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A atriz Cobie Smulders NYT

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Alexis Sokolski
Nova York
The New York Times

Um tubarão branco se aproximou lentamente, deslizando pouco acima da atriz Cobie Smulders, 39, como um fã prestes a pedir um selfie. A intrusão não pareceu incomodá-la. "Isso é bacana demais", disse Smulders, fascinada, observando o tubarão que deslizava pelas águas do New York Aquarium.

Smulders, adorada por seu trabalho nas nove temporadas da série "How I Met Your Mother", ama aquários desde que se lembra. Quando criança, era uma menina obcecada por sereias na província canadense da Colúmbia Britânica e costumava visitar o aquário de Vancouver sempre que podia.

Ela passava os finais de semana velejando no barco de seu pai, imaginando como era a vida embaixo da água. Mais tarde, ela foi admitida no programa de biologia marinha da Universidade Victoria. Mas poucos meses antes do início das aulas, Smulders conheceu um grupo de atores de teatro e decidiu adiar o início de seus estudos por um ano. E depois por mais um ano. E mais um.

Mergulhadora entusiástica e embaixadora da Oceana, uma organização sem fins lucrativos dedicada a proteger e restaurar os oceanos do planeta, Smulders jamais desistiu da água. Ela participa de limpezas de praia nas proximidades da casa em que vive em Los Angeles com seu marido, o ator Taran Killam, e as duas filhas do casal.

E participa de campanhas contra o uso de plástico não reciclável, que pode contaminar as vias aquáticas. "É uma conversação humana importante que deveria receber mais atenção", ela disse. Smulders continua a ter fantasias sobre sereias.

"Continuo a acreditar que isso talvez seja uma possibilidade", ela disse. E continua a amar os aquários, mas apenas aqueles que se preocupam com a conservação. Em uma recente visita a Nova York para promover "Impeachment: American Crime Story", série do canal FX, ela foi de carro a Coney Island a fim de visitar os tubarões do New York Aquarium.

Smulders chegou, vinda do calçadão à beira-mar, pouco antes do meio-dia, mostrando seu cartão de vacinação a uma funcionária do museu que mal podia acreditar que ela estava lá. "Achei que tinha te reconhecido!", disse a mulher, ao verificar a identidade da atriz.

O look de Smulders era monocromático: um blazer Chanel cinturado, com jeans escuros e botas pretas cujas fivelas metálicas reluziam ao sol de outubro. Em torno de seu pescoço, pérolas produzidas por ostras muito talentosas também cintilavam.

No primeiro pavilhão do aquário, ela se encantou com os guaiubas amarelos, apontou para alguns acarás, e depois admirou as listras dos peixes-zebra. "A Mãe Natureza sabe das coisas", disse a atriz, em tom de aprovação.

Um gavião-do-mar atraiu atenção, assim como um nematódeo rosado. "Eu queria ser a pessoa encarregada de dar nome a eles", ela disse. "Deve ser um trabalho muito divertido". Smulders parece se divertir na maioria dos trabalhos que faz.

Em "Impeachment", que revisita o processo de impeachment contra Bill Clinton, ela interpreta Ann Coulter, figura direitista de mídia e membro do Elves, um grupo de advogados conservadores que assessorou a equipe jurídica de Paula Jones —a produção ainda não tem data de estreia no Brasil.

Com cabelos parecidos com os pelos de um afghan hound premiado, pernas da altura da Torre Eiffel e uma voz pontiaguda e precisa, a versão de Coulter que ela cria encontra prazer onde quer que vá, em geral porque sempre se desloca acompanhada por múltiplas garrafas de vinho. E no entanto, a personagem continua a ter sangue tão gélido quanto o de qualquer peixe visto no aquário.

"Vocês são todos bonzinhos demais", diz Coulter sobre os demais Elves durante uma sessão de estratégia que se estende madrugada adentro, em uma das cenas da série. Inicialmente, Smulders tinha pensado em rejeitar o papel.

Os produtores de "Impeachment" a procuraram poucas semanas antes da eleição presidencial americana de 2020, a primeira em que Smulders, canadense e orgulhosa do fato, poderia votar, depois de se naturalizar americana. Smulders vota em candidatos progressistas e, por isso, ocupar o espaço mental de Coulter, autora de livros como "Treason: Liberal Treachery from the Cold War to the War on Terrorism" ("Traição: Traição Liberal da Guerra Fria à Guerra Contra o Terrorismo", em português), não lhe parecia nem saudável, nem divertido.

Mas Killam já tinha sido contratado para a série, na qual ele interpreta Steve Jones, o marido de Paula Jones. E "Stumptown", a série policial da rede de TV ABC protagonizada por Smulders, foi cancelada por conta da pandemia, o que abriu espaço em sua agenda.

Por isso, depois que Donald Trump perdeu a eleição, Smulders gravou um vídeo de teste. Interpretar uma mulher altamente conservadora –especialmente uma conservadora que usa minissaias e bebe champanhe sem parar– já não lhe parecia tão sombrio.

"Ela é a única pessoa que pode se divertir", disse Smulders sobre sua personagem. "A confiança que aquela mulher tem, de poder entrar em uma sala e acreditar que ela é a pessoa mais inteligente lá, que ela é a pessoa mais poderosa... isso é o completo oposto do que eu sou e do que minha vida é".

No pavilhão dos tubarões, ao qual Smulders chegou depois de passar por uma foca ("oi, amiga!") e por um pinguim que caminhava hesitante ("você consegue, companheiro!"), estava claro quem detinha o poder. Engatinhando por um túnel que começa logo adiante da seção de recifes de coral, ela admirou os tubarões-zebra e os tubarões-bambu nadando a apenas alguns centímetros de distância.

"Eu gostaria de colocar um colchão ali", ela disse, ao retornar. "Acordar vendo aquilo? Um paraíso". Nem todo mundo curte encontros íntimos com peixes que podem considerar o visitante como um bom jantar, mas esse não é o caso de Smulders. Em uma recente viagem com família a Oahu, Havaí, ela fez um mergulho (em gaiola) em águas ocupadas por imensos tubarões das Galápagos.

"Foi uma loucura", ela disse. Smulders também gosta de criaturas marinhas mais humildes. Pólipos são uma de suas obsessões, assim como algas, que têm um relacionamento mutualista com os corais. Mais adiante no pavilhão dos tubarões, logo à frente da recriação de um navio naufragado, Smulders se deteve no Hudson Canyon’s Edge, um paredão de água dramático.

Ela admirou as raias, que flutuavam por lá como fantasmas alegres, e um peixe que parecia ter costeletas e nadava por baixo delas. "Adoro peixes de bigodinho", ela disse. Uma tartaruga marinha passou e se deteve por um momento para admirar a bolsa Tod de Smulders.

Havia tubarões ao redor dela, mostrando os dentes como se estivessem alegres. Smulders sorriu para cada um dos predadores. "É muito pacífico aqui, não é?", ela comentou.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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