Caso Seu Jorge: Polícia intima presidente de clube a depor e quer ouvir testemunhas
À frente do caso de racismo, delegada diz que pretende encerrar inquérito rápido
Delegada que apura o caso sobre os ataques racistas proferidos ao cantor Seu Jorge durante um show em Porto Alegre (RS), Andréa Mattos disse ao F5 que pretende intimar na manhã desta terça-feira (18) para depor o presidente do Grêmio Náutico União, tradicional clube gaúcho e local onde ocorreu a apresentação. De acordo com ela, um inquérito foi aberto para investigação.
"Dei um prazo de três dias para o clube nos fornecer as imagens e vou intimar o presidente do clube e pedir para que seja identificada a equipe organizadora. Depois disso, quero analisar as imagens e verificar o que foi dito. Na sequência quero ouvir testemunhas", explica a delegada, que também clama para que mais pessoas que tenham ido ao show e presenciado os atos se manifestem tanto na delegacia quanto pelo WhatsApp (51) 98595-5034.
Apesar disso, a delegada afirma que pelo que já tem visto nos vídeos que circulam pelas redes sociais, houve prática racista na apresentação, mas que possíveis prisões são mais difíceis de acontecer. "Obviamente a mancha na ficha criminal de quem comete esse ato é pesada", reforça.
O presidente do clube gaúcho deverá ser ouvido na quinta-feira (20) nas primeiras horas da manhã. "A ideia é ouvir todos, inclusive pessoas que estavam trabalhando no dia. Vamos ver se conseguimos identificar os autores. Queremos concluir esse e outros casos sempre num tempo pequeno, mas dependemos de vários fatores", completa a delegada Andréa Mattos.
O Grêmio Náutico União, em nota oficial, disse que apuraria o caso e "se for comprovada a prática de ato racista, os envolvidos serão responsabilizados". Afirmou ainda que respeita Seu Jorge e que repudia o racismo.
O CASO
Seu Jorge foi hostilizado e sofreu ataques racistas da plateia de um show realizado nesta sexta-feira (14), no Grêmio Náutico União, tradicional clube de Porto Alegre. Testemunhas relatam nas redes que as manifestações começaram pouco antes do fim do espetáculo, quando o cantor chamou ao palco um músico adolescente, negro, tocador de cavaquinho.
Seu Jorge fez em seguida uma breve fala contra a redução da maioridade penal, em que citou a morte de jovens pretos da favela. Assim que saiu do palco "começou a avalanche de vaias, aos gritos de vagabundo!, safado!, e o esperado mito!, mito!, mito!", descreveu uma das pessoas presentes ao show. Imitações de macaco também foram ouvidas, vindas da plateia.
Horas depois do ocorrido, o cantor falou pela primeira vez sobre o racismo sofrido. Ele compartilhou no Instagram um vídeo de nove minutos, com a bandeira do Rio Grande do Sul ao fundo, explicando o que aconteceu.
O músico contou que foi contratado pelo Grêmio Náutico União para fazer um show reservado apenas para sócios. Ele disse que era um jantar de gala "com pessoas muito, mas muito bem vestidas para aquela ocasião" e não havia negros, exceto os funcionários.
"As pessoas negras que eu encontrei foram somente os funcionários. Eu ouvi dizer que eles estavam proibidos de olhar para mim ou falar comigo quando eu chegasse no local do show", disse Seu Jorge, que abraçou e tirou fotos com todos os funcionários.
O cantor falou que está ainda mais unido na luta contra o racismo, miséria e falta de oportunidades no Brasil que afeta os negros. "Estaremos na luta juntos denunciando e combatendo todo tipo de tipificação da nossa gente e respondendo com excelência, preparo, coragem, sabedoria e diplomacia. Nunca, jamais nos curvaremos ao racismo e a intolerância seja ela qual for", encerrou o artista.
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