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Celebridades
Descrição de chapéu jornalismo

Com estilo único, Glória Maria também foi um ícone fashion da TV brasileira

Filha de alfaiate, jornalista não seguia tendências e tinha total consciência e domínio sobre o próprio corpo

A elegância de Gloria Maria
Estilo de Gloria Maria: jornalista gostava de cores vibrantes, decotes e ombros de fora - Reprodução
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São Paulo

"O melhor armário não era o da produção, mas o da Glória Maria". É com essa frase que a coordenadora de figurino do núcleo de jornalismo da Globo, Patricia Veiga, fala sobre o estilo da jornalista, morta nesta quinta-feira (2). Para além do talento e das entrevistas que marcaram a história da televisão brasileira, a apresentadora ousava no lado fashion e não se deixava definir por nada nem ninguém.

Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, Glória sabia muito bem o que lhe cabia bem e o que não a valorizava. Por isso, quando não gostava do figurino que a produção montava para ela, batia o pé e não tinha discussão —mas sempre com a maior educação e simpatia, características invariavelmente exaltadas por quem a conheceu.

Não era raro Glória trazer roupas de seu acervo pessoal para gravar o Globo Repórter. "A gente não vestia a Glória, e sim a ajudava a ir montando e pesquisando. E essa personalidade se refletia na forma de se vestir. Ela adorava cintos, braços de fora e cores fortes, mas sempre com cuidado na cor que usava, pensando em como ficaria na TV", diz Patricia, que conhece a apresentadora desde a década de 1970.

Glória tinha o olhar apurado para a moda e um guarda-roupa ao mesmo tempo brasileiríssimo e internacional. Nunca se guiou pelo que "está se usando" e, sem jamais deixar de valorizar marcas nacionais, costumava trazer de suas muitas viagens pelo mundo peças únicas, exclusivas.

De grifes sofisticadas, de lojinhas de beira de estrada, de artesãos africanos: bastava ela bater os olhos e gostar. Gloria fazia sua própria moda -e não esquecia os amigos.

"Uma vez ela me deu com o maior carinho uma túnica, não me lembro se foi de uma viagem para a Índia ou para o Nepal. Ela adorava e tinha uma coleção de kaftans", conta Veiga. Uma de suas paixões eram os sapatos. "Ela uma verdadeira coleção. Eram altos, muito altos. Lindos", relembra. Por outro lado, calça estilo odalisca e vestidos muito longos e largos não entravam em seu armário. Ela detestava.

A editora de moda e curadora Lilian Pacce ressalta que Glória sempre teve body conscious, ou seja, o total domínio e consciência sobre o próprio corpo. Ela sabia o que lhe caía bem. Se tinha pernas e ombros lindos (que saboneteiras!), por que não exibi-los, cheia de orgulho?

Lilian lembra também que a jornalista não deixava ser definida por fatores externos, como a idade. Como ela mesma dizia, isso não era uma informação importante, por isso nunca deixou o etarismo a privar de usar saia, decotes ou roupas que definiam o corpo.

"O estilo da Glória só melhorou ao longo do tempo, ela aprendeu a se vestir cada vez melhor. E nunca se deixou levar pelo discurso que fala 'mulher mais velha não pode isso'. O principal triunfo e lição foi ter quebrado preconceitos e padrões de maneira exuberante, inteligente e positiva ", analisa. "Ela sempre gostou de moda, adorava desfiles. Sabia que a moda era uma ferramenta para a comunicação".

Os cabelos da jornalista mudaram bastante com o tempo e nos últimos anos quem cuidava deles, principalmente antes de eventos e das gravações na TV, era o maquiador e hairstylist Fernando Torquatto.

"Ela gostava do cabelo solto natural. Não era nada com muita regra ou acabamento, era desalinhado e com volume. Usávamos babyliss e produtos para dar brilho". Glória, no entanto, era aberta a novidades. Aceitava sugestões numa boa, como na vez em que Torquatto prendeu seus cabelos para uma sessão de fotos. "Depois ela me falou que adorou esse jeito, que nunca tinha usado assim". A última conversa entre os dois foi há um mês, quando ela disse que queria se sentir bonita, se sentir "ela mesma".

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