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Cenas da quinta temporada da série "Better Call Saul" AMC/Sony Pictures

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David Segal
The New York Times

Já faz dois anos desde que assistimos pela última vez a um episódio novo de "Better Call Saul", mas nesse intervalo os personagens presumivelmente não envelheceram nem mesmo um minuto.

Por isso, para acompanhar a estreia da temporada seis, que aconteceu no dia 11, decidimos fazer uma pausa para relembrar exatamente o que estava acontecendo com essa fauna de traficantes de drogas sociopatas e advogados moralmente ambíguos quando o episódio final da temporada cinco foi ao ar. E vamos tratar de uma questão candente por vez.

Para onde Lalo Salamanca estava se dirigindo, na última cena do episódio final?

Ele estava a caminho da vingança. Lalo Salamanca (Tony Dalton) tinha acabado de sobreviver à invasão domiciliar e tentativa de assassinato mais incompetente de todos os tempos, tendo derrotado um punhado de inimigos armados usando pouco mais do que uma frigideira cheia de óleo fervente, armas emprestadas e o recurso ardiloso ao seu túnel subterrâneo de escape. Ele sabe quem enviou os atacantes –o traficante rival de metanfetamina e empreendedor do ramo dos restaurantes Gus Fring (Giancarlo Esposito).

Gus esteve sempre alguns passos à frente de Lalo, desde que o mais novo membro do clã Salamanca chegou à série, na temporada quatro. Foi Gus que armou a prisão de Lalo por assassinato –um crime que ele de fato cometeu–, e depois o libertou rapidamente quando o vilão bigodudo provou que era capaz de fazer muito estrago mesmo atrás das grades.

Tendo perdido sua querida cozinheira e aparentemente todos os seus demais empregados, Lalo agora estará em busca de represálias, e em escala máxima. Sabemos que isso não vai envolver a morte de Fring —que está vivo e bem em "Breaking Bad", cuja história começa mais ou menos quando a de "Better Call Saul" termina—, mas é presumível que ele venha a causar caos e estrago. No mínimo, pode atrasar a abertura do superlaboratório de metanfetamina, que aparentemente é a coisa de que Gus mais gosta, e uma peça fundamental de seus negócios.

Nacho Varga está condenado?

Parece que sim! Nacho (Michael Mando) permitiu que os assassinos mexicanos entrassem na fortaleza de Lalo e depois fugiu quando a confusão começou. Agora que Lalo sobreviveu ao massacre, deve ficar bem óbvio para ele que Nacho teve alguma coisa a ver com o acontecido.

Mas considere o seguinte. No último episódio da temporada cinco, Nacho teve uma longa discussão com Don Eladio (Steven Bauer), o líder do cartel mexicano de drogas, sobre como ele poderia administrar seus negócios no Novo México agora que não há um Salamanca que substitua Lalo. Será que isso foi um desperdício do tempo do espectador? Terá sido, se Nacho jamais vier a dirigir as operações de drogas em Albuquerque.

Não importa como a situação venha a se resolver, é seguro presumir que Nacho manterá seu título de Personagem Mais Atormentado da série. Ninguém sofreu mais abusos, físicos e psicológicos, em todo o elenco.

Qual é a gravidade da crise de Kim Wexler?

Muito grave. No final da temporada passada, Kim (Rhea Seborn) estava tentando convencer Jimmy McGill (Bob Odenkirk) a ajudá-la a inculpar seu antigo mentor e chefe, Howard Hamlin (Patrick Fabian), por alguma fraude ou delito capaz de pôr fim à carreira dele. Os contornos dessa trama não são claros, mas Kim insiste em que Howard merece o que de pior ela e Jimmy conseguirem inventar.

Um motivo óbvio para isso é o dinheiro. Com Howard tirado do caminho em função do escândalo, ela e Jimmy receberão cerca de US$ 2 milhões (cerca de R$ 10 mi), o produto de uma ação coletiva que corre há muito tempo contra uma casa de repouso. Mas há mais em jogo. Kim despreza o antigo chefe de uma maneira que até mesmo Jimmy –que de maneira alguma é fã de Howard– considera excessiva.

Esse ódio é complicado e merecedor de um ensaio mais específico. Basta dizer que Howard tem um histórico de condescendência e de humilhação com relação a Kim –ele certa vez a fez trabalhar em uma sala mal iluminada, com advogados novatos, quando ela era uma das estrelas em ascensão do escritório Hamlin, Hamlin & McGill, para todos os efeitos escolhendo puni-la pelos pecados de Jimmy. Mas Kim e Howard também tiveram bons anos, e ele perdoou a dívida de crédito educacional que ela tinha com a empresa, quando Kim pediu demissão do escritório.

E é preciso mencionar o outro lado da história. Kim atacou Howard de surpresa, figurativamente, quando ela e Jimmy encontraram uma maneira sorrateira de roubar um cliente importante do escritório. Ou seja, os dois têm problemas, e isso faz lembrar o velho ditado de que só se pode odiar pessoas de quem você um dia tenha gostado.

Kim está provando ser um dos personagens mais intelectualmente ricos da série. (O único rival que ela tem nesse quesito é Gus.) Em sua cena final da temporada cinco, ela expressa seu sonho de abrir um escritório de advocacia para ajudar os pobres, que é um dos sonhos mais altruístas que um advogado pode ter. E ao mesmo tempo também estava conspirando para destruir um homem porque, em suas palavras, ele era pretensioso demais.

