Celebridades

MC Carol diz que era chamada de 'macaca' e que cresceu com medo de brancos

Cantora foi trancada na escola e ensinada a não ficar perto de outras bolsas

A funkeira fluminense MC Carol, de "Delação Premiada"
A funkeira fluminense MC Carol, de "Delação Premiada" - Divulgação
 
 
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São Paulo

A cantora MC Carol usou o Twitter neste domingo (17) para relatar diversos casos de racismo que sofreu ao longo da vida. 

"Eu cresci sofrendo rascismo e gordofobia, mas o racismo sempre foi mais pesado. Eu era chamada de 'macaca' e 'cabelo de Bombril' quase todos os dias. Eu cresci com medo, medo de brancos, de entrar em 'ambientes brancos'", disse ela, em uma série de tuítes.

"Depois de tantos anos eu ainda tenho alguns receios, como entrar em um restaurante caro, por exemplo. Meu receio faz sentido, porque o racismo nunca esteve tão vivo. Talvez esteja mais indireto, mas ainda existe."

MC Carol também relatou o preconceito que sofria dentro da escola onde estudava. "Fui trancada no banheiro por meninas brancas. Já postei sobre isso e fui questionada por lembrar disso tão pequena, deve ser porque, quando dói muito, marca".

"Eu saí de casa feliz com meu avô e, quando meu avô foi me buscar, eu pedi socorro, chorando. Cheguei em casa, logo no primeiro dia, não querendo nunca mais voltar naquele lugar."

"Eu saí da creche da comunidade e fui para um colégio em que a maioria não era de comunidade, não vestiam roupas simples, não calçavam sapatos simples e não tinham mochilas simples iguais às minhas. Eles me olhavam com nojo, implicavam com tudo, principalmente com minha mochila e o meu cabelo".

Segundo a cantora, quase não havia negros no colégio e, desses poucos, a maioria já tinha uma "mente racista". Ela diz que apenas cinco pessoas a tratavam bem na escola, incluindo o porteiro, que tentava evitar que apanhasse na saída da escola.

Carol também lembrou um caso em que venceu um desafio para ser a noiva da festa junina da escola, junto a um colega loiro. "Minha vó, com todo carinho, mesmo sem dinheiro, pediu pra fazer esse vestido. Eu estava muito feliz até chegar ao colégio e descobrir que o noivinho não ia aparecer, porque ele queria dançar com outra menina da sala. Como eu era a única negra da turma, eu entendi tudo."

A cantora ainda disse que chegou a ser xingada e quase foi expulsa de um táxi ao acompanhar uma mulher branca e estrangeira no Rio de Janeiro, dentre outros casos.

"Foi ensinado para mim a sempre ter medo por ser negra e por ser mulher. A ter medo de aceitar coisas de homens, principalmente carona, a ter medo de andar a noite na rua, principalmente de roupa curta, a ter medo de ficar perto da bolsa ou dinheiro de alguém pelo fato de ser negra"

Por fim, a cantora relembrou a morte de Pedro Gonzaga, o jovem que morreu sufocado por um segurança do Extra no Rio de Janeiro na última semana. "Isso não é coincidência, isso é racismo, e racismo mata! Não existem chacinas com meninos loiros. Homens brancos de olhos azuis não são presos e mortos porque foram confundidos. Isso é um absurdo! Nossas vidas importam! Vidas negras importam!"

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