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Celebridades

Feminista, Maria Ribeiro defende Lula calado sobre aborto até o ano que vem

Artista lança peça e pede silêncio do pré-candidato para evitar prejuízo eleitoral

    A atriz, escritora e diretora Maria Ribeiro, de vestido preto de alcinhas e parte dos braços cobertos com tatuagens, ri para as câmeras com as mãos na cintura
Maria Ribeiro: "Estou num nível estrategista máximo, e acho que Lula não tem que falar sobre o aborto. A gente precisa ganhar essa eleição" - Denise Andrade/Divulgação
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Gilvan Marques Ana Gabriela Oliveira Lima
São Paulo e Salvador

A atriz e escritora Maria Ribeiro, 46, que declarou recentemente apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial deste ano, sugeriu ao pré-candidato que ele pare de falar sobre a legalização do aborto no Brasil, para evitar prejuízos eleitorais.

Em entrevista a participantes do 66º Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, Ribeiro fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e defendeu o silêncio de Lula como parte de uma estratégia necessária para garantir uma possível vitória do petista nas eleições de outubro.

"A gente não pode falar sobre o aborto", disse a artista de 46 anos, que se considera feminista. "Estou num nível estrategista máximo, e acho que Lula não tem que falar sobre o aborto. Aí a gente fala no ano que vem, entendeu? A gente precisa ganhar essa eleição."

​ Lula afirmou em abril que o aborto deveria ser um "direito de todo mundo" e virou alvo de críticas dos adversários, que buscaram explorar resistências que evangélicos e outros segmentos expressivos do eleitorado impõem a mudanças na legislação sobre o assunto.

Um dia depois, o petista afirmou ser pessoalmente contra o aborto, mas defendeu o atendimento de mulheres que desejem realizá-lo na rede pública de saúde. A lei brasileira permite a prática em caso de estupro, risco para a vida da gestante e fetos anencéfalos.

Segundo pesquisa Genial/Quaest realizada em maio, 50% dos eleitores disseram que o posicionamento sobre o assunto diminui a chance de votar em um candidato. Outros 40% afirmaram que o tema não influi, e 5% disseram que aumenta a chance de votar no candidato.

Embora defenda o silêncio de Lula para evitar prejuízos eleitorais, Ribeiro criticou colegas que evitam se comprometer publicamente com o apoio a candidatos. "Estou com dificuldade de continuar conversando com amigos que não se posicionam", afirmou, sem mencionar nomes.

Ribeiro está em cartaz em São Paulo com o monólogo "Pós-F", adaptação de um livro lançado pela atriz Fernanda Young em 2018, um ano antes de sua morte precoce, após uma crise asmática. A obra reúne reflexões sobre vários assuntos, como feminismo, machismo e assédio.

A peça estreou durante a pandemia com transmissões ao vivo pela internet e voltou a ser encenada há um mês com presença do público, no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. Dirigido pela também atriz Mika Lins, o espetáculo ficará em cartaz até o dia 26 de junho.

Ribeiro disse que o livro de Young a interessou por oferecer ao público uma discussão franca sobre o feminismo. Ela acha que as feministas deveriam admitir mais abertamente as próprias contradições e afirmou que para isso é preciso "tirar a higiene" do discurso do movimento.

"Quando digo tirar a higiene, é falar assim: ‘Olha, eu sou feminista, mas eu ainda sou machista, sou fruto do meu tempo. Eu tenho erros, eu fui criada achando que mulher compete com mulher’", disse a atriz. "É nesse sentido que eu digo tirar a higiene, falar a verdade."

Por sugestão de Young, o projeto original da peça previa que ela e Ribeiro contracenariam juntas no palco. "Haveria duas Fernandas no palco, para ela poder brigar com ela mesma", explica a atriz. "Ela gostava muito de discordar de si própria."

Com a morte da escritora, Ribeiro decidiu adaptar o texto e transformá-lo num monólogo. "Achei que era mais triste não fazer o projeto do que fazer sem a Fernanda", conta. "O artista deixa uma obra e é uma maneira que você tem de falar: ‘Morte, beleza, nem todas você leva’."

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