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Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Saiba quem é Laura Wasser, a mulher que romperá união de Kim e Kanye

Ela é uma das mais conhecidas advogadas de divórcio de Hollywood

A advogada Laura Wasser

A advogada Laura Wasser Rosie Marks-15.mar.2021/NYT

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RUTH LA FERLA
The New York Times

Entre os dotes singulares de Laura Wasser está seu talento para contar uma história. Uma das mais conhecidas advogadas de divórcio de Hollywood, ela catalogou os defeitos, ansiedades e incompreensões de seus clientes em um livro e em suas contas nas plataformas de mídia social.

Há aquele caso da ex-mulher de um produtor de Hollywood que acreditava que, depois do divórcio, continuaria a poder viajar no jatinho do estúdio. De jeito nenhum, Wasser lhe disse: "Você já não é mais a Sra. Produtor".

E o astro do rock que ligou para conversar sobre seu divórcio, falando de um modo perceptivelmente embaralhado e com um chiado perceptível ao fundo. "Olha", ela ralhou. "Uma conversa com sua advogada de divórcio não é a melhor hora para fumar um no seu ‘bong’”.

Ou o cliente de meia-idade que havia subsidiado completamente o estilo de vida extravagante de seu marido, mais jovem, apenas para descobrir, que, depois da separação, teria de continuar pagando por aquelas despesas.

O cliente se queixou, querendo saber por quê. Afinal, o ex não havia contribuído com coisa alguma para o patrimônio do casal nos anos em que eles estiveram juntos. Wasser respondeu: "Porque você se casou com ele, querido."

Mas, em geral, ela tende a manter o sigilo quanto aos seus clientes da Lista A, entre os quais Stevie Wonder; Britney Spears em seu divórcio com Kevin Federline em 2007; e, entre os casos mais acrimoniosos, Johnny Depp e Amber Heard em 2016; e Angelina Jolie quando ela pediu divórcio de Brad Pitt, no mesmo ano. Em 2018, ela mediou o divórcio de Jennifer Garner e Ben Affleck.

Ela mantém o mesmo silêncio incansável sobre seu mais recente processo de divórcio. Em março, Wasser representou Kim Kardashian West em seu pedido de divórcio de Kanye West. “Não discuto meus casos”, declarou Wasser com inflexibilidade instransponível.

Mas quase tudo mais estava aberto a discussão, em uma conversa aberta pelo Zoom. "Falar de mim mesma é meu assunto favorito", diz Wasser, jovialmente. Ela está ciente de que é conhecida no ramo tanto por seu glamour e facilidade no contato com a mídia quanto pelas táticas ferozmente combativas.

Mas Wasser, 52, aprendeu a encarar esse tipo de descrição com uma mistura de humor negro, franqueza e simpatia na conversa. "Na casa dos 20 e 30 anos, não havia muito mais gente no ramo do direito de família que se dispusesse a atender ao baterista de uma banda alternativa”, ela diz.

Quando um músico que atende a essa descrição a procurou, Wasser recorda que entrou em ação de imediato, convencendo-o a tirar os piercings e levando-o à Bloomingdale’s para comprar um terno que cobrisse suas tatuagens. "Eu compreendia a situação dele", diz. "Eu também precisava encobrir uma tatuagem e tirar alguns piercings, para ir ao tribunal."

“SOMOS MUITO BONS NOS CONTOS DE FADAS"

Naquela época, os empresários, advogados de entretenimento e agentes começaram a encaminhar clientes desse tipo a ela, calculando como explicou Wasser que “ela vai chamá-los de ‘dude’ e explicar os problemas que têm em seus casos. Não vai criticá-los, e vai descobrir uma solução".

A história pessoal de Wasser é relativamente tranquila, e os detalhes provavelmente são conhecidos dos leitores das revistas de fofocas ou do site TMZ. Ela cresceu em Los Angeles, em uma atmosfera de privilégio e conforto.

O pai dela é Dennis Wasser, um advogado de divórcios conhecido em Hollywood; sua mãe, Bunny, que morreu em 2019, também era advogada. Andrew, o irmão mais jovem de Laura, se tornou psicoterapeuta. Ela estudou na Beverly Hills High School, se formou em sireito pela Loyola Law School em 1994 e trabalhou por um curto período como advogada especializada em direitos dos deficientes, antes de começar no Wasser, Cooperman e Mandles, o escritório de advocacia de seu pai.

Hoje ela é sócia-diretora, e cobra US$ 950 por hora para assessorar uma coleção de artistas, atletas, músicos e estrelas de reality shows. (Sua associação com Kardashian West começou em 2011, quando ela administrou o divórcio entre a estrela de reality shows e Kris Humphries.)

Wasser tende a conduzir seus clientes na direção de acordos, em lugar de divórcios litigiosos, que podem ter alto custo financeiro e emocional. "Laura tem talento para fomentar a empatia, em lugar da inimizade", disse Affleck em entrevista. Ele acrescentou, em tom elogioso, que "quando você começa a brigar, aposto que todos saem perdendo. Ela deixou isso claro desde o começo."

