemplo em diálogos

'Sisters' especulam sobre jogo da discórdia
'Sisters' especulam sobre jogo da discórdia - TV Globo/Divulgação
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Assuntos como racismo, machismo, homossexualidade e desigualdade sempre estiveram presentes nas edições do BBB, mas há duas mudanças significativas na 19ª edição.

Primeiro, o público que acompanha o reality, quase sempre considerado alienado por quem torce o nariz para o programa, está mais engajado do que nunca e atento aos comentários preconceituosos de dentro da casa.

Segundo e mais importante, os participantes que militam por algumas causas mostram não apenas uma evolução no discurso, mas amadurecimento para falar sobre as questões sem serem antipáticos e agressivos e, "sorry" pelo meu francês, cagadores de regra.

É bom lembrar que Nayara foi defenestrada do BBB 18 não apenas porque se aliou aos participantes mais odiados, mas porque ganhou o carimbo de chata, dentro e fora da casa.

Era ela aparecer que o espectador sabia que vinha sermão. O seu discurso sobre representatividade era pesado, raivoso e carregado de certo desprezo pelo interlocutor –como se ele tivesse obrigação de saber e concordar com o que ela pensava sobre o mundo e as pessoas.

Fica claro que alguns dos participantes tem pouca intimidade com as micro questões que envolvem o racismo, por exemplo. O que poderia ser combustível para acusações e tretas sem fim, tem sido enriquecedor.

Em vez de acusar os confinados mais alienados, os politizados da casa têm usado seu conhecimento para esclarecer assuntos importantes, mas de forma cuidadosa, às vezes, um pouco didática demais.

Assimilar novas visões de mundo e romper com antigos conceitos faz parte do crescimento pessoal e da transformação da sociedade, mas já vimos o resultado da militância mais radical. Ela provoca ruídos e aumenta os abismos. No lugar de diálogo, há gritaria e falta de entendimento.

Não raramente vemos gente que acredita que feminismo é mulher que odeia homem e que não raspa o sovaco. Também é comum ver pessoas que entendem os movimentos negros como luta por privilégios.

Pessoas sérias de todos os movimentos já perceberam que precisam de um tom conciliador para fazer com que sua mensagem seja ouvida. E é isso que temos visto no BBB quando alguns participantes escorregam, do ponto de vista do ativismo, ao usar termos como denegrir, humor negro e cabelo ruim.

Dentro da casa, Rodrigo explica por que essas palavras e expressões são negativas. Explica sem sermão e sem julgamento. Diferentemente do que tem acontecido aqui fora em que há acusações de racismo diante dos mesmos fatos.

São esses exageros que minam a capacidade dos movimentos de atrair empatia e, mais importante, mudar a forma de como as pessoas falam, se comportam e entendem o mundo. Tudo o que conseguem é repelir e causar ojeriza de gente que ainda precisa ser catequizada.

Isso não quer dizer que todo mundo tem que concordar com o que é imposto pelos esses movimentos e, no caso do BBB, pelos integrantes militantes da casa. As questões essenciais que envolvem preconceito, discriminação e opressão devem ser combatidas, mas os pormenores de cada uma dessas lutas não necessariamente serão assimilados e aceitos por todos, e isso não os faz machistas, racistas, homofóbicos, gordofóbicos.

Quilômetros de distância separam um racista de alguém que usa a expressão humor negro. Há uma diferença muito grande entre um gordofóbico e alguém que diz que prefere ser magro. É possível que daqui a alguns anos muitas dessas coisas não sejam mais ditas porque a linguagem é dinâmica e as pessoas começam mesmo a questionar a forma como se comunicam e o que pode ofender aos outros.

Mas não é apontando o dedo na cara ou fazendo acusações. As pessoas não mudam na base do grito, mas com muito diálogo e compreensão. Nisso, os participantes do BBB têm dado exemplo.

Mas é importante maneirar na dose. Paula, por exemplo, começou a ficar incomodada porque tudo o que fala tem entrado na mira dos "brothers" da militância. São nessas horas que pessoas simpáticas aos movimentos acabam se desgarrando porque não querem se sentir inadequadas e muito menos patrulhadas o tempo todo.

Mariliz Pereira Jorge

É jornalista e roteirista.

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