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Celebridades

David Jr. diz que trabalha para que crianças negras sonhem com lugares altos

Em 'Sob Pressão', ator cita falta de referências em cargos de poder

David Jr. João Faissal /Globo

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São Paulo

“Me consultei com um médico negro uma única vez na infância”. É com essa frase que o ator David Jr., descreve as referências que teve para dar vida ao neurocirurgião Mauro, na quarta temporada de “Sob Pressão” (Globo), que estreia na próxima quinta-feira (12).

Aos 35 anos, o ator, que cresceu em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, voltará a dar vida ao personagem apresentado inicialmente no especial “Sob Pressão - Plantão Covid”, que foi ao ar no ano passado mostrando a rotina de um hospital de campanha durante a pandemia.

Agora, Mauro se junta ao elenco regular, em um novo hospital, com novos desafios. Para ele, um convite maravilhoso, mas que o deixou receoso no começo. “Era um bonde que já estava andando, a galera já tinha feeling para fazer aquilo acontecer, e eu cheguei completamente cru”, brinca ele em entrevista ao F5.

Apesar disso, “a recepção foi maravilhosa”, diz. “O Andrucha [Waddington, diretor] disse no começo uma coisa que eu eu guardei: ‘Sob Pressão é mais que um produto, é uma família’. E é isso mesmo, não só os atores, mas todos. A galera de maquiagem, figurino, luz, câmera, todos jogam junto para um bem comum.”

Além do “bonde andando”, outra dificuldade que David Jr. encontrou para dar vida a Mauro foram referências. O estudo que todo ator costuma fazer para um novo papel e que determinará a forma com que ele vai falar, se vestir, se portar pareceu complicada com poucos médicos negros ao seu redor.

Algumas coisas então foram determinadas pelo próprio ator, em conversa com a equipe. As consultorias que teve, com médicos brancos, o ajudaram a moldar personalidade e profissionalismo de Mauro, “o mais empático possível”, afirma. “Vi o quanto eles prezam pela vida, são atentos ao paciente, se doam.”

Sempre alertando que não pode dar spoilers, David Jr. afirma que seu personagem tem os pacientes “quase como amigo, parente, porque estar no ramo da saúde pública sendo negro tem um outro peso, ele se identifica com aquelas famílias. Ele está sempre disponível, disposto, ajudando com o coração aberto”.

O perfil necessário para enfrentar os problemas da saúde pública ao lado dos protagonistas Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano), que retornam, assim como Décio (Bruno Garcia), Vera (Drica Moraes) e Charles (Pablo Sanábio), ainda na pandemia, mas em um hospital voltado a outros tratamentos.

A nova temporada deve trazer novamente questões sociais à tona, mas com destaque à família, já que Diana (Ana Flávia Cavalcanti) volta ao elenco, agora como uma mãe preocupada com a saúde de seu filho. Filho esse que pode ser de Evandro, sacudindo o relacionamento dele com Carolina novamente.

Mas além dos dramas ficcionais da série, David Jr. vê Mauro como uma possível referência às próximas gerações. Pelo menos é esse o desejo dele, que diz ter crescido encarando a profissão de médico como uma ascensão social inalcançável. “Só fui conhecer pessoas pretas em cargos altos quando entrei na arte. Vi possibilidades, caminhos diferentes”, afirma.

O ator conta que vem de uma família onde todas as suas tias eram empregadas domésticas e seus tios, padeiros. Seus pais foram os primeiros a mostrar que dava para ser algo diferente quando se tornaram diretora de escola pública e policial civil, mas medicina ainda parecia uma ideia muito distante.

“Mauro faz com que a criança negra periférica possa sonhar ser médico um dia, não apenas enfermeira, empregada, cozinheira. Não que essas profissões não sejam importantes, mas é sair de um estereótipo. Para mim, é inaugurar um espaço. O que é um médico negro? Não sei!”.

Para o ator, ser ele a dar forma a esse personagem e possível referência não é um peso, mas uma responsabilidade. “Nosso corpo é político, assim como o que a gente faz, a profissão que seguimos. Estou abraçando essa causa com unhas e dentes para que essa próxima geração possa sonhar com lugares altos, não só em ser médico, mas astronauta, piloto de caça, o que quiser”.

7 MESES DE DELÍCIA

E por falar em novas gerações, David Jr. está ainda mais focado nelas agora. Casado com a atriz Yasmin Garcez, ele mal tem palavras para descrever sua vida desde a chegada da pequena Amora, de 7 meses. “É um sentimento que não consigo mensurar, um amor que não se mede, sete meses de delícia”, diz.

O ator afirma que tem se tornado pai diariamente, o amor vai crescendo diariamente "a cada coisa que ela descobre, ao deixar de ser molinha para ficar durinha, ao começar engatinhar. Acompanhar isso é uma bênção e um crescimento pessoal todos os dias, ser pai resetou minha vida, tenho que ressignificar tudo agora.”

Esse envolvimento foi ainda maior por causa da pandemia, que permitiu ao ator ficar em casa mesmo contratado nos últimos anos. “Pude viver isso desde o começo, fiquei integralmente com a Yasmin. Vi todos os chutes, acompanhei quando ela ia vomitar, foi uma imersão gigantesca nessa gravidez”, recorda.

Além de “Sob Pressão” e a paternidade, David Jr. também continua a produzir a animação “Hora do Blec”, disponível no YouTube e que mostra as aventuras de um garoto negro. “Buscando patrocínio”, destaca ele. “Coloca em letras grande, precisamos de patrocínio de quem quiser participar dessa coisa tão necessária: protagonismo negro familiar, falando para crianças.”

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