O que está acontecendo com Roberto Carlos?
Biógrafo diz que o 'Rei', recém-recuperado da Covid, passa por momento difícil na vida pessoal e ficou inseguro por cantar no dia 13, em show tapa-buraco
Fãs histéricas não são novidade na longa carreira de Roberto Carlos, 81. Gritinhos de "Casa comigo!" e interações empolgadas da plateia fazem parte, literalmente, dos shows do cantor há pelo menos 40 anos. Mas no último dia 13, na casa de espetáculos Qualistage, no Rio, o "Rei" deixou a majestade de lado e reagiu de forma surpreeendente ao ouvir os insistentes berros de um fã, à fila do gargarejo. "Cala a boca!", rosnou Roberto, engatando em palavrão.
O que houve? Por que ele reagiu assim? Assistindo às versões mais longas do vídeo publicadas nas redes, não é difícil concluir que, realmente, bicho, teve gente que berrou tanto que mereceu um chega pra lá. Havia uma turba inconveniente e desrespeitosa, sim, mas nada que Roberto nunca tenha vivenciado. Segundo Paulo Cesar de Araújo, pesquisador, escritor e biógrafo não-autorizado do cantor, o que o levou a perder a paciência desta maneira foi um mix de fatores extra-palco. O mais impactante deles, psicologicamente falando, foi a data do show. "Não poderia ser pior", afirma.
Inicialmente marcado para 6 de julho, ele foi reagendado para uma semana depois, bem no dia 13. Sim, aquele único dia de todos os meses em que Roberto não costuma marcar compromissos profissionais, por conta da superstição e do TOC (Transtorno Obsesssivo Compulsivo). "Como ele é maníaco de repetição, tudo tem um ritual. A mudança de data, ainda mais para um dia como esse, já o desconcentrou bastante", diz Araújo.
Some-se a isso o quadro de recuperação recente da Covid, que sempre o apavorou (e foi o motivo do adiamento da apresentação da semana anterior). Roberto, mesmo vacinado, contaminou-se e demorou a ter alta médica de uma doença que ele evita até mencionar o nome. Há também a questão do luto prolongado: em pouco mais de um ano, Roberto perdeu o irmão mais velho, Lauro [em março de 2021] e o filho, Dudu Braga [em setembro]. "Ele passa por uma fase de vida complicada", resume Araújo.
Todo esse contexto fora do palco ajuda a explicar porque ele agiu desta maneira, mas não foi a primeira vez que o cantor perdeu a paciência com fãs mais abusados. Na época da Jovem Guarda, auge da histeria e da euforia das "Robertetes", eis que um brotinho, vráu!, puxa o cabelo de Roberto à saída de um show. A reação foi imediata: "Sua filha da puta!", xingou o ídolo, que nunca escondeu de ninguém: o-dei-a que mexam nos caracóis (hoje mullets) de seus cabelos.
Roberto recorre a palavrões com certa frequência e seus músicos ouvem palavras cabeludíssimas quando ele, perfeccionista ao extremo como o amigo de adolescência Tim Maia, se irrita durante ensaios e passagens de som. Ou mesmo durante os shows. "Esse som tá uma merda!", reclama, com as luzes apagadas, fora dos holofotes. Morre ali, ninguém vê ou fica sabendo. "O negócio é que ele tem a maior fama de certinho, o que ele não é; então, um palavrão filmado e dito para quem está na primeira fila ganha todo esse peso", analisa Araújo.
O cala-a-boca-porra que viralizou nas redes entrou para a história da carreira do cantor, tanto que o episódio será contado em detalhes nem tão pequenos no segundo e último volume de "Roberto Carlos Outra Vez", biografia musical que Paulo Cesar está preparando para lançar em 2023. O primeiro livro abarcou o período que vai do início de sua carreira até 1971; este cobre daquele ano até os dias atuais. "Em se tratando de Roberto Carlos, o que aconteceu neste show do dia 13 foi um acontecimento importantíssimo tanto pela singularidade quanto pela repercussão", diz o escritor.
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