Duda Beat comemora aniversário com shows na Europa e pensando em casamento
Cantora fala sobre barreiras para músicos nordestinos e carreira fora do Brasil
Cantora fala sobre barreiras para músicos nordestinos e carreira fora do Brasil
Duda Beat chega aos 32 anos nesta terça-feira (8), depois de passar os últimos meses ascendendo no cenário musical brasileiro. Foram apresentações no Lollapalooza, Coala Festival e Rock in Rio, além de parcerias com Mateus Carrilho, Tiago Iorc e Omulu. Sem falar no lançamento do primeiro álbum, “Sinto Muito”, que já tem milhares de reproduções –tudo organicamente, já que Beat é uma cantora independente e sem gravadora.
Em entrevista à Folha, a recifense faz um balanço sobre os últimos dois anos e diz que ainda vê muito chão pela frente até alcançar o sucesso. Nas palavras dela, “a ficha ainda não caiu”.
Segundo a artista, algumas barreiras ainda precisam ser enfrentadas, como a entrada nas rádios do sudeste e até suas relações internacionais –Beat espera até hoje lançar oficialmente uma versão em português de “High by the Beach”, música de Lana del Rey, que ela intitulou “Chapadinha na Praia” e foi fenômeno entre os fãs quando lançada no final de 2018. Mas, mesmo depois de tanto tempo (e apelo), continua sem resposta dos representantes da norte-americana.
Enquanto a autorização não vem, a cantora se prepara para fazer seis shows internacionais nos próximos dias –em Portugal, Espanha e Alemanha–, depois de uma passagem por Nova York em julho, que foi a primeira vez em que ela saiu do Brasil. Acompanhando-a está sempre o namorado, Tomás Tróia, de quem Beat já se considera casada e fala até em ter filhos.
Quando você se deu conta do sucesso que estava fazendo?
Na verdade essa ficha ainda não caiu. Eu nem considero que estou “estourada”, mas estou feliz que as pessoas acham isso. Eu trabalho muito, todos os dias, então meus muros estão sendo construídos tijolo a tijolo, e às vezes você nem percebe que as coisas já estão fluindo. Estou fazendo muita coisa que sempre sonhei fazer, como sair em capa de revista. Mas há vários lugares que eu ainda não fui com a minha música: o extremo Norte, o Sul, alguns estados do Nordeste… Meu maior desejo agora é trabalhar muito, tocar em vários lugares e ver rostos que nunca vi.
O que você acha dessa denominação que ganhou, “rainha da sofrência pop”?
Eu acho demais. Quer dizer, eu sabia que fazia sofrência pop, só não sabia que era rainha. Com um título de rainha, vêm muitas obrigações também. Mas desafio dado, desafio aceito.
Qual das suas músicas tem mais significado para você?
Escrevo todas as minhas músicas, e sempre falo que minha favorita é “Pro Mundo Ouvir”, porque foi a primeira que escrevi e é o início da minha história. “Eu tava lá à espera de um mar de amor”, quando um cara chegou e me balançou. Fico muito feliz e emocionada quando canto ela. Me lembra eu indo à casa de Tomás para tentar fazer músicas… Foi quando me descobri de fato compositora.
Por que você quis fazer “Chapadinha na Praia” e como foi o processo de lançamento?
Eu amo a Lana Del Rey, acho ela uma grande cantora, e comecei a brincar em casa sobre a música dela. Acabei escrevendo a letra e o Tomás adorou, então pensamos em lançar a versão. Achei que seria super fácil, porque tem um monte de versão no YouTube até sem autorização, mas eu quis ser correta e pedi a autorização para a Sony/ATV, que é quem cuida dos direitos da Lana no Brasil. E até hoje não tive uma resposta, o que honestamente eu acho um absurdo, mas não tenho muito o que fazer. Eu fui pelos trâmites legais.
Depois subi a música no YouTube, porque achei que não teria problema, e em menos de 24 horas eles pediram para eu tirar do ar, e eu tirei. Como eu fiz a parada correta, de ter pedido, eles já estavam de olho nisso e pediram para eu tirar. Eu, inclusive, não comercializei o vídeo, não ganhei dinheiro com ele porque não subi de uma forma patrocinada. Só subi para as pessoas terem a música, porque é um pedido constante. E é muito frustrante para mim não poder realizar isso. Mas, depois que subi, muita gente baixou e postou novamente a versão.
