Colo de Mãe

Pandemia do coronavírus me deu coragem para impor limites

Mães precisam aprender a dizer não

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O distanciamento social entra na sexta semana em minha casa para minhas duas filhas e meu companheiro. Para mim, a rotina de ficar em casa fará um mês no dia 23. Rotina em que duas práticas me tomam bastante tempo: home office e homeschooling (em tradução livre: trabalho em casa e escola em casa).

Nunca fui defensora de nenhuma delas. Respeito quem as faz, mas não me via vivenciando-as. No entanto, estamos em um momento em que a pandemia mundial do coronavírus nos obriga a ficar em casa e, consequentemente, trabalho e escola precisam seguir seu roteiro, também de dentro de casa. O fato é que unir as duas práticas não tem sido fácil para mães.

Eu comecei a quarentena bem animada, tentando não me abater. Fiz a lista com as atividades do dia a dia das meninas, para determinar uma rotina, conforme indicam os especialistas. Dei início à prática de exercícios físicos, cozinho e cuido da casa, como todas nós.

Tenho auxílio do meu companheiro, que também trabalha de casa. Mas jamais imaginei que seria algo tão puxado. E olha que eu não tinha expectativas de maratonar séries ou fazer rotina de beleza. Já tinha consciência de que isso não seria para mães.

Eu sempre gostei de fazer lição de casa com as meninas. De conversar, exemplificar, buscar, na nossa vasta coleção de livros, algo que complementasse a lição. Acho que a hora da tarefa escolar é mais um dos muitos momento de vínculo com os filhos.

Mas como posso criar vínculos se eu tenho que ser a professora e também preciso trabalhar? Essa dificuldade não é só minha e permeia o dia a dia de qualquer mãe. Converso com muitas mães e posso dizer que todas estão exaustas com a nova rotina massacrante, sem perspectivas e tentando dar o seu melhor.

Todas estão cansadas e com preocupações, porque precisam pagar boletos, dar conta da casa, do trabalho e ainda podem ter a renda cortada ou ser demitidas. Há ainda as mães que são donas do próprio negócio e aquelas que não têm um companheiro. Há as mães com crianças muito pequenas e as que têm filhos deficientes. Sem contar as mães que veem os filhos chorar e mal têm comida para lhes oferecer.

É preciso repensar totalmente a sociedade depois que esta pandemia passar. É preciso repensar as responsabilidades que nos são impostas e a rotina exaustiva a que, muitas vezes, nós mulheres somos submetidas.

Tenho acompanhado orientações de psicólogas para este período. O primeiro passo, segundo as profissionais, é aprendermos a nos cobrar menos. O segundo é saber dizer não com mais força.

Uma das colocações que me chamou muito a atenção e acalmou meu coração diz respeito ao que estamos chamando de home office e homeschooling. Antes de criticar ou desistir destas práticas, é preciso entendermos que o que estamos vivendo hoje não é exatamente o modelo ideal de trabalho de casa nem de educação domiciliar.

No caso da escola, o que estamos fazendo neste período está longe dos moldes da prática do homeschooling. Os pais que escolhem esta medida, em geral, se preparam para tal. Já nós fomos pegos de surpresa e estamos —todos— tentando nos adaptar da melhor forma possível.

Eu não sei vocês, mas eu, que tenho uma dificuldade imensa em dizer não, ganhei mais forças para refletir sobre mim e impor limites a quem quer que seja. Não, eu não aceito nada mais pela metade, morno ou mais ou menos. Todo e qualquer relacionamento social na minha vida terá de me respeitar muito. Eu não sei vocês, mas eu estou ganhando mais coragem nesta pandemia.

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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