Para complementar “It Doesn’t Have to Be That Way” (as coisas não precisam ser assim), seu guia sobre divórcios, publicado em 2013, ela desenvolveu um app, “It’s Over Easy”, com um programa de cinco passos para pessoas que desejam cuidar de seus divórcios pessoalmente, e o podcast All’s Fair, cujo tema —o que mais poderia ser?— também é o divórcio.

Na época em que sua filha começou no escritório, cuja especialidade é o direito de família, recorda Dennis Wasser, “não havia muitas mulheres representando clientes em julgamentos. Havia um estigma naquilo. Se elas faziam o que faziam, era comum que fossem descritas por aquela palavra que começa com b” [bitches].

Laura Wasser persistiu, e representou a si mesma em seu divórcio, em 1994, de um homem que ela descreveu em ocasiões anteriores apenas como “um sujeito espanhol”. Ela fala com alguma liberdade sobre os dois filhos, de 13 e 11 anos, cada um de um pai. Os pais ajudam na criação dos meninos.

Wasser não voltou a se casar. “Eu nunca encontrei um bom motivo”, diz. “Já havia sido casada uma vez. Tinha lindas fotos de casamento, de quando eu tinha 25 anos. Minha aparência jamais seria melhor do que naquelas fotos, por isso jamais pensei muito no assunto”.

Casamentos são caros, ela acrescenta. “Talvez eu não quisesse pagar” Ou talvez, como ela gosta de dizer em tom jocoso, “eu seja uma velha hippie que procria com qualquer um que apareça”.

Ela não exibia muitos traços de boêmia latente em nossa conversa; sua roupa era discreta, mas calibrada com cuidado; os cabelos longos estavam presos para trás, deixando o rosto visível, e seu corpo longilíneo estava coberto por jeans e por uma blusa Prada solta —uma concessão de Laura à feminilidade— que faz parte de seu guarda-roupa há uma década.

Nas orelhas, ela ostentava um par de brincos de diamantes rosa criados pela estilista Anita Ko, que é amiga da advogada. O senso de moda que Laura gosta de alardear é uma vantagem profissional? “Não acho que me prejudique”, diz.

Mas ela se veste primordialmente para satisfazer a si mesma. “Se quero comprar roupas bonitas, um belo sapato ou uma bolsa, essas são vantagens da minha profissão”, afirma.

Tema de perfis em revistas de moda, Wasser admite ter sido a inspiração para Nora Fanshaw, a personagem de Laura Dern em “História de um Casamento”, uma advogada que aborda os clientes com agressiva familiaridade, garantindo que “parte do que vamos fazer juntos é contar sua história”.

A interpretação de Dern incomoda um pouco a advogada. "Nora é predatória e muito mais inclinada a gestos físicos de carinho do que eu”, diz Wasser. “Ela talvez também seja mais sexy do que eu me sentiria confortável em ser, com aqueles vestidos apertados, que exibem seus braços. Mas ela tem um corpo espetacular, então sorte dela."

Na tela, Nora recebe os visitantes em um escritório sóbrio concebido para apaziguar os mais desconfortáveis dos clientes. O escritório de Wasser é decorado em uma mistura discreta de verdes, ela diz, cor que também domina a sala de estar de sua casa, uma construção em estilo mediterrâneo da década de 1920, aninhada entre Sunset Boulevard e as Hollywood Hills. Verde, é claro, é a cor do dinheiro.

O espaço criado em um mezanino acima dela, com estantes, uma mesa de trabalho e um computador, vem servindo de escritório improvisado para Wasser desde o lockdown. Há fotos antigas expostas sobre um armário, entre as quais uma de Mia Farrow dando uma tragada em um cigarro, e outra que mostra a atriz com os Beatles na viagem deles pela Índia, todos usando colares de flores coloridas.

“Não vou opinar sobre o caso Allen vs. Farrow”, diz Wasser sobre os problemas do ex-casal, documentados recentemente pela HBO. “Só amo essas imagens. Elas são muito cool."

De seu posto, Wasser pode observar serenamente os ritos de acasalamento e separação de seu pedacinho do mundo. “Aqui no sul da Califórnia, somos muito bons nos contos de fadas." Ela sabe que opera em uma cultura de celebridades, que pode ser exageradamente romântica.

“Vemos as pessoas se preparando para aquilo que todos sempre nos dizem será o melhor dia de nossas vidas. O problema é que, depois que isso tudo passa, você está casado. O dia foi ótimo, a festa excelente, e agora você encontra do seu lado aquele sujeito que não tem o melhor hálito do mundo quando vocês acordam pela manhã, e o resto de sua vida será assim."

