Cristiana Oliveira diz que não depende da TV para viver confortavelmente: 'Sou meio camaleoa'
'O olhar do outro me importa, mas não deixo de ser quem sou', afirma
De seus 20 anos até os 54, quase tudo mudou. A insegurança e a inconsequência transformaram-se em maturidade e equilíbrio. A fama conquistada com papeis icônicos como Juma (Pantanal, TV Manchete, 1990) e Selena (Corpo Dourado, Globo, 1997-1998), que atraía fãs alvoroçados, aos poucos deu lugar a um approach mais tranquilo.
A singularidade do olhar, entretanto, continua a mesma. Cristiana Oliveira tem um furacão no lugar dos olhos. Eles não passam despercebidos em lugar algum. A atriz conversou com F5 sobre seus novos projetos pessoais, seu afastamento da televisão, de como pretende envelhecer, política e uma biografia sobre sua vida.
MARCA REGISTRADA Sou uma mulher forte e determinada. Meu olhar é muito expressivo, mas o porquê disso eu não sei. Soube usá-lo muito bem. As pessoas sentem minha verdade no olhar. É engraçado isso. Não preciso nem fazer tantas expressões, porque com os olhos consigo transmitir bastante do que quero. Todo mundo fala do meu olhar. Ele parece até meio estrábico, mas não tenho estrabismo. Tenho a pele de um olho maior que a do outro, que dá essa impressão. É a marca que tenho. Nunca vou mudar, mesmo velhinha.
VINTE ANOS DE SELENA Foi uma das personagens que mais amei fazer. Lembro de uma vez que estava na cidade cenográfica, sentada na madeira de uma carroça, e comecei a pensar: ‘Nossa, sou tão feliz com o meu trabalho... Amo essa personagem”. Fiz a Selena com afinco, paixão e determinação. Foi em 1998. Eu tinha oito anos de profissão e já tinha feito alguns trabalhos. Ela foi uma personagem, de certa forma, próxima da Juma. Não deu para fugir muito. Era uma peoa, uma mulher que não tinha muita educação, meio masculinizada. Não que Juma fosse, mas tinha esse lado. Muita gente dizia que Selena lembrava ela. Não compus Selena para ser a Juma 2, mas tinha uma coisa de força, de natureza, de amor aos animais. E mesmo assim acho que as pessoas que viram Pantanal puderam diferenciar. Não foi uma revisitação.
FAMA Há 29 anos tenho essa vida de não passar despercebida. Para crianças sou uma anônima, mas dos adolescentes para cima sou conhecida em qualquer lugar que eu vá. [...] Sempre fui muito natural. Nunca me escondi. No máximo colocava um óculos. Usei disfarce uma vez só, quando fiz uma personagem evangélica. Fui numa igreja imensa de peruca preta com franjinha. Mesmo assim, me reconheceram [risos]. Hoje em dia, como estou há um tempão fora da TV, que é a maior mídia de massa, caminho na rua tranquila. Quando as pessoas vêm falar comigo, sinto nelas uma emoção muito grande. Tem uma coisa familiar e emotiva nesse "approach". Minha fama hoje é muito mais profunda e tem muito mais respeito como uma veterana. Não me olham simplesmente como uma pessoa da TV. Esse respeito que as pessoas têm por mim, pela minha história, pelo que falo, tem muito valor. Não estou naquela fase de sair na rua e ser assediada a cada metro quadrado. Isso existiu na época de Juma, ou quando estava fazendo alguma outra protagonista. Minha fama hoje está em equilíbrio. É gostosa.
AFASTAMENTO DA TV Foi natural. Sou apaixonada pela interpretação e isso nunca parei de fazer. Estou no meu quinto longa em um ano e meio [“Eu sou Brasileiro”, “Borderline”, “Paixão Nacional”, "Uma carta para Ferdinand" e “Os Suburbanos”]. Com relação às emissoras de TV, de repente não estou encaixando em alguma personagem. Não fico preocupada com isso. Acho que eles têm toda a liberdade de chamarem quem quiserem. Sou extremamente empreendedora e não dependo da TV para viver confortavelmente. Eu não paro. Sou meio camaleoa. Hoje as minhas atividades como empresária [a atriz é sócia-diretora da marca de cosméticos profissionais para cabelos D’Bianco e é dona C.O Joias de Prata] e palestrante [sobre empoderamento, relacionamentos e autoestima] ocupam mais tempo da minha vida que a interpretação. Amo TV, mas por enquanto ainda não surgiu convite bacana para a gente se unir de novo. Sempre me dei muito bem em todas as emissoras. É uma questão circunstancial mesmo.
