Onde eu fui Pará?
Rejeitada pelo boto com uma tanga marajoara
A convite do Marahu Lab (@marahufilmes), um festival de cinema em Belém, fui finalmente conhecer o Pará na semana passada, e uma ficha caiu que nem uma voadora: como é que eu fui parar na Disney antes de ir ao Pará?
Recebida pelas pessoas mais legais do planeta, sim, nível Bahia de genteboíce, me apaixonei por Belém, pelas suas cores e sabores num grau, que o Julio Verme, criatura que me habita, quer mudar pra lá. O bichinho quer colocar tucupi em todas as comidas, quer suco de taperebá todo dia e quer unha toda semana. Unha é uma coxinha de carne de caranguejo de comer de joelhos. A Phoda Madrinha quer que todo mundo prove unha, sexo apaixonado e conexão de cabeça, coração e rabo.
Aproveitei a ida a Belém pra viajar ali por perto. Entre ir para Alter do Chão ou para a Ilha de Marajó, acabei indo parar no segundo. Por uma sorte danada fui parar com um figuraça chamado Thiaguinho Marajó (@thiaguinhomarajo), que é um poço de amor travestido de mototáxi. Quando contei da coluna aqui na Folha e do programa na Band, Thiaguinho me levou pra conhecer o Maré (@marajo_ancestral).
Maré, uma versão mais gatinha do Whindersson Nunes, me mostrou uma tanga, um objeto de cerâmica que servia de tapa sexo, e foi me contando histórias do povo marajoara, que tinha nas mulheres seus ancestrais míticos, caciques e xamãs. O que li em Camille Paglia sobre as amazonas, sobre sociedades organizadas lideradas por mulheres, e que me parecia tão longínquo quanto o filme "Mulher Maravilha", existiu bem aqui no meu país. Mania besta que a gente tem de achar que o bom é o importado, né?
O estudo da professora Denise Schaan, que fala sobre esse matriarcado muito anterior à chegada dos europeus ao Brasil, me fez pensar de novo em como o mundo seria se a gente ainda vivesse sob o domínio feminino. Boris Johnson, o ainda primeiro-ministro inglês, disse que se Putin fosse mulher não teria invadido a Ucrânia. Óbvio. Se Hitler fosse mulher o holocausto não teria acontecido. E você acha que, se os líderes europeus do século 15 fossem mulheres, teriam escravizado os povos africanos? A gente estaria bem menos lascado, certeza. Mulher é um bicho foda.
Segui me perguntando: como é que eu fui pra Disney antes de ir ao Pará? Cresci ouvindo que a Disney era o máximo. Aos 7 anos pedi pra me darem dinheiro ao invés de presente e, aos 11 anos, lá estava eu, encarando filas quilométricas sob o sol impiedoso da Flórida em julho. Morria de dor de cabeça, não sei se pelo sacolejo dos brinquedos, calor, comida gordurosa ou da raiva que passava com as minivacas companheiras de quarto que faziam bullying comigo. A experiência foi horrível, mas menti falando maravilhas por anos a fio.
A família faliu poucos anos depois, no período Collor; aliás, como a História é cíclica, né? Olho para os dias atuais, a classe média cada dia mais pobre, o Brasil de novo no mapa da fome, metade da população em insegurança alimentar, e penso: por que a gente tende a repetir erros? Talvez você não se lembre, leitor, mas elegemos um "caçador de marajás", que ia acabar com a corrupção, e roubou mais que o anterior. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Meus pais são só 20 anos mais velhos que eu, então tive o privilégio (que antigamente achava que era azar) de ver de perto o processo de amadurecimento e transformação dos dois. Cada um pra um lado e a seu modo. No meu estudo antropológico particular, percebi que o papai tende a cometer os mesmíssimos erros, seja no trabalho ou nas relações. Ô, agonia... rs. Isso me fez ficar tão atenta a isso que, ao longo de todas minhas relações, meus maridos foram o extremo oposto.
Infelizmente minha visão não foi ampla o suficiente a ponto de perceber que, por exemplo, a famosa ida à Disney se trata, quase totalmente, de um efeito manada. Inclusive, esse efeito é responsável por alguns outros males, como, por exemplo, a busca incessante pela adequação ao padrão de beleza, que tanto nos fode. E, aparentemente, tudo indica que eu tenha ido à Disney porque todo mundo queria ir. Mas o Pará me fez ver o quão gado eu fui. Ai, ai... Agora, se estou assim sem ter visto o boto, imagina se tivesse raparigado por lá?
O que a Phoda Madrinha deseja pra si e pra você é que aprenda com os erros para não repeti-los, que viaje para novos destinos, que não seja gado e, principalmente, que beba deste culto ao feminino dos marajoara. Receba!
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