Proteja sua retaguarda, Howard. E projeta a frente também.

E o que virá a seguir para Jimmy?

A esperança é que ele comece a fazer terapia. Da última vez que o vimos, Jimmy tinha passado pelas 48 horas mais difíceis de sua vida, começando por um esforço horrivelmente frustrado para transportar US$ 7 milhões (R$ 35 mi) em dinheiro do cartel do México para Albuquerque –o valor da fiança de seu cliente, Lalo. Em lugar de uma entrega simples da carga, Jimmy ficou a um milissegundo da morte, e em seguida viu o homem que se preparava para executá-lo abatido a tiros, no começo de uma onda de mortes orquestrada por Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks), que nos mostrou seu melhor desempenho como atirador de elite até agora.

E essa foi a parte fácil. Jimmy e Mike em seguida fugiram deserto afora, no meio da noite, carregando sacos de notas de US$ 100 (R$ 497) e mal escapando à desidratação. Depois, Lalo decidiu que a versão relatada por Jimmy sobre os problemas que encontrou transportando o dinheiro –a de que ele teve problemas com seu carro e teve de andar a noite inteira– tinha alguns buracos. A saber, buracos de bala, que ele descobriu no carro de Jimmy ao fugir rumo à fronteira do México, violando sua fiança. Lalo confrontou Jimmy e Kim no apartamento deles, e Jimmy só foi salvo pelo talento de sua parceira em improvisar mentiras.

Para onde vão Gus e Mike?

Devemos esperar alguns momentos de raiva mesmo da parte do controlado Fring, por conta do fiasco na execução de Lalo. E também deve haver contramedidas para bloquear qualquer vingança que Lalo tenha em mente, especialmente se os planos dele envolverem atrasar ainda mais a inauguração do superlaboratório, já muito postergada.

Mike, o capanga favorito de Fring, certamente servirá como braço forte do chefe, e seu talento em combate corpo a corpo será necessário na batalha que está por vir. Mike e Gus passaram por maus momentos. Mike teve de obedecer a algumas ordens que lhe pareciam desprezíveis, especialmente matar o apaixonado engenheiro do laboratório, Werner Zieger (Rainer Bock), por seus esforços "verboten" para se reunir com sua mulher.

Talvez tenha sido por isso que Mike chegou perto de um ato de desobediência que teria equivalido a um suicídio profissional. Ele tinha um rifle com mira telescópica apontado contra Lalo durante o confronto no apartamento de Jimmy e Kim. Se tivesse atirado no sujeito, teria arruinado os planos de Gus, e Mike teria de fugir para salvar sua vida.

Melhor ligar para Gene?

Vamos falar sobre a história que se passa depois de "Breaking Bad", na qual encontramos Jimmy vivendo em Nebraska sob o pseudônimo Gene Takavic.

As cinco primeiras temporadas de "Better Call Saul" começaram por breves visitas a Omaha, onde Jimmy, depois do final da história de "Breaking Bad", vive e trabalha em um restaurante de fast food em um shopping center, tendo escapado de Albuquerque como fugitivo da Justiça. (Em uma inversão inteligente da norma, as cenas que se passam no futuro da série são filmadas em preto e branco.) Na abertura da temporada cinco, Jimmy é confrontado por um cara que parece reconhecê-lo, o que dá a entender que seu disfarce foi exposto.

Vale notar que o cartaz promocional da nova temporada mostra Jimmy como o inofensivo Takavic –bigode, cabelos cortados rente, óculos. É possível que, na nova temporada, mais do que alguns poucos minutos se passem em Nebraska. Talvez até episódios inteiros. Jimmy pode se ver chantageado. Ou perseguido pela polícia. Ou de novo em fuga.

E, se considerarmos que ninguém conhece o futuro de Kim, pode ser que os dois se encontrem nesse período, presumindo que ela tenha sobrevivido às maquinações do presente da série. O que não é uma suposição segura.

Que ator os espectadores mais gostariam de ver de novo no elenco da série?

Norbert Weisser. Ele interpreta Peter Schuler, o executivo altamente ansioso –que no futuro vai se matar– e comandante de uma divisão da Madrigal Electromotive, um conglomerado alemão, que está ajudando Gus a construir o laboratório. Ele participou de exatamente um episódio de "Breaking Bad" e de um episódio de "Better Call Saul", e ambos foram excepcionais

Algo mais?

A série está lentamente se aproximando de uma acoplagem aos momentos iniciais de "Breaking Bad". O que significa que não vai demorar muito para que Jimmy abrace de vez o seu alter ego, Saul Goodman, que até o momento só apareceu de passagem. Podemos voltar a encontrar alguns velhos amigos, além disso. Como Gale Boetticher (David Costabile), libertário e aficionado de música obscura, que ajuda a montar o superlaboratório. E os produtores deram a entender que Walter White e Jesse Pinkman (Bryan Cranston e Aaron Paul) também podem aparecer.

Se encontrarmos Walter White em sua encarnação anterior a "Breaking Bad", veremos um professor de química chocho, que vive uma vida repleta de ambições não realizadas –bem como o par de botas Wallabee mais famoso da história.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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