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'Coringa': por que a violência do filme sobre vilão do Batman causa polêmica

'Coringa' estreia nesta semana no Brasil e em vários países
'Coringa' estreia nesta semana no Brasil e em vários países - Warner Bros./Divulgação
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"Por que tão sério?" A clássica frase do Coringa poderia muito bem ser dirigida àqueles que agora criticam a mais recente incursão do icônico personagem dos quadrinhos no cinema.

Dirigido por Todd Phillips, Coringa estreia nesta semana no Brasil e em diversos outros países com Joaquin Phoenix no papel do vilão do universo de Batman. O filme conta a origem do personagem sombrio e sua entrada para o mundo do crime.

Mesmo antes de ser lançado, o longa foi bastante elogiado por uma parte da crítica e ganhou o Leão de Ouro na mais recente edição do Festival de Cinema de Veneza. Ao mesmo tempo, o filme tem gerado controvérsia nos Estados Unidos por supostamente glorificar a violência. Seus críticos temem que possa inspirar jovens a cometer os mesmos atos retratados na tela.

Essa polêmica ocorre em um país onde 2.220 atentados a tiros em massa foram cometidos desde o ataque de 2012 à escola Sandy Hook, na cidade de Newton, no Estado do Connecticut. Algumas das vozes mais enfáticas neste sentido são as de parentes de vítimas fatais do tiroteio em Aurora, no Estado do Colorado, em que 12 pessoas foram mortas enquanto assistiam à estreia do filme Batman: "O Cavaleiro das Trevas Ressurge", em 20 de julho de 2012.

"Queremos deixar claro que apoiamos o direito à liberdade de expressão. Mas, como qualquer pessoa que tenha assistido a um filme sobre quadrinhos pode dizer, com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades", diz um comunicado enviado ao estúdio Warner Bros., produtor do filme, pelo grupo de famílias das vítimas daquele atentado. "É por isso que estamos pedindo à Warner Bros. que use seu poder, influência e sua plataforma para trabalhar ao nosso lado para dificultar o acesso às armas de fogo."

Por sua vez, a empresa, proprietária de todo o catálogo da DC Comics (que inclui Super-homem, Batman e Mulher Maravilha), respondeu que "reconhece que a violência armada é um problema crítico em nossa sociedade". "Ao mesmo tempo, a Warner Bros. acredita que uma das funções da narrativa de histórias é estimular conversas difíceis sobre questões complexas. Não se enganem: nem o personagem Coringa nem o filme apoiam qualquer tipo de violência no mundo real."

Mas por que um filme sobre quadrinhos está causando tanta controvérsia?

QUEM É O CORINGA?

Criado em 1940, o personagem Coringa é o principal rival de Batman. Em quase 80 anos de existência, já foi interpretado no cinema e na televisão por atores renomados como Jack Nicholson, Heath Ledger (que morreu em 2008, depois de atuar em "O Cavaleiro das Trevas") e Jared Letto.

O filme de Phillips é o primeiro que se concentra inteiramente nele. É ambientado nos anos 1980 e mostra a transformação de Arthur Fleck de um aspirante a comediante em um psicopata assassino.  E é aí que os problemas começam: a violência extrema retratada na tela e a possível justificativa para isso.

"Não faz muito tempo, um jovem branco que se sentia socialmente isolado se vestiu como o Coringa e atirou em dezenas de pessoas dentro de um cinema no Colorado", escreveu a crítica de cinema e especialista em quadrinhos Heather Antos.

Antos destacou um comentário de uma espectadora chamada Rachel Miller: "Não sei se é o momento certo para um filme que retrata um homem branco que se torna um assasino em série por falhas do sistema, instabilidade mental e isolamento social".

É uma opinião compartilhada por aqueles que já viram o filme completo. Stephanie Zacharek, da revista Time, disse que o filme tem "uma idiotice agressiva e possivelmente irresponsável". Owen Gleiberman, crítico da revista Variety, afirmou no Twitter que o longa "flerta com o perigo: dá ao mal uma máscara de palhaço, tornando-o mais doente possível".

"NÃO É UMA APOLOGIA À VIOLÊNCIA"

O barulho em torno de Coringa vem de dois lados: há críticos do tema em si e há quem o elogie e o considere uma obra-prima. "Haverá um antes e depois de Coringa. Não sei se o mundo está pronto para este filme, ou talvez sim? É EXTREMO. Loucura. É ousado. Não para. Uau. Não acredito que algo assim existe. Mas está chegando", escreveu Alex Billington, crítico de cinema do site Firstshowing.net em sua conta do Twitter.

Phillips e Phoenix saíram em defesa do filme. "Acho positivo quando um filme faz você se sentir desconfortável ou te desafia de alguma forma. Isso me atraiu para esse projeto e, de fato, foi a principal razão pela qual decidi fazê-lo", disse Phoenix ao jornal britânico The Daily Telegraph.

No entanto, minutos antes, o ator havia se retirado do local onde a entrevista era realizada, quando lhe fizeram uma pergunta sobre violência no filme. "Não foi um filme fácil de fazer para mim, porque para preparar esse personagem, estive com muitas pessoas que sentiam essa raiva e solidão", acrescentou.

Por sua vez, Phillips disse que o longa não é faz apologia à violência e respondeu às críticas. "Acho que tudo isso aconteceu porque a indignação é uma mercadoria. Acho que é algo que tem sido uma mercadoria há muito tempo", disse ele ao site The Wrap.

"O que chama minha atenção neste discurso sobre o filme é a facilidade com que a extrema esquerda pode soar como a extrema direita quando algo se encaixa em sua agenda. Isso realmente abriu meus olhos."

Embora o FBI tenha descartado a ameaça de um ataque após o filme e a maioria dos cinemas esteja se preparando para sua estreia, a CNN informou que militares americanos estão em alerta para um possível ataque após Coringa chegar aos cinemas. A polícia de Los Angeles também anunciou que estava preparada para o caso de um tiroteio relacionado ao filme.

BBC News Brasil
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