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Zapping - Cristina Padiglione

Série de 2019 que 'antecipou' tragédia yanomami viraliza na internet

Trechos de 'Aruanas', com Débora Falabella e Leandra Leal, citam garimpo na Amazônia, assassinatos e contaminação dos rios por mercúrio

Atrizes em cena na série Aruanas, área de garimpo ilegal
Tais Araújo e Débora Falabella em cena na série 'Aruanas', produção da Maria Farinha para a Globo - Divulgação
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São Paulo

Lançada em 2019 no GloboPlay e exibida em 2020 pela TV aberta, na Globo, a primeira temporada de "Aruanas" voltou à tona por força do noticiário vindo de Roraima. Trechos da produção da Maria Farinha Filmes têm viralizado na internet, apontando para a tragédia anunciada dos Yanomamis.

No enredo criado por Marcos Nisti e Estela Renner, quatro ativistas representadas por Leandra Leal, Thainá Duarte, Thais Araújo e Débora Falabella encaram um poderoso empresário vivido por Luiz Carlos Vasconcelos, que investe no garimpo ilegal na Amazônia, em busca de ouro.

É quase uma reprodução do noticiário atual. Quase.

Nem a ficção foi capaz de prever cenário tão avassalador como as imagens vistas nos últimos dias com o resgate de indígenas desnutridos, cenas que remetem ao tipo físico de judeus salvos de campos de concentração na Segunda Guerra.

Mas toda a questão está exposta ali: a cobiça pelo ouro, a contaminação de rios por mercúrio, adoecendo a população local, e o desmatamento que vai matando a galinha dos ovos de ouro, já que o bioma ali em destruição representa uma riqueza muito maior para o país.

Criada antes que o governo de Jair Bolsonaro tivesse início, a série já apontava para a ação do garimpo na região, mas em uma proporção bem menor do que o negócio viria a tomar após o fim da gestão passada. Durante as gravações, o elenco era diariamente apresentado a fotos e relatos de pessoas assassinadas na Amazônia, obra do ativismo ecológico, indígena ou simplesmente contrários ao desmatamento da região.

Entre as cenas que viralizaram, está uma sequência em que Natalie, jornalista vivida por Falabella, entrevista o poderoso empresário que manda no garimpo, Miguel, questionando se o ouro vale mais do que a floresta. Uma reedição da versão original usa o discurso dela com imagens do documentário "30 Anos - Terra indígena Yanomami", em perfeita sintonia com a realidade.

Enquanto cobra Miguel, a jornalista arranca seus brincos diante das câmeras, numa situação que em 2019 até parecia irreal e exagerada, mas hoje parece até verossímil, em função do atual quadro de genocídio indígena encontrado em Roraima. "Eu estou parando de usar ouro agora", diz Natalie.

A própria Débora, e outros integrantes da equipe, postou o vídeo em sua página no Instagram.

Outra sequência da série que tem circulado novamente pela web mostra Luíza, a brava ativista vivida por Leandra Leal, falando sobre a contaminação da população em função do mercúrio, mesmo mal que fez adoecer os Yanomamis. O desmatamento destruiu florestas e animais de caça, e a contaminação dos rios dizimou peixes e os tornou impróprios para alimentação, gerando aquele quadro de grave desnutrição a que temos assistido.

"Aruanas" teve também uma segunda temporada, mas então já fora dos domínios da Amazônia. Ambas estão disponíveis no GloboPlay, com elenco que se estende a Camila Pitanga, ali como vilã, Vitor Tiré, Daniel Oliveira e Lázaro Ramos, entre outros.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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