VENDENDO O SONHO

A pompa que cerca as núpcias de Hollywood deriva em parte do interesse do público pelos reality shows e por programas como The Bachelor, e pelas capas extravagantes da revista People, diz Wasser. É claro que casamentos, e as festividades que os acompanham, podem ser motivados pela cobiça. "Você encontra histórias de pessoas que vendem fotos e vídeos de seus casamentos, coisas assim."

As uniões alardeadas com estrondo portam duplas vantagens. Elas podem "fazer com que o estilo de vida de alguém da Lista C pareça desejável", disse Allie Jones, em “Vice”. Por outro lado, “o mesmo tipo de evento pode tornar a vida de uma pessoa da Lista A mais parecida com a das pessoas comuns”.

Uma cerimônia de casamento também pode ser uma oportunidade de merchandising. Não foi por acaso que Priyanka Chopra realizou sua despedida de solteira no Blue Box Café, da Tiffany e Co., em 2018, ou que seu noivo, Nick Jonas, posou com uma vodca Stoli Elit para uma foto em sua despedida de solteiro. A conta de Instagram de Jonas admitiu que se tratava de uma parceria paga.

E temos o caso da atriz Jennifer Lawrence, que, antes de seu casamento com o marchand Cooke Maroney, divulgou sua lista de casamento na Amazon, que incluía luzes de decoração de US$ 15 e uma enceradeira de US$ 500.

“Transformar um evento importante da vida em uma oportunidade de ganhar dinheiro pode parecer distópico, mas se tornou procedimento padrão para as celebridades em 2019”, comentou a revista Business Insider, na época.

“As pessoas amam capas de revistas que mostrem o casamento, o bebê recém-nascido”, diz Wasser. “Mas as edições que se esgotam são as que noticiam separações”, o que ela atribui a “pura schadenfreude” [alegria com a desgraça alheia].

De qualquer modo, o papel de Wasser não é julgar. “Acompanhar as pessoas em experiências que podem estar entre as piores pelas quais elas passarão é realmente complicado”, diz. “Uma das coisas mais perturbadoras, quando as pessoas estão magoadas e assustadas, é que elas podem se comportar muito mal. Muitas vezes você vê boas pessoas em seus piores momentos, e também em seus momentos mais vulneráveis."

Ela aconselha os clientes a separar as questões emocionais das questões legais. "As pessoas sentem que precisam explicar por que as coisas se romperam, às vezes. Para se justificar, elas dizem coisas que de outra forma não diriam: ‘Eu não sentia que estivesse recebendo atenção’, ou ‘ele fazia sexo com garotas de programa e aí voltava para casa e queria fazer sexo comigo’."

A maior parte de seus clientes faz alguma espécie de terapia, ela diz. “Não precisam de mim para isso. Eu digo a eles que essa é uma questão de saúde mental, e que não estou qualificada para ajudar. Meu casamento durou 14 meses, na década de 1990. Não sei grande coisa a respeito do assunto”, afirma Wasser.

Mas as histórias a fascinam da mesma maneira. “É um presente para mim, receber tanto dinheiro por hora para resolver problemas, e encontrar soluções para as grandes dificuldades. Qual vai ser a divisão de tempo na guarda das crianças, quais vão ser os pagamentos de pensão, como as propriedades vão ser divididas."

“Mas enquanto faço isso, tenho a oportunidade de ouvir aquelas narrativas. Acredito de verdade que seja importante dar a esses clientes a narrativa para seu próximo capítulo, para reforçar a mensagem de que o mundo lhes pertence, para perguntar o que eles aprenderam com a experiência e o que pretendem fazer agora”, diz Wasser.

Ela sempre os lembra sobre as realidades básicas de um casamento –quem vai sustentar a casa, quem vai tomar conta das crianças, quem servirá como anfitrião. Wasser tende a aconselhar que os casais assinem contratos pré-nupciais. “Isso estabelece uma norma para o que esperar do casamento”, diz Wasser. “O que, absurdamente, muita gente não discute."

Se tudo isso parece transacional demais, que seja. "Todo relacionamento não é, em alguma medida, uma transação?", afirma Wasser. "No passado, na época do dote, o sujeito negociava e terminava com uma esposa e duas vacas. Agora o acordo pode ser sobre quem paga o crédito estudantil de quem, e a outra pessoa se compromete a arranjar um emprego."

Ou, como é mais provável entre as celebridades que são suas clientes, “alguém diz que deve impostos sobre seu último filme, e há a expectativa de que o cônjuge cubra essa dívida”, afirma.

Hollywood persiste em se apegar ao conto de fadas, mesmo assim. "É espantoso para mim quantos de meus clientes jovens —e por jovem quero dizer com menos de 45 anos— se casaram mais de duas vezes”, diz. E eles continuam tentando. "As pessoas amam se casar", afirma Wasser, em tom mais irritado do que irônico. "E aí me procuram alguns anos depois para o divórcio."

Tradução de Paulo Migliacci.

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