Ainda não descobri com quantos paus se faz uma canoa, mas pau é o que não falta na minha DM (mensagens diretas no Instagram).

Quando recebi o primeiro nude levei um baita susto! Era minha primeira experiência em frente às câmeras, apesar de já ter mais de um quarto de século trabalhando atrás delas.

Fui produtora executiva na Discovery Networks nos EUA, diretora de conteúdo do History, tinha até um APCA e uma indicação ao Emmy, mas nada daquilo era mais excitante do que apresentar um programa de sexo nas madrugadas da Band.

Por que choras, Emannuelle?

Eu ali mais pra perto dos 50 que dos 40. Casada ou namorando a vida inteira. Ou seja, com muito menos experiência empírica em genitais masculinos do que gostaria, rs, e aquele peru comprido e roliço me olhando.

Seguido do peru, desses que a gente não vê na vida real, ou se vê não esquece, vinha uma oração. Sim, uma oração que parecia vir do fundo da alma. Percebi que, por um duplo twist carpado cognitivo, aquela era a melhor forma encontrada para dizer que gostava de mim que o instalador de papel de paredes do interior do Piauí tinha encontrado.

Rola e fé. Nascia a categoria peru ungido, que abunda no meu Instagram. Aliás, siga que é bafo: @krishnamahon

O que leva uma pessoa a mandar um nude para um desconhecido sem autorização do destinatário? Masculinidade tóxica, cegueira emocional, e não saber que é uma forma de assédio certamente estão entre os vários motivos.

Mulher quer conexão, afeto, troca. E por sacar que o remetente do nude não tinha ideia disso, meu coração foi tomado por compaixão.

Que tal olhar o perfil da pessoa e puxar assunto dentro dos interesses? Mandar o link de uma música no Spotify. Falar de uma série ou um filme. Perguntar que livro está lendo. Até mandar um meme funciona melhor.

Acolhi o dono do peru piauiense, expliquei carinhosamente que não se manda nude sem permissão, que essa não é uma boa forma de se comunicar com mulheres, que sem intimidade a sexualização mais broxa do que atiça, e que estava dando essa dica justamente porque queria que ele ‘pontuasse’.

Ele morreu de vergonha, pediu desculpas, disse que não faria isso nunca mais, agradeceu o carinho e a dica. Ele e os zilhões de perus, ungidos ou não, acabam sempre nessa sequência. Zero surpresa, zero treta, zero haters.

Muitos passam a usar o canal de comunicação para abrir o coração, falar dos seus medos, anseios, desejos, fetiches. Recebo a confissão, seguido de foto de família, filhos. Os caras pedem para as mulheres me seguirem. É fofo. Virei uma foda madrinha via Instagram, mas isso é assunto para outro texto.

Anota a dica: a não ser que seu peru seja o Brad Pitt peniano, não mande para ninguém. No pior dos casos, no cúmulo da fissura, mande um ‘troco nudes’.

Krishna Mahon

Jornalista e cineasta indicada ao Emmy, é apresentadora do SexPrivé Club da Band. Foi produtora da Discovery e diretora de conteúdo do History.