Depois de tudo isso, você tentou conversar com os representantes novamente?
A gente tenta todo mês. Monitoramos e eles falam que não têm resposta. É uma canção com muito potencial, e eu já tentei de tudo. É muito triste para mim saber que esse sistema não funciona.
Qual a mensagem que você gostaria de passar sobre o Nordeste no seu trabalho?
O Nordeste é uma região muito rica, com pessoas muito carinhosas, mas que não é muito valorizada. O nosso atual presidente já não valoriza, quem dirá as pessoas. Mas é muito doido, porque nas férias as pessoas vão para o Nordeste, mas quando um cantor de lá se lança, é difícil ser aceito. Queria que as pessoas se abrissem mais para o novo, para essa cultura que é tão rica e linda. Tenho amigos que são músicos incríveis e não se destacam no cenário musical brasileiro. É uma pena desperdiçarmos isso.
Eu fui uma nordestina na capa de revista, no Só Toca Top, no Programa da Fátima Bernardes… Então com certeza eu já ultrapassei barreiras, mas ainda há muito pela frente. Rádio é uma barreira que eu ainda não consegui ultrapassar, por exemplo, não só porque sou uma cantora independente, mas porque há certas rádios que não tocam minha música por ser brega ou por eu ter sotaque. Eu sei disso.
Você também se preocupa em passar uma mensagem política?
Minhas músicas falam muito sobre amor. A mensagem política dentro da minha canção é de empoderamento feminino, da mulher que precisa se amar e se conscientizar em não buscar felicidade no outro.
Na vida real sou muito posicionada. Sou formada em ciência política, então não consigo separar as coisas. Acho que o artista tem obrigação de se posicionar politicamente, porque somos influenciadores. E se alguém compartilha da nossa visão artística do mundo, por que não compartilhar da visão política? O que eu falei na música do Lucas Santtana é totalmente verdade: para a maioria das pessoas que moram na seca, no sertão nordestino, o Lula deu a mão. Isso é um fato, não tem como direita nenhuma questionar isso. Mas eu, por enquanto, vou falar de amor nas minhas músicas.
Você se sente esperançosa frente ao cenário político?
Eu me sinto esperançosa porque o nosso cenário se repete. Eu quero acreditar que depois dessa onda de conservadorismo, virá uma outra onda, como já aconteceu. Vai chegar um momento em que as pessoas não vão aguentar mais essa onda e vão para outra, que é mais libertária, sem preconceitos, que pensa no outro. Eu mantenho aí a minha esperança de que o nosso futuro será melhorado. Porque, realmente, o cenário atual não me agrada. É um cenário onde temos censura de livros, filmes… Um presidente que não representa todos os povos de uma nação. É um cenário que não quero para o meu filho, então vou lutar com unhas e dentes para que possamos voltar para a onda que estávamos construindo e que tivemos um golpe aí para interromper.
Você se sente pressionada por ter essa influência?
Vivo minha vida normalmente, não me sinto pressionada a nada porque tenho um público que me aceita. Honestamente, não me interessa ter um público que não me aceita como eu sou. Isso não me torna uma pessoa pedante, só sou feliz com as pessoas que entendem minha mensagem.
As pessoas me chamam muito de "fada perfeita", e eu falo que não sou, porque fada perfeita não erra. Mas "fada sensata" eu adoro, porque a sensata vê que errou e conserta. Quando eu erro, costumo rever meu erro, reavaliar e mudar. Eu não gosto muito disso de perfeição; sou ser humano, igual a todo mundo. E a pessoa não deve ser cobrada de uma coisa que não consegue cumprir.
O que você pensa sobre as críticas às variadas parcerias que fez este ano?
Estamos na era do “feat”. Tem feats que fiz puramente por amor. Muitas pessoas que me pediram feat me ajudaram muito, e estarei sempre junto a elas. Eu já provei que sou uma compositora: lancei um disco e canções que foram sucessos, coisas que eu mesma escrevi. Anitta, maior exemplo de artista aqui no nosso país, faz feat quase toda semana, mas Duda Beat não pode fazer? É fácil estar atrás de um computador e falar o que quer, de qualquer lugar.
Se pudesse fazer uma parceria com qualquer pessoa, com quem seria?
