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Rami Malek fala sobre Freddie Mercury, Bryan Singer e o Oscar: 'Tento não pensar demais'

Ator foi indicado ao Oscar por interpretação do vocalista do Queen

O ator Rami Malek como Freddie Mercury, no filme "Bohemian Rhapsody"
O ator Rami Malek como Freddie Mercury, no filme "Bohemian Rhapsody" - Divulgação
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Gabe Cohn

Para Rami Malek, sua primeira indicação ao Oscar — pelo papel de Freddie Mercury na cinebiografia do grupo Queen, "Bohemian Rhapsody" —​, significa falar sobre dentes. Ele disse que as discussões sobre a dentição do cantor, sobre a forma e tamanho de seus dentes, foram tão importantes quanto a prótese em si.

O ator, até agora provavelmente mais conhecido pela série de TV "Mr. Robot", estava falando pouco mais de uma hora depois do anúncio de sua indicação ao Oscar como melhor ator — "Bohemian Rhapsody" recebeu cinco indicações, uma das quais ao prêmio de melhor filme.

Foi um resultado de alguma forma inesperado, dada a trajetória complicada da produção em seu caminho até a tela. Bryan Singer foi demitido do projeto em meio à rodagem, mas ainda é creditado como diretor.

Pelo telefone, de Paris, Malek falou sobre Singer, Mercury e, sim, os famosos dentes. Abaixo, trechos editados da conversa. 

New York Times - Onde você estava quando foi informado sobre a indicação?
Rami Malek - Estou em Paris para um trabalho, e está nevando, a cidade está absolutamente deslumbrante. Receber a notícia nesse ambiente parece ser uma coincidência muito feliz. Parece um conto de fadas, algo mágico. Tento não pensar demais sobre os dias em que as indicações a prêmios são anunciadas, mais ou menos como qualquer pessoa racional faria. E por isso a notícia foi um verdadeiro choque, porque eu não sabia que era hoje o dia.

As pessoas sempre falam sobre sapatos e outros elementos de figurino que as ajudam a entrar no personagem. No seu caso, os dentes ajudaram?
As pessoas falam dos dentes, da maquiagem e do guarda-roupa. Mas são os maquiadores e os figurinistas que me ajudam mais. Assim, antes de podermos conversar sobre se precisávamos dos dentes, ou sobre que tamanho eles deveriam ter e por quê, (Jan Sewell, a responsável pela maquiagem e penteados,) teve de tornar meu nariz mais aquilino - e são essas conversas que me ajudam, tanto quanto a prótese física dos dentes. 

Como você planeja a criação de um personagem de cinema convincente baseado em uma pessoa real, ainda mais uma pessoa com personalidade tão marcante?
Eu queria desmitificá-lo como deus do rock e descobrir sua humanidade. De certa forma, sentia uma conexão com ele — sou americano de primeira geração, e ele era imigrante. E [Freddie] enfrentava problemas de identidade e de identidade sexual em uma época em que tudo era muito difícil e estigmatizado; honestamente, ser qualquer outra coisa que não heterossexual continua a ser estigmatizado, em muitos lugares, ainda hoje. E isso instantaneamente cria um ser humano, para mim. E aí você considera as canções que ele compôs. Eu as usei quase como um diário para sentir aquilo por que ele estava passando, ano a ano. 

As canções o ajudaram mais que o YouTube ou vídeos de seus shows?
A música sempre foi minha base. Era um grande apoio saber que aquele homem, que em muitas ocasiões eu sentia ser muito parecido comigo, e muito incomum, e em outros momentos parecia muito distante de mim — era bom saber que eu podia embasar meu trabalho naquilo que o ouvia tentando alcançar com a música. No palco, a sensação era a de que a plateia estava nas mãos dele, mas a música às vezes me fazia sentir que ele também queria estar nas mãos de alguém. 

Qual foi a influência de Bryan Singer em sua concepção do papel?
Eu já estava trabalhando naquilo há um ano, e tinha muita gente me ajudando, como (seus instrutores de movimento e sotaque), e vinha usando todas as imagens de arquivo disponíveis. Exauri tudo que existia online, e tudo que foi escrito sobre ele, todos os documentários — e continuo a assisti-los. Um dia desses, voltei a assistir ao vídeo sobre a produção do Live Aid. 

Isso significa que Singer estava menos envolvido? Você estava absorvendo todas as informações possíveis sem recorrer a ele?
Sim. Eu já estava pedindo material a Graham (King) — nosso produtor — muito antes de Bryan ter sido contratado. 

Por que você se importava tanto com esses detalhes?
Eu achava que, se o filme viesse a ser feito, se alguém nos desse luz verde, eu não queria de maneira alguma estar despreparado. Pensei que o pior que podia acontecer era que eu aprenderia a ser Freddie Mercury e um dia teria algo para contar aos amigos. Se o projeto fosse aprovado e eu estivesse despreparado - teria sido uma tragédia. 

Você tem uma canção favorita, no repertório do Queen?
Amo todas elas, cara, realmente amo. Mas jamais imaginei que gostaria das faixas mais velhas, mais profundas, como gosto agora. Não paro de ouvi-las. Creio que existem alguns papéis que você logo quer deixar de lado. Mas ele [Mercury] é um papel do qual nunca quero me distanciar muito. 

The New York Times

Tradução de PAULO MIGLIACCI 

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