Walderez de Barros rejeita teatro online e diz que essa é uma arte presencial
'Vamos ficar vivos para dar o troco', afirma ela sobre situação do país
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Quando a pandemia fechou os teatros, no início de 2020, Walderez de Barros ensaiava um espetáculo duplo. A atriz preparava a montagem de “As Três Irmãs”, de Anton Tchekhov, que seria encenada alternadamente com “A Semente da Romã”, peça dentro da peça do autor russo.
Com o distanciamento social, a atriz de 80 anos conformou-se em fazer a versão online da produção, que incluía cenas de bastidores e monólogos. Já no final do ano, por sugestão da filha, estrelou a live “Tantas Palavras”, com textos clássicos. Seu veredicto é severo: “Não é teatro!”.
Ela, que começou no teatro universitário há exatos 60 anos, com a peça “O Balanço”, criação do Centro Popular de Cultura (CPC) da Faculdade de Filosofia da USP, recebeu a primeira dose da vacina no final de fevereiro, e agora aguarda a segunda rodada de imunização e a sonhada volta aos palcos.
Afastada de filhos –ela é mãe dos também artistas Léo Lama, Kiko de Barros e Ana de Barros– e netos desde o início da pandemia, a atriz vive sozinha em sua casa no bairro Bela Vista, centro de São Paulo.
Desabituada a acompanhar seus trabalhos em TV, não se viu em duas recentes reprises da Globo: “Laços de Família” (Globo, 2000), onde viveu Ema, mãe Capitu (Giovanna Antonelli), e “Mulheres Apaixonadas” (Globo, 2003). Durante uma hora, por chamada de vídeo, ela falou sobre o momento vivido pelo Brasil, pelo teatro e pela cultura.
Parafraseando a Graúna, personagem do cartunista Henfil: “Você está vendo alguma esperança?
Tem sido difícil. Mas sempre há um dia depois do outro. Não vai ter novo normal. Tudo que a gente está querendo é voltar à normalidade anterior, com todos os erros de uma sociedade capitalista, o país com toda essa desigualdade social, mas é para aquele lugar que a gente tem de voltar para continuar num caminho de transformação. Não quero a posição reacionária de dizer “ai, não aguento”. Eu sofro, mais isso é o de menos. Estão querendo nos matar. Estão matando gente, amigos, vizinhos. Vamos ficar vivos para dar o troco.
Falta indignação no país?
Sim. Não sei por quê. Uma das razões é o fato de a gente não poder fazer manifestação de rua. Falta liderança também. A entrevista do Lula [o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva] foi um divisor de águas. Aquilo era a palavra “liderança” de que a gente estava precisando. Não dele necessariamente. Uma das razões que a gente perdeu esse fervor é a falta de liderança. Fervor é uma palavra esquisita, mas eu gosto dela.
Como você vê os espetáculos online que proliferaram no último ano?
Odiei com todas as forças do meu ser as pessoas estarem migrando para essa (...). Eu falava: não é teatro! (Risos) Teatro é uma arte presencial. Tem de estar lá, se não não é teatro. A peça que eu estava ensaiando era teatro. Quando a gente migrou para essa linguagem nova, era outra coisa. A gente não nomeou ainda.
Os artistas foram atingidos pela pandemia, mas também pelas restrições do incentivo à cultura. Como você vê a situação de seus colegas?
Quando você não tem nada, o que vier é lucro, e é necessário que venha. A cultura de modo geral, mas particularmente o teatro e o cinema, já vinha num processo de destruição. Os poucos incentivos que se tinha foram sendo cortados, e foram colocados idiotas [à frente dos órgãos públicos do setor]. O que ele [o presidente Jair Bolsonaro] pensa? Que a gente tem uma Broadway aqui para interessar o turista? De repente, isso se agravou e zerou a possibilidade de se fazer teatro.
A Lei Aldir Blanc foi uma boia salva-vidas?
Dá uma contrapartida, porque o pessoal está fazendo coisas muito boas. A palavra “incentivo” tem um sabor necessário. É incentivo para que a pessoa não desmorone. Houve gente que não tinha o que comer. Para onde vai? Fazer teatro na rua? Inventar coisas? O Sesc (Serviço Social do Comércio) foi fundamental para segurar, e a Lei Aldir Blanc teve o mesmo sentido.
Da experiência sob o regime militar, o que serve de lição para a atualidade?
São situações completamente diferentes. Como é que você vai trabalhar sabendo que está governado por um idiota como esse [Bolsonaro]? Por outro lado, a gente não está numa ditadura. Naquela época, não era só a censura: eram a tortura, mortes. Ouço falar que está pior. Não, espera lá, já vivemos numa ditadura, com todo o mal que decorria disso.
Você está no ar nas reprises das novelas “Mulheres Apaixonadas” e “Laços de Família”. Qual é a reação do público?
Sou muito desligada. Quando “Laços de Família” estava no ar, uma mocinha linda veio em minha direção no supermercado no Natal e disse: “sou garota de programa em Miami”. (Na novela, Walderez vive Ema, mãe de Capitu, personagem de Giovanna Antonelli, que se prostituía.) Contou que sustentava a família no Brasil, mas todos ignoravam sua condição e que iria contar tudo naquela noite. Vi uma cena com ceia de Natal, e ela dizendo: “olha, eu sou puta”. E disse que não contasse para a família, que iriam sofrer muito. Falei: “você fica aqui mais uns dias, deixa passar o Natal, pega a tua mãe e fala para ela. Desabafa, faz ela entender”.
Quando tudo isso terminar, qual é a primeira coisa que você fará?
Essa é fácil, né? Teatro! Nada substitui o teatro. Assistir a um bom espetáculo é inesquecível, e um mau espetáculo pode afastar o público. Tenho a teoria de que todos os chatos vão juntos ao teatro (risos). É uma arte coletiva. Não é só o palco que faz o teatro, a plateia também faz. Tem dias em que a plateia não se mexe. É o dia dos chatos (risos). É uma força que o teatro tem e que mexe com quem faz.
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