Do Brasil, faria com Ivete, que inclusive declarou que faria parceria comigo depois do show dela no Rock in Rio. A gente se conhece, ela já me chamou para cantar no trio de Salvador e em uma festa em Recife. Foi uma honra. Ela é uma das pessoas mais generosas que conheço artisticamente, uma pessoa muito boa com o próximo.
De fora do Brasil, tem um monte de gente que eu adoraria: Kendrick Lamar é um cara que eu adoro porque faz rap com melodia; Kali Uchis também, porque é uma referência para mim. E dessa nova safra, faria com a Lizzo, que é super bem resolvida como eu. Nós não temos medo de arriscar e de ser feliz.
E a Lana Del Rey?
A Lana eu amaria fazer também, de verdade. Quem sabe ela fala para gravarmos “Chapadinha na Praia” juntas? Eu sou louca por Lana, sofri muito ouvindo as músicas. Quem nunca? Acho ela demais, sinto que ela é muito gente como a gente. Só falta nos conhecermos. Tenho certeza que se ela souber da minha versão, vai adorar. É minha opinião… Mas pode ser que eu esteja errada.
Nos próximos dias você se apresenta em palcos internacionais. Como estão suas expectativas?
Fiz um show em Nova York, no Brasil Summerfest, e fui muito bem recebida por lá. Tinham muitos brasileiros e muitos americanos também. Fui com uma só data só e acabei fazendo dois shows lotados. Foi demais, gastei dinheiro até onde não devia, comi pra caramba... Ano que vem quero ir de novo.
Agora eu recebi esse convite para Portugal –Lisboa [31/10 e 1º/11], Vila Nova de Famalicão [2/11] e Porto [3/11]–, e acabei marcando para Madrid [6/11] e Berlim [9/11]. A gente vai ver se marca uma data também em Barcelona, porque estarei lá em alguns dias, e aí já aproveitaria. Acho que Lisboa será muito especial, porque já esgotou a primeira data e haverá uma segunda.
Estou tão feliz, porque nunca fui para esses lugares. Na verdade, antes de Nova York eu nunca tinha saído do país. Era uma trabalhadora do Brasil que nunca tinha dinheiro para ir para fora.
Você sabia que tinha fãs fora do Brasil?
Depois que voltei de Nova York, vi pelo meu Spotify que o segundo país que mais me escuta é os Estados Unidos. Portugal é o terceiro. Vi que tinham 20 mil pessoas nos Estados Unidos me consumindo, e isso já lota um show. A partir daí, comecei a me interessar e ficar meio viciada em saber quem está me ouvindo –tem uma galera até em Londres. Isso foi me incentivando a querer marcar shows nessas cidades.
Já pensou em morar no exterior?
Eu adoraria morar fora, mas eu amo o Rio de Janeiro e tem muita coisa para fazer aqui antes de pensar nisso. Quem sabe quando eu tiver uns 50, 60 anos… Quando você viaja, sente falta da sua terra. Ninguém é como o brasileiro. Eu penso em morar fora pela experiência, para praticar meu inglês, mas agora não penso nisso.
Você faz aulas de inglês pensando em lançar carreira internacional?
Não só, mas para isso também. Fiz inglês quando eu era criança, mas precisei sair por conta do valor. Quem sabe algum dia eu faço uma música em inglês e vira hit mundial? A gente pode sonhar... Com certeza devo fazer alguma coisa mais para a frente, mas ainda está muito cedo para pensar nisso. Preciso saber inglês principalmente para me comunicar quando viajar, saber perguntar e me virar. Acho que meu curso é para expandir meus horizontes. Vamos supor que amanhã eu conheça a Beyoncé, como vou me comunicar com ela? Ou o Kendrick Lamar?
Além disso, eu gosto de estudar. Desde que me formei, não estudava nada, e isso me fazia falta. Passei sete anos estudando medicina e não entrei, depois mais quatro anos na faculdade… Ler é uma coisa que me estimula muito. Se você entrar no meu quarto, vai ver que só tem livros. E gosto de fazer provas, por isso acho que tenho que ir ao cursinho e trocar com outras pessoas, ao invés de fazer aulas particulares.
Já está preparando um segundo CD?
Sim. Já estamos na segunda música, mas é um processo bem demorado, e acho bom que seja assim. É ideal lançar disco de dois em dois anos. Esse segundo álbum será na mesma pegada [do anterior]. Costumo falar que álbum precisa contar uma história, ter uma narrativa, e esse disco vai ser sobre uma Duda que ainda sofre, mas pouco. Que sofreu, mas que hoje em dia está feliz. O fio da meada vai ser uma transição desse sofrimento para a Duda que encontrou um novo amor. E nada impede que em um terceiro disco eu fale sobre sofrência de novo, não porque eu esteja sofrendo, mas porque eu já sofri demais.
