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Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Com coxinha e moqueca, Morena Baccarin mostra como é brasileira nos EUA

Nascida no Rio, atriz fala da carreira e de sua atual série 'The Endgame'

A atriz brasileira Morena Baccarin cozinhando uma moqueca NYT

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Alexis Soloski
Nova York
The New York Times

"Se eu levar isso para casa e meus filhos não gostarem, vou matar todos eles", disse a atriz Morena Baccarin, 42. Era uma manhã úmida e estávamos no Rio Supermarket, uma loja de produtos brasileiros em Astoria, Queens. Baccarin, atriz indicada ao Emmy, se mudou do Rio de Janeiro para Nova York aos 10 anos.

Ela continua a ter saudade da comida de sua infância, como coxinhas —descritas como bolinhos de frango e batata em forma de um grande pingo dourado, no NYT. Ela pediu duas porções –uma para ela e uma para seus filhos– em português rápido, e em seguida mordeu uma das coxinhas, sem manchar o batom.

"Não é parte da minha dieta, mas não há como eu não comer essas coisas", ela disse. "São fritas, e são o paraíso". Baccarin tinha ido ao Rio Supermarket em uma manhã de sexta-feira recente por sugestão de duas primas, as mesmas que lhe deram os brincos cor-de-rosa que ela estava usando.

À tarde, ela tinha gravações de "The Endgame", série de suspense que estreou recentemente na rede de televisão NBC. Mas esperava ter tempo de comprar os ingredientes, correr para casa e fazer uma moqueca, um cozido de peixe brasileiro, para seus três filhos: um menino de oito anos, de seu primeiro casamento com o produtor Austin Chick, e uma menina de cinco anos e um menino de 11 meses, fruto de seu casamento com seu atual marido, Ben McKenzie, que contracenou com ela na série "Gotham".

Baccarin apanhou uma cesta de compras e começou a enchê-la de pães de queijo congelados, folhas de louro, chá de ervas e um pacote de brigadeiros —doces brasileiros feitos de leite condensado, pó de cacau e manteiga, descreve o NYT. "As crianças vão me perdoar por trabalhar o dia inteiro se eu levar isso para casa", ela disse, caminhando pelos corredores em seu sobretudo castanho.

Seu jeito era enérgico, eficiente e discreto. Os cabelos de Baccarin pendiam como uma cortina de seda, imunes ao ar úmido. Ela começou a atuar muito cedo –a mãe dela tinha sido atriz no Rio, e seu pai era jornalista na Rede Globo. "Adoro me ocultar em uma personagem", ela disse.

"Quero dizer, é óbvio que sou eu, mas gosto de fingir que não. Digo a mim mesma que estou criando uma outra pessoa, completamente nova". Assim, em um período no qual ela ainda enfrentava dificuldades para assimilar a vida em Manhattan, Baccarin persistiu em sua arte, primeiro na Fiorello H. La Guardia High School of Music & Art and Performing Arts e mais tarde na Juilliard School. Ela jamais sentiu se encaixar nesta última instituição.

"Eu não era uma das favoritas", disse Baccarin. "Tinha muita atitude". Juilliard lhe ensinou técnica, vigor, sobrevivência, mas não como abraçar os pontos fortes de sua etnia. Depois de se formar, ela imaginou que faria teatro clássico; em lugar disso, Hollywood a convocou. "Eu senti que estava decepcionando todo mundo", disse a atriz.

Seu primeiro papel de destaque foi como uma cortesã em "Firefly", um western espacial de Joss Whedon que foi cancelado rapidamente. (Baccarin não sofreu abusos de Whedon, mas não contesta que outras pessoas possam ter passado por isso).

No set, ela descobriu que seu treinamento a ajudava a lidar com textos elevados e estilizados de uma maneira que soava natural, o que provavelmente explica porque ela trabalhou em tantos projetos ligados a super-heróis, como "Gotham", "Deadpool" e "Justice League Unlimited". O trabalho dela em "Homeland", thriller da rede Showtime, lhe valeu uma indicação ao Emmy.

O personagem de Baccarin em "The Endgame", uma traficante de armas e líder criminosa chamada Elena Fedorova, não tem superpoderes. E nem precisa deles. "O que é realmente divertido nessa personagem é que posso interferir constantemente com as pessoas, cutucá-las em seus pontos fracos", disse a atriz. E ela também faz cenas de ação. De salto alto.

Naquele dia, ela estava usando botas sensatas, cujos saltos ecoavam no piso enquanto ela acrescentava óleo de cozinha à cesta de compras, e depois um frasco de molho apimentado para seu marido. Ela viu uma embalagem com 12 latas de guaraná. "É ótimo", disse. "Muito doce". Baccarin trocou sua cesta de compras por um carrinho.

Depois de acrescentar leite de coco, chá de ervas, palmitos, biscoitos, suco, queijo e um par de sandálias Havaianas para sua babá, ela pagou, e levou as compras para o carro que a esperava. Meia hora depois, as compras tinham chegado à sua cozinha, no piso inferior de uma casa em Brooklyn.

Baccarin raramente cozinhava, quando adolescente. "Minha mãe jurou que eu não cozinharia para homem algum", ela disse. Mas, como atriz profissional, ela aprendeu a cozinhar, para ela e para os amigos. "Cozinhar parece ser a coisa mais carinhosa e amorosa que você pode fazer", ela disse. Ela aprendeu como fazer alguns pratos brasileiros com as primas, e outros em livros de receita. Seu marido, a despeito de ter crescido no Texas, lhe ensinou alguns outros.

Depois de tirar o casaco, ela apanhou os ingredientes e rapidamente colocou um par de visores de natação, para proteger os olhos enquanto cortava uma cebola, que colocou em uma frigideira de óleo fervente. Em seguida, alho moído, pimentões fatiados, e alho porró, um substituto improvisado para o capim-limão. "Estou mudando um pouco a receita", ela disse.

Do refrigerador, ela tirou um pacote de peixe e um de camarões, que seu marido tinha comprado de manhã. O camarão ainda tinha cascas. "Os homens nunca acertam ao comprar camarão, mas ele é tão doce que não dá para reclamar", ela disse. Os camarões, ainda com a casca, foram para a panela, acompanhados por uma garrafa de leite de coco, o suco de um limão, sal e coentro.

"E folhas de louro", ela disse. "Sou rebelde". Ela mexeu a mistura, assoprou, experimentou uma colherada. Acrescentou mais sal e mais coentro, e voltou a experimentar. Depois, deu um gole em um guaraná tirado na hora da geladeira. "Sou a mais completa brasileira, neste momento, ela disse.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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