HOBBY QUE VIROU TRABALHO Gosto muito de cabelos e sempre cuidei dos meus. Fui chamada no começo desse ano para conhecer uma marca nova de produtos vendidos ao público através de profissionais de beleza nos salões. Eu me apaixonei tanto pela linha que resolvi investir e me tornei sócia-diretora da D’Bianco. Acompanho tudo. Estou em todas as áreas.
AMADURECIMENTO EMOCIONAL Tudo mudou em mim. A maturidade é um grande presente que a vida nos dá. Começamos a perceber que a vida realmente é finita. Quando você é jovem, vê a finitude muito de longe, mas quando chega a certa idade vê que está mais perto da morte. Não falo de forma trágica, e sim realista. A vida passa a ter um valor incomensurável. [...] Não é que as coisas sejam calculadas, mas atingi um equilíbrio e uma inteligência emocional que fazem minha vida funcionar de forma muito mais positiva do que quando eu tinha 20 ou 30 anos, quando era mais emotiva, colocava tudo para fora, me jogava do vigésimo andar achando que tinha um colchão lá embaixo. Eu era meio inconsequente. Hoje, não.
ACEITAÇÃO Eu me aceito completamente. Naquilo que não me aceito, tento melhorar. A partir do momento que aquilo não me incomoda, posso permanecer e aceitar essa condição como uma característica e não como um defeito. Não só esteticamente, como em relação a minha personalidade. O olhar do outro me importa, principalmente das pessoas que amo, mas não deixo de ser quem eu sou por causa de uma crítica negativa. Sou muito feliz do jeito que sou.
EFEITO SANFONA Isso foi quando eu era muito jovem. Não tinha essa percepção de que eu tinha que agradar a mim e melhorar para mim. Só me sentia bem se o outro me aceitasse. Era insegura, com uma autoestima muito baixa. Fui rejeitada pelo meu primeiro namorado, aos 16 anos, e aquilo foi motivo para eu entrar em depressão e começar a comer. Depois de começar a engordar, vi que a rejeição não era só dele, mas da sociedade. Aquilo começou a me fazer muito mal. Resolvi emagrecer, mas foi de uma forma um pouco agressiva. Até encontrar o equilíbrio, demorou.
PADRÕES Entendo quando vejo essa quantidade de adolescentes angustiadas, sofrendo bullying por não se encaixarem em padrões. Meu pensamento com 30 anos de idade seria completamente diferente do que digo atualmente. Hoje, meu discurso é esse porque é o que exercito todos os dias para ser uma pessoa equilibrada.
HATERS Eu vivi a época sem eles e agora com eles, nesse mundo cibernético. É muito confuso tudo isso. É tanto comentário, tanta opinião, tanta gente falando, que pelo amor de Deus. Temos que ser fortes e bem orientados para lidar com isso. As pessoas são incapazes de se resolverem. Estão sempre olhando o outro como uma forma de colocar para fora o ódio que sentem. Fazem essa projeção. A pessoa olha uma mulher muito bonita e pensa: 'filha da puta, que ódio, mulher bonita pra caralho'. Aí vai lá e comenta: 'seu nariz é muito grande, você está gorda, está magra demais'. E na verdade ela adoraria ser uma mulher dessa.
VELHICE Entendo que meu corpo é diferente e o metabolismo também. Vou fazer 60 anos daqui a algum tempo. Já sou uma senhora. Tenho resistências no corpo, dor nas costas, não tenho mais o fôlego que eu tinha antes. Vou tentar melhorar o máximo que eu puder a minha qualidade de vida sem que isso me agrida. Quero ser uma senhora com saúde. Quero estar na praça fazendo exercícios. Sem preconceitos, mas não quero ser uma velha curvada, travada. Vejo gente da minha família que porra… São mulheres que tem 95 anos e são chiquérrimas, longilíneas. Quero ser assim. Quero exercitar cabeça e cérebro, fazer muita palavra cruzada, evitar ao máximo ter Alzheimer. Minha preocupação com o futuro é ter uma velhice saudável e ativa. Quero viajar com minhas amigas, rir do passado, fazer dança de salão.
POLÍTICA Vivemos em um buraco de falta de educação e isso é muito perigoso. As pessoas ficam altamente influenciáveis e procuram aquilo que vai agradar de forma instantânea. [...] A maneira como o candidato se apresenta e apresenta suas propostas, dependendo da carência daquele ser humano, fará com que ele consiga esses votos. Eu mesma como eleitora fico confusa. Você coisas positivas em alguns candidatos, coisas negativas em outros… [...] Penso na melhoria do Brasil, não só na melhoria da minha vida. O Brasil melhorando, tudo melhora. A economia, a saúde, a educação.
BIOGRAFIA. Tenho um projeto de fazer um monólogo em cima de alguns capítulos que eu já escrevi sobre a minha vida. A ideia é contar a história de forma divertida. Deve sair no segundo semestre de 2019. O livro, em si, deu uma estacionada.
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