Você namora há quanto tempo?
Completamos três anos no dia 1º de dezembro e eu estou completamente apaixonada. Fico brincando que estou esperando um anel dele, gritando aqui em casa: “É número dez”.
Já somos "casados”, porque a gente mora juntos, mas acho que um dia a gente vai formalizar isso. Eu quero convidar os amigos e fazer uma festa boa. Esse dia vai chegar, sonho com ele.
E ter filhos?
Agora estou na fase de focar no que estou fazendo, mas daqui a uns cinco anos eu gostaria de ter filhos. Até brinco que vou ter gêmeas, e serão duas meninas.
O seu estilo também é bastante marcante. Você sempre gostou de moda?
Amo moda desde criança. Eu ficava vendo minha mãe se arrumando e colocava salto alto para ficar "me achando" também. Sou libriana, então gosto de estética.
Em quem você se inspira para se vestir?
Ninguém em específico. Tive a sorte de encontrar no meu caminho o meu stylish maravilhoso, Leandro Portos, e acho que quando ele me veste, se inspira em mim, no que eu canto e escrevo. As mangas bufantes e o cabelo maior condizem com o romantismo, com essa coisa de princesa.
Talvez no segundo disco eu já esteja mais em transição, mas é legal quando a moda anda junto com a sua arte. Não existe regra: a moda é para você se sentir bem, se sentir feliz. Por isso em um dia eu apareço de balão, e em outro como uma noiva… É divertido, e eu acho muito legal ver que o meu público espera pelos meus looks.
Em casa, costumo me vestir muito leve. A maioria do tempo estou com roupas de ginástica, porque estou sempre transitando entre a academia, aula de inglês e aula de canto. Mas eu gosto de me arrumar, ir para a frente do espelho e me maquiar. Gosto de ficar pensando na minha roupa para uma festa, quando tenho tempo. Acho que por isso tenho tanta vontade de ter uma menina, para poder fazer dela uma boneca, colocar laço na cabeça e tudo.
Qual peça você tem que ter no guarda-roupas?
Casacos. Sou viciada neles –e olha que eu venho do Nordeste e moro no Rio de Janeiro. É a peça que eu mais tenho. E gosto de usar em todas as cores, sou muito colorida. Mas estou na fase do “rosa pink”, que é a minha cor do momento. Também adoro um look todo preto, fica bonito com o cabelo loiro.
Você se preocupa com críticas sobre as roupas usadas nos shows?
De jeito nenhum. A pessoa precisa vestir e sustentar. Se vou entrar como um bolo em cima do palco, tenho que sustentar. E para mim não é difícil. Faço o que eu quero, uso o que eu quero. É gostoso ter essa liberdade, e acho que todo mundo tem que ter ela. Não tem essa de que "quem é mais gordinha não pode usar barriga de fora". Pode sim. Se você se ama e é bem resolvida com isso, você veste o que quiser. Um shorts curto, por exemplo, é um problema muito mais do machismo do que da mulher. São eles que precisam se educar e respeitar as mulheres. Cada dia mais a gente tem que estar bem com a gente mesmo, aceitar o corpo que Deus deu para a gente e ser feliz. Mas sobre mim especificamente, eu não estou nem aí, podem falar mal. Quem quiser me consumir eu vou amar, quem não quiser, tá tudo certo.
O que você quer concretizar nesse novo ano de vida?
Pretendo fazer um segundo disco com muito amor e que as pessoas curtam. É uma grande responsabilidade, porque tive um primeiro disco que foi muito bem-sucedido organicamente.
Queria também que as pessoas fossem felizes, que existisse menos violência no mundo, e que nossos governantes pensassem em todas as pessoas com suas especificidades. Fico até com vontade de chorar, porque vivemos em um país tão desigual, com muita gente tendo pouco e pouca gente tendo muito. Acho que tem que haver uma distribuição de renda para as pessoas, além de educação. Há tanta gente com sonho de entrar em uma faculdade, e essas pessoas tem que ser ouvidas. Se eu pudesse pedir a Deus um presente de aniversário, seria que as pessoas vivessem bem.
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