Colo de Mãe
Descrição de chapéu Agora

Ver minhas filhas desfrutar do sentimento de irmandade na quarentena é gratificante

Aqueles seres que, juntos, dão tanto trabalho, têm salvado um ao outro

Gennadiy Poznyakov/Fotolia
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Lembro-me exatamente do dia em que descobri a gravidez-surpresa de Laura. Era 31 de dezembro de 2011, eu fazia o plantão de Ano-Novo e o resultado de vários exames que eu havia feito foi disponibilizado na internet.

O teste de gravidez deu positivo, mesmo com o diagnóstico de que eu só engravidaria de novo se fizesse tratamento, como ocorreu com a primogênita. Na época, Luiza, a mais velha, tinha quase cinco anos e estava na praia com os meus pais. Ela iria ganhar um irmão ou uma irmã.

Eu olhava para as fotos que minha mãe enviava e só conseguia pensar: “Como eu fui engravidar logo agora, que minha filha até já viaja sozinha com os avós?” Naquele momento, só conseguia enxergar o reinício das dificuldades maternas. Enjoo, peso extra, sono comprometido. Depois, bebê nasce, tem que amamentar, ficar acordada, fazer introdução alimentar... Coisas que eu não queria mais para a vida.

No início de janeiro de 2012, eu já estava grávida de 13 semanas. Pouco tempo depois, descobrimos que Luiza teria uma irmã. Lembro-me que tratei de providenciar uma festa infantil em um bufê, com tema de Barbie e princesa tudo junto, porque seria a última que faria para Luiza.

Como ela teria uma irmã, ou seja, um novo membro na família, era preciso controlar os gastos. Luiza tem outras duas irmãs do primeiro casamento do pai e, para mim, não precisava de mais. Eu só pensava nos transtornos. Mas é engraçado como a gente não sabe de nada. Julho chegou e, com ele, veio Laura. Luiza era a irmã mais velha por parte de mãe.

Não sei descrever a emoção de ver as duas juntas. Lembro-me da ternura que eu sentia, mas de como os dias me atropelavam, com uma bebê pequena para cuidar e uma menininha de cinco anos sendo alfabetizada. E foi sendo assim por muito tempo, sempre em fases diferentes, dando trabalho duro duplo para a mãe.

Mas o tempo é rei. É conciliador, remediador e passível de nos dar novas oportunidades. De repente, eu ganhei mais uma possibilidade de sentir o quanto é lindo ver minhas filhas juntas. Hoje, em meio à grave pandemia do novo coronavírus, eu percebo a beleza de ver minhas meninas desfrutando, diariamente, do sentimento de irmandade.

Neste difícil confinamento, Luiza e Laura arrumaram formas de ser felizes e de aguentar tudo juntas. Estudam, comem, brincam, veem filmes, falam com amigos. E a diferença de idade (cinco anos), que tanto me preocupou, vai, aos poucos, sendo superada.

Nesta semana, surpreendi-me ao ver que elas juntaram as camas de solteiro para dormir juntas. Há poucos dias, também me surpreendi com um poema que Luiza fez, dizendo o quanto acredita que será difícil para a Laura quando ela for morar sozinha.

Eu percebo que ter um irmão para dividir estes dias faz com que as minhas meninas resistam com mais beleza e empatia. Não deixarei casa e fortuna para elas quando eu morrer, mas tenho certeza que vou deixar uma das maiores heranças: uma irmã.

Serão sempre duas garotas que nasceram da mesma mãe e do mesmo pai, que vão ter as mesmas lembranças do dia a dia com a avó e de como foram as semanas pandemia. Eu falhei e errei em muita coisa na vida, mas fui certeira neste presente que, sem planejar, dei a elas.

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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