David Arquette tenta retomar carreira de ator e aposta no palhaço Bozo
Ator de 'Pânico' comprou os direitos sobre o popular personagem
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"Bozo é meu herói", disse o ator David Arquette, 50, em uma manhã gélida de domingo, enquanto pintava um círculo vermelho do tamanho de um frisbee na parede de tijolos de um armazém em Bushwick, um dos bairros de Brooklyn. "Nós estamos tentando libertar o palhaço".
Vestido de um jeito ligeiramente palhaço, com um boné de caminhoneiro ao estilo Bozo, tênis Vans com estampa de Mickey Mouse, jeans brancos e meias de luta livre com estampa de tigre, Arquette, que costumava comandar um grupo de pichadores de arte em Los Angeles, estava completando uma pintura de 1,80 metro de altura do palhaço Bozo.
Hoje em dia, Bozo não é só a inspiração de Arquette, mas seu negócio. Este ano, Arquette, o membro mais jovem do clã Arquette de atores, adquiriu os direitos sobre personagem um dia definido como "o palhaço mais famoso do mundo", junto aos executores do espólio de Larry Harmon, que popularizou o personagem.
"Primeiro temos de ajudar a reabilitar a imagem do palhaço", disse Arquette, dando um passo para trás a fim de contemplar a pintura e expressando aprovação com um sorriso. "Quero ajudar a trazer de volta os palhaços gentis, e mudar o discurso. Você sabe, ajudar as pessoas a entender que o humor bobo é bacana".
Na opinião dele, os palhaços vêm sendo atacados sem motivo. "Há muita história negativa", disse Arquette. "Primeiro ‘Poltergeist – O Fenômeno’. Depois Stephen King e ‘It –A Coisa’. Isso criou um verdadeiro problema. E aí o Coringa, e o palhaço Krusty". "Os palhaços", ele acrescentou, "são um reflexo da sociedade. E no momento, estamos em uma época de palhaços assustadores".
Ele adoraria levar o Bozo de volta para a TV. Diversos programas infantis estrelados pelo palhaço de cabelo vermelho ficaram em cartaz por décadas. Por um momento, ele quase conseguiu colocar Bozo em cartaz no Empire Circus, uma nova aventura interativa circense que deveria ter sido inaugurada na Empire Stores, em Brooklyn, este mês, antes que os problemas nas cadeias de suprimento resultassem em um adiamento do projeto.
Em certo sentido, Arquette se vê como o caso teste número 1 para o retorno do palhaço bonzinho. "Todo meu humor vem de eu ser sempre o alvo da piada", ele disse. "Minhas falhas todas, meus defeitos".
Na década de 1990, ele se viu como parte do circo da celebridade, graças a papéis de destaque como o de Dewey Riley, o policial charmoso mas esquisitinho da série de filmes de terror "Pânico", e ao seu papel fora das telas como o marido charmoso mas esquisitinho de Courteney Cox, sua companheira de elenco em "Pânico". Maltrapilho, desajeitado e um sujeito com quem qualquer cara seria capaz de simpatizar, Arquette era o perfeito mascote anti-Hollywood para a Geração X.
Ou talvez a Geração X tenha exercido um papel forte demais em sua vida. Sempre disposto a festejar com o descaso de um roqueiro de Seattle, Arquette teve problemas com abuso de álcool, conquistou manchetes com suas bebedeiras e viu seu divórcio enfeitar as páginas dos jornais sensacionalistas, antes de tentar uma segunda carreira na luta livre, uma decisão que pode ter destruído suas oportunidades nas duas profissões.
Mas agora ele está de volta –talvez. Neste mês de janeiro, Arquette retomará o personagem Dewey Riley na versão repaginada de 25º aniversário de "Pânico", que também conta com Cox (eles estão divorciados) e Neve Campbell, outra integrante do elenco original, que enfrentam um novo matador com cara de fantasma criado para apavorar a Geração Z.
Casado de novo, sóbrio e vivendo uma vida sossegada em Nashville, Tennessee, ele disse que espera retomar uma carreira cinematográfica que decaiu basicamente a pontas e trabalhos de voz. E desta vez, disse o ator, ele está equipado emocionalmente para enfrentar a situação.
Como irmão mais jovem em uma família de cinco atores (que inclui Rosanna Arquette , de "Procura-se Susan Desesperadamente", e Patricia Arquette, de "Amor à Queima-Roupa"), aliás a quarta geração da família a escolher essa profissão, ele se sentia ambivalente quanto a atuar. "Sempre pensei que, bem, minhas irmãs trabalham com isso, meu pai trabalha com isso. Não sei se tenho talento", disse Arquette.
Um caminho que parecia simples era o de interpretar o esquisitinho. Arquette por fim ganhou fama como um esquisito entre esquisitos nos filmes "Pânico", que na verdade eram praticamente paródias dos filmes de assassinos aterrorizantes da década de 1980. Contemplando o passado, ele diz que não estava preparado para o brilho de Hollywood.
"Sou socialmente desajeitado", disse Arquette, "e por isso eu costumava me vestir de um jeito bem vistoso e esperar que as pessoas falassem comigo, falassem sobre mim, prestassem atenção. Ou então eu enchia a cara, e me comportava de um jeito escandaloso, diferente. Eram maneiras de lidar com minhas limitações".
Sua decisão de se transformar em profissional de luta livre foi a mais absurda de sua carreira. Mas não era insincera. Arquette sempre foi fã desse tipo de programa, e pôde enfim realizar o sonho de trabalhar com isso depois de interpretar um papel em "Ready to Rumble", uma comédia sobre luta livre da década de 2000.
"A oportunidade de ver atrás das cortinas e aprender alguns segredos do negócio foi uma verdadeira alegria para mim", ele disse. Mas os fãs da luta livre ficaram zangados quando a World Championship Wrestling lhe conferiu seu título peso pesado de 2000. Os agentes dele em Hollywood também se irritaram.
Os papéis como ator começaram a escassear, e ele enfrentou problemas de ansiedade e vício, como relata em "You Cannot Kill David Arquette" ("Você Não Pode Matar David Arquette", em português), documentário de 2020 sobre sua carreira na luta livre.
O fundo do poço chegou quando um lutador chamado Nick Gage feriu Arquette acidentalmente com uma lâmpada fluorescente quebrada, em uma luta de 2018, o que fez com que o sangue de Arquette jorrasse e que seu amigo Luke Perry, que estava assistindo à luta, perguntasse se ele estava morrendo.
De lá para cá, a vida de Arquette se assentou um pouco. Ele agora vive com sua nova mulher, Christina McLarty Arquette, produtora de cinema e ex-correspondente do programa "Entertainment Tonight", e os dois filhos do casal, Charlie, 7, e Gus, 4.
Depois de concluir a pintura de Bozo (realizada com a permissão do dono do edifício), Arquette passeou pelo bairro todo grafitado, parando ocasionalmente para admirar a arte de rua.
"Não vejo pessoa alguma", disse Arquette. "Não saio mais". Ele parou ao lado de um poste no qual colou uma etiqueta promocional do novo "Pânico". "Se você parou de beber e não está mais andando atrás de mulheres, não há muito que fazer".
Trabalhar na nova versão de "Pânico" o levou a contracenar com sua ex-mulher. "Bem, temos uma filha juntos e por isso nos vemos muito", disse Arquette, mencionando Coco, 17, a filha dele e Cox. "Mas quando você trabalha com uma pessoa e tem um histórico com ela, há algo de automático, natural –nem é mais atuar. Você está só experimentando emoções e a vida".
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci
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