Em uma matemática de afinidades, 'BBB 18' tem quatro grupos e um favorito
Não se vence um "BBB" sem ganhar nos três níveis do jogo: a convivência, a direção e, claro, o público.
Primeiro deve-se mostrar habilidade para conviver, agir com resiliência e harmonia em grupo, apesar do clima de competição permanente.
Em segundo, deve-se agradar à direção e produção do programa, indivíduos incansavelmente cansados de acompanhar essas pessoas, e responsáveis por definir o que é relevante para se mostrar de cada um no programa de TV. Recentemente, com Tiago Leifert no comando, o "BBB" passou também a influenciar de forma ostensiva os espectadores na leitura do jogo, revelando algumas estratégias e escondendo outras.
Por último, a óbvia votação popular que legitima a existência do espetáculo de circo: fazer a audiência se sentir parte do jogo.
Para alcançar vitória no primeiro nível do jogo, a convivência, os participantes se alinham a personalidades próximas e que compartilham das mesmas estratégias. Ao se definirem em grupos, ganham terreno para exibir ao público seus laços de afeto, generosidade e compaixão. Podem combinar votos com o propósito de se protegerem, sem que isso pareça condenável ou antiético.
Enxergando o "BBB 18" por uma matemática quase perfeita de afinidades, já se materializaram dois grupos principais e antagônicos: de um lado os articuladores (Ana Paula, Diego e Patrícia) e de outro os excluídos (família Lima, Mahmoud e Gleici). Outros dois grupos coexistem sem força e sob a órbita dos primeiros: os sedutores (Breno, Paula, Lucas e Jessica) e os sociais (Wagner, Caruso, Nayara e Viegas).
Ana Paula, Diego e Patrícia são os responsáveis pelo sucesso deste "BBB" como programa de entretenimento até agora, já que vêm articulando votos e definindo paredões sem questão alguma de esconder isto do público, às vezes até com requintes de crueldade.
Desde que desejou a morte de um adversário durante uma prova de liderança, Ana Paula ficou doente e não conseguiu mais sustentar a aparência de descolada e amiga de todos. Quem a acompanha 24 horas, percebe que a bruxinha está sempre de mal-humor, isolada no quarto ruminando pensamentos sombrios com a amiga Patrícia, e se vitimiza o tempo todo. É ingênua a ponto de acreditar que um mundo de glamour à espera após o programa, e sonha em posar para o Paparazzo, site de fotos sensuais para subcelebridades extinto em 2017.
A própria doença foi usada a seu favor como instrumento de vitimização, e durou mais do que o público poderia suportar. Indicada pela casa por sua fraca habilidade em conivência, Ana Paula dificilmente sobreviverá ao paredão, mas deixará um importante legado para o enredo do "BBB 18".
Breno, Paula, Lucas e Jessica fazem da sedução sua principal arma de jogo. Enquanto Breno e Paula tentam seduzir os próprios colegas de confinamento, Lucas e Jéssica querem seduzir o público. O arquétipo do bom-moço, justo e misericordioso, que age politicamente e se explica demais para não gerar ruídos de interpretação tem funcionado bem para Lucas, mas Jéssica está perdida numa personagem capaz de seduzir somente pré-púberes em atividade masturbatória e não o telespectador pós-graduado em "BBB".
Os sociais Wagner, Caruso, Nayara e Viegas transpõem os limites da figuração e desenvolvem narrativas isoladas de pouco conteúdo dramático. Ao circularem entre adversários distintos, mas sem habilidade de atrair o jogo para si, tendem a sobreviver porém com poucas chances de chegarem ao posto de ‘herói’, já que não se comprometem em atitudes ousadas.
Mahmoud, Ayrton, Ana Clara e Gleici são os excluídos, e configuram o segundo grupo concreto desta edição. Ainda que articulem pequenas manobras aos olhos do público, surgiram organicamente enquanto grupo e são os únicos a compreenderem o jogo do ponto de vista que a direção do "BBB" espera do telespectador, antagonizando o grupo chamado pela edição de “trio mandinga”, composto por Ana Paula, Diego e Patrícia.
Por fim, jogando praticamente sozinho, Kaysar utiliza características de todos os outros grupos. É articulador social quando transita pelos quatro cantos da casa, atento a tudo para compreender as estratégias dos adversários. É sedutor ao se preocupar sistematicamente em agradar o público e a direção criando situações de comédia e ajudando na cozinha e limpeza. E potencialmente pode assumir o papel de excluído, basta se isolar a qualquer momento quando contrariado. Contudo, o inconsciente coletivo já o vê assim por tratar-se de um flagelado da guerra.
Flutuando harmoniosamente por todos os "fandoms", se conseguir que público sinta pena dele, Kaysar poderá levar o prêmio ao construir adequadamente a trajetória mitológica do herói humilde, educado, simpático e, finalmente, merecedor.
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